Fundo para florestas tropicais pode ser estratégico no combate às mudanças climáticas, avaliam cientistas

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Um dos países mais frios da Europa, distante a milhares de quilômetros das florestas tropicais existentes no mundo, a Noruega aderiu prontamente ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), lançado oficialmente quinta-feira (06/11), na abertura da Cúpula dos Líderes, em Belém. A razão é muito simples, apontou Andreas Bjelland Eriksen, ministro do Clima e do Meio Ambiente do país nórdico: diminuir o risco que o desmatamento e a degradação desses ecossistemas, mesmo longe de suas fronteiras, representam para a regulação climática do país e de todo o globo terrestre.

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Principal aposta do Brasil para a COP30, o objetivo do TFFF é criar um sistema internacional de pagamento para mais de 70 países em desenvolvimento, de todos os continentes e localizados principalmente nas três bacias que detêm florestas tropicais: a amazônica, a do Congo e a do Sudeste Asiático.

Na avaliação de cientistas ouvidos pela Agência FAPESP, iniciativas como esta são estratégicas para a conservação das florestas tropicais, cujo desmatamento e degradação contribuem para acelerar os efeitos das mudanças climáticas e colocam em risco a estabilidade ambiental e econômica em escala global.

“O fundo representa uma inovação no mecanismo de financiamento para conservação de florestas tropicais. Basicamente, é um fundo para dar lucro para quem investe e, ao mesmo tempo, auxilia na preservação da floresta”, avalia [o Acadêmico] Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

“É muito importante levarmos em conta que a preservação de florestas tropicais, que são os maiores absorvedores de CO2 [dióxido de carbono] da atmosfera, é estratégica para o nosso planeta e para o futuro das negociações climáticas, porque, se reduzirmos significativamente esses absorvedores de carbono, vamos acelerar a mudança climática”, diz Artaxo.

Por meio da fotossíntese, as florestas tropicais capturam dióxido de carbono da atmosfera e armazenam na biomassa das árvores e no solo, reduzindo a concentração desse gás de efeito estufa e mitigando as mudanças climáticas.

A Amazônia, por exemplo, estoca cerca de 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono em sua biomassa. No entanto, o desmatamento e as queimadas liberam esse carbono armazenado, contribuindo significativamente para o aquecimento global.

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Ao todo, 34 países com florestas tropicais teriam endossado a declaração do TFFF.

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Importância para a biodiversidade

As florestas tropicais também são os ecossistemas mais ricos em biodiversidade no planeta. A Amazônia, por exemplo, que ocupa menos de 1% da superfície terrestre, abriga quase 10% da biodiversidade do mundo. Ao perder essas florestas, também se extingue toda essa biodiversidade, que nem sequer é conhecida e que não pode ser recuperada mesmo por meio da restauração florestal, pondera [o Acadêmico] Carlos Joly, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

“Por meio da restauração florestal só é possível repor, mais ou menos, entre 60% e 65% das espécies de árvores da floresta. Então, com essa medida, já se perde parte da biodiversidade mesmo do sistema arbóreo dessas florestas”, afirma.

Além disso, não se consegue restaurar a complexidade do sistema original, aponta o pesquisador. “Se por um lado é possível restaurar a fisionomia florestal em uma década, por exemplo, não é possível recompor a complexidade de uma floresta nem em séculos. Ela é perdida para sempre. Por isso, conservar a floresta em pé é a melhor e mais eficiente estratégia para manter a biodiversidade e todos os processos funcionando, inclusive o processo evolutivo que também é interrompido quando a floresta é destruída”, disse Joly.

Por meio da conservação também é possível manter a complexidade de interações que ocorrem entre a biota das florestas tropicais e todos os serviços ecossistêmicos prestados por elas, como a polinização, a proteção de recursos hídricos, a manutenção dos estoques de carbono na biomassa e no solo, elenca o pesquisador.

“Por meio da restauração, é possível estocar carbono nos troncos e nas estruturas das árvores, mas não se recompõe toda uma população de animais polinizadores que estavam presentes nelas. Só é possível recuperar uma parte dos serviços ecossistêmicos”, sublinhou Joly, reafirmando por que é mais inteligente a conservação da floresta em pé.

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Leia a matéria na íntegra no site da  Agência Fapesp

(Elton Alisson para Agência Fapesp)