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Acadêmico critica postura da ANS em carta ao jornal O Globo

Nesta sexta-feira, 19 de julho, o jornal O Globo publicou parte da carta enviada pelo Acadêmico Renato Cordeiro. Na carta, ele criticou a postura da Agência Nacional de Saúde (ANS) em medir forças com a Presidente do Superior Tribunal Federal, ministra Carmen Lúcia.

Recentemente, a ministra barrou a decisão do diretor da ANS, Rodrigo Aguiar, que permitia que os planos de saúdes cobrassem até 40% do valor de consultas e exames em regimes de coparticipação e franquia. Após decisão, Rodrigo Aguiar mediu forças com o STF, dizendo que manterá a nova regra, alegando que não foi apontada nenhuma ilegalidade ou inconstitucionalidade.

Na prática, essa nova medida significa que, se uma pessoa precisar fazer, por exemplo, uma ressonância nos pulmões – exame que custa cerca de R$700,00 -, o plano pode exigir que ela pague até R$280,00 para realizar o exame, além da mensalidade de contratação do plano. Dependendo do número e/ou tipos de consultas/exames, o valor pago pelo cliente pode mais que duplicar.

Vivemos um momento muito delicado em nosso país, quando diretores de Agências que deveriam proteger a população passam a atuar a favor das grandes corporações da saúde”, lamenta o Acadêmico. “É um momento de resistência cívica. Devemos apoiar a Presidente do STF em sua decisão, assim como a ABC e a SBPC têm atuado contra os lamentáveis cortes no orçamento nas áreas da Ciência, Tecnologia e Inovação.”

Ex-afiliados da ABC recebem prêmio de neurociência

Flávia Gomes e Stevens Rehen na cerimônia de recebimento do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência

Na última quarta-feira, 11 de julho, o auditório do Museu da Vida, em Manguinhos, foi palco da cerimônia de entrega do 1º Prêmio Internacional Fiocruz Servier de Neurociência. O prêmio possui duas categorias, “Neurociência e infecção por Zika vírus” e “Neuroinflamação e distúrbios de neurodesenvolvimento”, e reuniu um conceituado comitê científico para avaliação dos projetos inscritos, formado por especialistas da área de saúde de instituições de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, França, Argentina e Uruguai.

Os ganhadores são dois ex-membros afiliados da ABC, a pesquisadora Flavia Gomes (membro afiliado entre 2011 e 2015), do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e Steven Rehen (2008-2012), pesquisador da UFRJ e do Instituto D’or. Flávia foi a premiada na divisão de distúrbios de neurodesenvolvimento e receberá com 120 mil euros (aproximadamente, R$ 543 mil), divididos em três anos, e Stevens receberá 30 mil euros (aproximadamente, R$ 136 mil), na divisão sobre Zika vírus.

Zika vírus e Microcefalia

Rehen iniciou a pesquisa em 2016 e identificou, de forma inédita, a relação entre a presença do vírus Zika e o desenvolvimento de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas durante a gestação. Para mostrar esta relação, a equipe liderada por ele utilizou organoides cerebrais, também conhecidos como minicérebros, que são um modelo importante para estudar o desenvolvimento do sistema nervoso central humano. “Células epiteliais foram retiradas da urina de voluntários e, em laboratório, fizemos com que voltassem ao estágio de células-tronco embrionárias, isto é, um estágio em que elas têm o potencial de se transformar em qualquer tipo celular. Depois, demos instruções a essas células para que se tornassem células do cérebro”, explica o cientista. As células foram cultivadas por cerca de dois meses até formarem pequenos aglomerados de cerca de cinco milímetros. Embora não possuíssem a complexidade de um cérebro humano formado, os organoides eram suficientes para fornecer pistas valiosas sobre o desenvolvimento cerebral. Quando infectados pelo vírus Zika, os minicérebros tiveram seu crescimento comprometido.

Esta pesquisa faz parte de um esforço colaborativo entre o Instituto D’Or, a UFRJ, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outras instituições para compreender o vírus Zika e seus impactos sobre a saúde humana. O trabalho contou com apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, da Fundação Capes, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da organização norte-americana Pew Charitable Trusts.

Novas terapias para doenças neurais

O grupo de pesquisa coordenado pela Profa. Flávia Gomes estuda como as células gliais contribuem para o desenvolvimento do cérebro e para o aparecimento e progressão de doenças do sistema nervoso. Para isso, o grupo tem utilizado diferentes abordagens experimentais, incluindo cultura de células humanas e de roedores e modelos experimentais pré-clínicos de doenças. O grupo demonstrou de forma inédita que astrócitos humanos, um tipo de células gliais conhecidas por dar suporte metabólico aos neurônios, ajudam a regular a formação das conexões neurais através da produção de uma série de moléculas. Mais recentemente, o grupo demonstrou, de forma pioneira, que disfunções astrocitárias estão associadas a diversas doenças, incluindo Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, encefalopatia séptica, dentre outras. Atualmente, o grupo busca manipular as vias de sinalização dos astrócitos e suas funções como uma nova perspectiva para orientar a busca de novos alvos terapêuticos para doenças neurais.

O trabalho envolve a colaboração entre diversos grupos de pesquisa do Brasil com o objetivo de entender o papel das células gliais no desenvolvimento e doenças do sistema nervoso. O trabalho contou com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Medicamentos contra o câncer

O evento também celebrou a assinatura do termo de cooperação técnico-científica para pesquisa de produtos naturais. A Servier e Fiocruz desenvolverão em conjunto um plano de trabalho que visa identificar compostos bioativos contra o câncer. As unidades da Fiocruz envolvidas neste projeto são o Instituto René Rachou (IRR), em Minas Gerais, e o Instituto de Tecnologia em Fármaco (Farmanguinhos), no Rio de Janeiro, que mantém uma extratoteca com amostras de produtos de origem natural de plantas, fungos, entre outros com potencial para o desenvolvimento de medicamentos inovadores sintéticos e semi-sintéticos.

10 anos da Rede Nacional de Física de Altas Energias

Em seu 10º aniversário de criação, a Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae) ‒ que coordena as atividades dos grupos de pesquisadores brasileiros que atuam nessa área e, em particular, aquelas associadas às grandes colaborações internacionais ‒ promove encontro nos dias 30 e 31 de julho, no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).

A ideia é fazer o balanço de suas atividades nesta década e avaliar os mecanismos de financiamento para as atividades relacionadas ao trabalho em laboratórios internacionais. Será também a oportunidade para planejar o futuro dessa área, que engloba de partículas elementares a astrofísica, passando por estudos da antimatéria e radiação cósmica.

Além de duas plenárias, haverá a apresentação de aproximadamente 50 trabalhos. Espera-se um público em torno de 150 participantes.

Sobre a Rede Nacional de Física de Altas Energias (Renafae)

A rede foi criada em 2008, pelo então Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Seus objetivos envolvem:

  • A promoção do avanço científico e tecnológico da investigação das propriedades das partículas e suas interações fundamentais no país.
  • A consolidação e ampliação da pesquisa em física de altas energias, expandindo a capacitação científica e técnica necessária para explorar os benefícios resultantes dos desenvolvimentos associados e suas implicações tecnológicas.
  • O desenvolvimento de um programa de mobilização de empresas instaladas no Brasil para atuar no desenvolvimento da instrumentação e do software para as colaborações internacionais da área.
  • A coordenação das atividades dos grupos atuantes em física de altas energias e, em particular, as atividades associadas às grandes colaborações internacionais.

Fazem parte do Conselho Técnico-Científico da Renafae: Eduardo de Moraes Gregores (UFABC), Gilvan Augusto Alves (CBPF), João Torres de Mello Neto (UFRJ), José Manoel de Seixas (Coppe/UFRJ), Marcelo Gameiro Munhoz (USP), Ricardo Avelino Gomes (UFG), o Acadêmico Ronald Cintra Shellard, diretor do CBPF, e Sérgio Ferraz Novaes (IFT/Unesp).

Riqueza e bem-estar

Hoje, o Brasil conta com pouco mais de 120 pesquisadores, de 15 instituições, envolvidos diretamente em grandes colaborações internacionais nesse campo – se incluídos técnicos e estudantes, esse número chega à casa de 200 colaboradores. Além disso, há, no país, cerca de uma centena de físicos teóricos que se dedicam à área de altas energias.

O Brasil participa de várias dessas colaborações internacionais em laboratórios na Europa, nos EUA, na Argentina e, mais recentemente, no Chile. Pesquisadores brasileiros estão nos quatro grandes detectores (Atlas, CMS, Alice e LHCb) do acelerador de partículas LHC (Grande Colisor de Hádrons), bem como no Alpha ‒ este último sobre antimatéria ‒, todos experimentos no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), com sede em Genebra (Suíça).

O país está também presente no Laboratório Auger, sobre radiação cósmica (Argentina); no DUNE, que estuda neutrinos (EUA); e no CTA, que busca fontes de raios gama no cosmo (Ilhas Canárias e, provavelmente, Chile).

Os trabalhos nesses laboratórios se dão de forma colaborativa: diversas instituições de pesquisa, de diferentes partes do planeta, se organizam para trabalharem juntas, com objetivos científicos bem definidos. São grandes projetos que buscam expandir a fronteira do conhecimento na ciência fundamental.

Boa parte dos avanços gerados por essas colaborações internacionais – os quais geralmente se transformam em riqueza para as nações e bem-estar para a população – é feita em parceria com empresas privadas de alta tecnologia. Não raramente, inovações e desenvolvimentos obtidos por grandes colaborações científicas internacionais acabam empregados em equipamentos e serviços do cotidiano, como celulares, computadores, internet, redes sem fio, carros, aviões, refrigeradores etc., gerando produtos mais modernos, de menor consumo energético e melhor qualidade.

O Brasil tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento de novas tecnologias para esses projetos científicos internacionais. Quatro exemplos emblemáticos são o chip Sampa, para o sistema de detecção do Alice (CERN); a placa para teste da nova eletrônica empregada no detector LHCb (CERN); o sistema de filtragem online de elétrons do Atlas (CERN); e o Arapuca, armadilha que aprisiona luz, usada no DUNE (Universidade Stanford e Fermilab, ambos nos EUA).

Ônibus e caminhões são 5% da frota, mas respondem por metade da poluição

Ônibus e caminhões são responsáveis por cerca de metade da poluição atmosférica da região metropolitana de São Paulo, apesar de representarem apenas 5% da frota veicular, segundo um estudo publicado ontem. O trabalho faz uma dissecação inédita dos poluentes que contaminam o ar da metrópole paulistana, permitindo separar o que foi emitido por veículos pesados, com motores a diesel, daquilo que foi gerado por veículos leves, como carros e motos.

Os resultados apontam para a instalação de filtros no escapamento dos ônibus como uma opção simples, rápida e barata de redução da poluição atmosférica na cidade. “As soluções existem, e não custam caro; mas são necessárias políticas públicas coerentes de longo prazo para serem implementadas”, diz o pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade São Paulo (USP), que assina o estudo com outros seis cientistas brasileiros, na revista Scientific Reports.

Segundo ele, há filtros no mercado que reduzem a emissão de poluentes dos ônibus em até 95%, a um custo de R$ 10 mil a R$ 20 mil por veículo. Só a cidade de São Paulo tem 14,5 mil ônibus, o que implicaria custo de até R$ 300 milhões. “Mas quanto vale a vida das milhares de pessoas que morrem ou ficam doentes todos os anos por causa da poluição?”, indaga Artaxo. Essa poluição pesada causa e agrava sobretudo problemas vasculares e respiratórios.

A aposentada Aparecida Pechini, de 69 anos, conhece bem o problema. Na casa dela, na Vila Leopoldina, zona oeste, “todo mundo” tem algum problema respiratório, como rinite ou tosse. “Está sempre muito poluído”, diz. Enquanto falava à reportagem, ela lavava o piso da garagem de casa, no qual se acumulava a fuligem preta. “Está vendo? De vez em quando tem que jogar água, senão não resolve. Chega a ficar oleoso”, relata. “Moro aqui há mais de 40 anos, e não era assim tão poluído o ar. Agora está pior.”

O assessor jurídico Roberto Marques, de 66 anos, também aponta a fuligem como um problema e descreve a situação como “péssima”. A garagem da sua casa, separada da rua apenas por um portão de ferro, é lavada todos os dias e, mesmo assim, as patas da cachorrinha da família ficam pretas. Com pelagem branca, a cadela costumava tomar banho a cada 15 dias, no máximo uma vez por semana. Ultimamente precisa ser ao menos limpa todos os dias. “É muita poluição, ao extremo.”

Essa fuligem é o que os pesquisadores chamam de “black carbon”, que é a “fumaça preta” expelida pelos escapamentos dos ônibus. Segundo o estudo, 47% dessa fuligem presente no ar paulistano é produzida pela combustão ineficiente de diesel nos motores de ônibus e caminhões que circulam pela Grande São Paulo.

“Foi surpreendente ver o papel dos veículos pesados”, diz o pesquisador Joel Brito, que fez o estudo na USP e hoje está na Universidade Clermont Auvergne, na França. “Eles têm um papel relevante em todos os poluentes que a gente analisou.” As emissões mais expressivas foram de material particulado, benzeno e tolueno – todos altamente tóxicos.

A pesquisa tem por base três meses de amostragem contínua do ar de São Paulo no topo de um prédio da Faculdade de Saúde Pública da USP, na Avenida Dr. Arnaldo, que faz parte do chamado “espigão da Paulista”, região mais alta do centro de São Paulo. Nesse ponto, apesar do maior tráfego de ônibus, é possível encontrar o ar que sobe de outras regiões. Do ponto de vista analítico, o grande diferencial foi usar o etanol como um “traçador” para diferenciar as emissões de veículos leves e pesados – já que apenas carros e motos utilizam etanol.

Segundo os cientistas, é a primeira vez que um estudo faz esse tipo de caracterização da poluição em “condições reais”. Normalmente, as estimativas são feitas com base em extrapolações de medidas de emissão em laboratório.

Trilhos

Especialistas também citam a expansão da malha ferroviária como peça-chave para a redução da poluição do ar em São Paulo, pelo fato de reduzir o número de veículos no asfalto. “O número de linhas de metrô ainda é pequeno, comparado a outras cidades de grande porte”, aponta Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, coordenador do curso de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.

Ele também critica o baixo custo de venda do óleo diesel. “O empresário conta no papel e não vê vantagem em colocar energia mais limpa”, diz. “O nosso transporte é baseado em decisões do século passado.”

Os veículos de médio e grande porte da frota de ônibus da cidade de São Paulo tem idade de 6 anos e 1 mês, segundo informações da São Paulo Transporte (SPTrans). A Secretaria de Mobilidade e Transportes destaca a lei municipal aprovada em janeiro que dá prazos para a redução de poluentes.

Para entender

Estudo sobre o Rodoanel, divulgado pelo Estado em abril, mostrou que os cientistas estimam que, a cada 100 a 200 veículos pesados que deixam de circular na cidade, evita-se uma morte por ano ligada à poluição do ar. Um estudo de 2016 do Banco Mundial põe a poluição como a quarta causa de morte prematura no mundo.

Prefeitura tem 1 ano para fazer estudo de redução de emissões

No dia 17 de janeiro, o ex-prefeito João Doria (PSDB) sancionou a Lei 16.802/18, que dá prazos para a redução de poluentes para veículos de transporte público e de coleta de resíduos sólidos urbanos e hospitalares na capital paulista. O texto, impõe, por exemplo, prioridade na expansão da frota de trólebus.

No caso do dióxido de carbono (CO2), a redução da emissão deve ser de 50% até 2028 e de 100% até 2038. Já o óxido de nitrogênio e o dióxido de nitrogênio (NO2 e Nox) devem ser reduzidos em 80% nos próximos 10 anos e, em 95%, em até 20 anos. Por fim, a lei ainda determina a diminuição na emissão de material particulado (incluindo fuligem) em 90%, até 2028, e em 95%, até 2038.

Anteriormente estava em vigor a Lei 14.933/09, que instituiu a Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo, determinando que a frota do transporte público deveria fazer a troca progressiva dos combustíveis fósseis até chegar a 100% dos veículos movidos a energia renovável não fóssil já em 2018.

Agora, a Prefeitura tem até julho do próximo ano para apresentar um “estudo dos cenários possíveis de redução de emissões da frota, mediante a implementação de uma rede abrangente de corredores com operação avançada e com prioridade para os veículos que operam em canaletas segregadas”.

Anais da Academia Brasileira de Ciências lançarão volume especial em parceria com a SBPMat

aabc-sbpmatOs Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat) lançarão o volume especial “Materials Sciences for a Better Future”.

Segundo o editor, Frank Crespilho {ex membro afiliado da ABC], professor do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP) e membro da SBPMat, esta é uma grande oportunidade para se comemorar o sucesso das pesquisas na área de Materiais no Brasil. Crespilho ainda acrescenta que o tema do especial está em sintonia com o título da palestra memorial que o Acadêmico Fernando Galembeck ministrará no XVII Encontro da SBPMat, um evento que será realizado no Praiamar Natal Hotel em Natal (RN), de 16 a 20 de setembro de 2018. Também, esse volume especial faz parte da continuação das comemorações do centenário da Academia.

Os sócios da SBPMat e pesquisadores em geral poderão submeter seus trabalhos originais completos pelo site da revista no Scielo, de 9 de agosto a 9 de novembro de 2018, indicando na submissão e na Cover Letter sua participação no volume especial.

As publicações dos AABC não têm custo para os autores e podem ser acessadas livremente. Os AABC têm se engajado na publicação de volumes especiais, contemplando todas as áreas das ciências. Recentemente, a revista publicou artigos para o especial “Brazil: Frontiers of Chemical Sciences”, que podem ser acessados livremente aqui.

Academias das Américas discutem contribuições para a implementação da Agenda 2030

Em parceria com a Rede Global de Academias de Ciências (IAP-Science, na sigla em inglês), a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) realizou nos dias 29 e 30 de maio, na Cidade do México, o primeiro de uma série de quatro workshops regionais – os demais serão na África, Ásia e Europa – que têm por objetivo mobilizar e estimular lideranças das áreas de ciência, medicina e engenharia para que contribuam no processo dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Contando com a participação de representantes de Academias de Ciências de 17 países da região, o evento buscou propiciar a seus participantes uma melhor compreensão do que são os ODS e sobre como podem as Academias contribuir para a implementação destes. No debate, os participantes compartilharam as experiências desenvolvidas em cada país e, na discussão, ficou evidenciado que poucas Academias, dentre estas a ABC, estão efetivamente inseridas nos processos nacionais. O relato das Academias já engajadas com os ODS foi bastante produtivo, ajudando a ilustrar para as demais caminhos e experiências que podem ser perseguidos.

O assessor técnico da ABC, Marcos Cortesão, relatou aos participantes do encontro como a Academia vem construindo a sua participação no processo brasileiro de discussão e implementação dos ODS. Com a nomeação de Acadêmicos como representantes da ABC na Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Jailson Bittencourt de Andrade como titular, Adalberto Luis Val como suplente), a Academia busca intervir no processo nacional, mobilizando a comunidade cientifica para que esta contribua com a construção da Agenda 2030 no Brasil. Este é um processo que se encontra em fase inicial, pois é recente a incorporação da ABC à Comissão Nacional.

Representantes de governos presentes ao workshop enfatizaram a importância da potencial participação das Academias, reconhecendo que ainda existem barreiras e culturas institucionais distintas que estabelecem abismos que precisam ser superados. Tal aproximação é fundamental para que o tão necessário diálogo entre ciência e política possa se desenvolver de forma produtiva.

Ao longo do workshop, ficou manifesto o reconhecimento da importância dos ODS. No entanto, dada a diversidade social, cultural e política da região, bem como os diferentes níveis de organização das Academias, cada uma destas deve traçar sua estratégia levando em conta a sua realidade, bem como a de seu país. Para os presentes, o relato das experiências das Academias já inseridas no processo foi percebido como extremamente válido, não somente por mostrar possibilidades de caminhos, mas também por motivar e inspirar outras Academias a construírem suas inserções no debate da Agenda 2030 em seus respectivos países.

A Copa da Ciência

Os presidentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Luiz Davidovich e Ildeu de Castro Moreira, respectivamente, escreveram para o Jornal do Brasil de 14/7 sobre a competição na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.

A Copa do Mundo desperta paixões, mobiliza multidões, inflama a torcida pelo sucesso nacional. Mereceria atenção semelhante uma outra Copa, na qual os vencedores ganham qualidade de vida por muitas décadas e os derrotados amargam um futuro sofrido, empobrecido e desalentador: a Copa da Ciência e da Inovação.

Para essa Copa, uma competição que ocorre sem interrupção, os times são preparados continuamente e podem levar décadas para amadurecer. O Brasil vem preparando seu time de cientistas e técnicos, mais intensamente, desde 1950, com a criação do CNPq, da Capes, da Finep e das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), e com a expansão das universidades públicas e instituições de pesquisa.

A trajetória ascendente da ciência no Brasil sofre agora, no entanto, um sério revés. O orçamento de custeio e capital do MCTIC para este ano – recursos para investimento em pesquisa, excluindo salários e gastos administrativos – é cerca de um terço do valor de 2013 corrigido pela inflação. Cortes atingem também a Capes. Por outro lado, a maioria das FAPs opera em regime falimentar. O orçamento não reembolsável da Finep, que alimenta pesquisas em CT&I e a subvenção econômica para empresas inovadoras, foi reduzido de R$ 4,2 bilhões em 2010 para R$ 920 milhões em 2017. Neste ano, a situação está ainda pior.

Alegando a crise financeira que afeta o país, o governo federal tem realizado cortes drásticos no orçamento da CT&I, da educação e de outras áreas sociais. Essa atitude reflete uma definição distorcida de prioridades, reflexo de incapacidade ou falta de vontade em formular uma agenda de desenvolvimento nacional. Essa política contrasta com a adotada por outros países que também padecem da crise global.

Em 2012, no auge da crise, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, comunicou ao Congresso do Povo que a taxa de crescimento da China iria decrescer. No mesmo discurso, anunciou que o investimento em pesquisa básica aumentaria 26%. Diante da crise, adota-se uma medida anticíclica: o investimento em ciência abre as portas para a saída da crise. Recentemente, a proposta orçamentária do presidente Trump, contendo cortes severos no orçamento de C&T, foi rejeitada pelo Congresso norte-americano que, em um acordo bipartidário, não só anulou os cortes como adicionou US$ 20 bilhões a esse orçamento.

Enquanto o Brasil investe apenas cerca de 1% de seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), outros países avançam nesse exigente campeonato entre nações: a Coreia do Sul já passa de 4%, a União Europeia pretende alcançar 3% em 2020, e os Estados Unidos já investem mais de 2,5%. Para alcançarem esses percentuais, tais países contam com a participação decisiva de empresas que investem em P&D para transformar conhecimento em produto. Na Coreia do Sul, por exemplo, 3/4 do investimento provêm de empresas. No Brasil, no entanto, essa participação é exígua: cerca de 40% do investimento total. Menos que 1% das 135 mil empresas industriais fazem uso dos incentivos fiscais para inovação da Lei do Bem, criada em 2005, e apenas 200 participam do Movimento Empresarial pela Inovação.

A balança comercial do país é dominada por bens primários, muitos deles possibilitados pela ciência e tecnologia desenvolvida antes, mas com baixo valor agregado. E esse processo se acentuou nos últimos anos. De 2011 a 2017, o Brasil passou do 47º ao 69º lugar no Índice Global de Inovação. Nessa Copa da Inovação caímos nos jogos eliminatórios.

Muitos jovens, craques em potencial da ciência e da inovação, têm deixado o país, desfalcando um time que tinha perspectivas de ser campeão. Para ter jogadores capacitados é necessário educação científica de qualidade e condições adequadas para o treino e o jogo.

Há tempo, ainda, de reverter esse processo. Este pode ser um momento da virada, aproveitando o ano eleitoral. Para isso, a ciência e a inovação, nas suas dimensões tecnológica e social, assim como a educação, precisam ocupar posição de destaque não apenas nos debates, mas nos corações e mentes dos brasileiros quando escolherem seus candidatos à Presidência, aos governos estaduais e aos parlamentos nacional, estaduais e municipais.

A sociedade brasileira precisa reagir a essa situação de retrocesso, apoiando programas e candidatos que proponham claramente uma agenda nacional de desenvolvimento, baseada na educação de qualidade, na ciência e na inovação, e que busque a redução das nossas desigualdades sociais e econômicas, um quesito no qual, infelizmente, estamos na vanguarda do conjunto de nações.

Muitas propostas que garantem um desenvolvimento sustentável para o país, nos âmbitos econômico, social e ambiental, foram elencadas no Livro Azul da 4a Conferência Nacional de CT&I, realizada em 2010, e em publicações da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Recentemente elas foram reunidas, por essas duas entidades, em documentos para os candidatos às eleições deste ano.

Há, ainda, um objetivo de curto prazo de grande importância: inicia-se agora a apreciação do orçamento federal para 2019 pelo Congresso Nacional. Cabe ao governo, em sua proposta de lei orçamentária, e aos parlamentares atuais aumentar substancialmente a dotação para C&T, colocando de novo o Brasil em trilhos que o levem a um futuro com maior desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida para sua população.

É uma das responsabilidades do Congresso Nacional interromper esse processo de desmonte da ciência e da tecnologia nacionais, de modo que o país possa ocupar a primeira divisão na Copa da Ciência e destacar-se no jogo das nações. O povo brasileiro merece.

Sobre os autores:

Luiz Davidovich é físico, professor da UFRJ e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Ildeu de Castro Moreira é físico, professor da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

 

 

Comitê executivo de Ianas realiza reunião de trabalho no México

O comitê executivo da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) realizou reunião de trabalho, na sede da Academia Mexicana de Ciências, nos dias 28 e 29 de maio. Participaram desta reunião representantes das Academias do Brasil, Colômbia, Estados Unidos, México, Nicarágua e Venezuela, assim como da Academia de Ciências do Caribe e da Academia Latino-Americana de Ciências. A ABC esteve representada nessa reunião pelo assessor técnico Marcos Cortesão.

Na oportunidade, os integrantes do comitê executivo fizeram uma avaliação dos programas desenvolvidos pela rede: Educação Científica, Mulheres para a Ciência, Segurança Alimentar e Nutricional, Energia e Recursos Hídricos. A partir de relatos apresentados pelos coordenadores de cada um dos programas, foi feito um balanço de qual tem sido o impacto dos programas e de que forma estes têm sido replicados em cada um dos países.

Na reunião, foram apresentados e discutidos os relatórios financeiro e executivo da rede. Os representantes das Academias também discutiram a organização da próxima assembleia geral de Ianas (que acontecerá na Colômbia, em 2019) e instituíram três comitês (Planejamento Estratégico para o Triênio 2019-2021; Avaliação de Programas; Revisão Estatutária e Regimental). A ABC passou a integrar os dois primeiros.

Sobre a Rede Interamericana de Academias de Ciências

A rede Ianas, que reúne 23 Academias de Ciências das Américas, tem sido uma organização atuante no cenário regional. Através de sua ação, busca levar para os principais fóruns multilaterais interamericanos e latino-americanos a visão e a voz da ciência, buscando, com isso, contribuir para a construção de ambientes de discussão e formulação de políticas públicas em que ciência e tecnologia (C&T) sejam incorporadas como ferramentas fundamentais para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade dos povos do continente.

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