O Lindau Nobel Meeting, organizado anualmente na cidade de Lindau, na Alemanha, promove encontros entre jovens cientistas de todo o mundo, indicados por seus países, com cientistas ganhadores do Prêmio Nobel nas diversas áreas. Com palestras plenárias, painéis e espaços de diálogo, o objetivo é dar oportunidade a jovens estudantes de excelência até o doutorado de fortalecer redes de colaboração, atualizar conhecimentos de fronteira e identificar oportunidades de cooperação científica relevantes para o Brasil. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) é a instituição incumbida pelo governo brasileiro para selecionar os jovens cientistas brasileiros a serem convidados.
A cada ano, o encontro foca em diferentes áreas do conhecimento. Em 2025, as áreas destacadas foram as ciências químicas (29 de junho a 4 de julho) e as ciências econômicas (26 e 30 de agosto).
Bruno Toshio Ogava: econometria e educação na pauta global
PhD em Economia pela FGV e professor do Grupo IBMEC, Bruno Toshio Ogava relatou intensa imersão acadêmica em interações diretas com James Heckman (Nobel de Economia, 2000) e Joshua Angrist (Nobel de Economia, 2021).

“Pude discutir com eles temas como Marginal Treatment Effects, uso de instrumentos fracos e DAGs para explicitar suposições causais”, contou. “Essa troca permite trazer metodologias de ponta para o desenho e avaliação de políticas de educação infantil no Brasil.”
Para ele, a participação “reforçou a importância de conectar rigor técnico à formulação de políticas públicas voltadas à equidade e ao desenvolvimento humano”.
Guilherme Gallego: economia, políticas públicas e renda básica universal
Em sua apresentação “Labor Market Effects of Unemployment Insurance and Universal Basic Income in Developing Economies”, Guilherme Gallego, também doutorando do Insper, discutiu as transformações no mercado de trabalho em economias emergentes.
Entre os destaques de sua participação, ele cita a presença de Joseph Stiglitz (Nobel de Economia, 2001) e Simon Johnson (Nobel de Economia, 2024) em sua sessão e uma “Science Walk” com Stiglitz: “A interação foi única e profundamente enriquecedora. Conversamos sobre informalidade e o impacto das políticas sociais nos países em desenvolvimento”.

Guilherme ressaltou ainda o papel da ABC e do Insper no apoio à sua participação: “Representar o país e minha instituição em um fórum dessa relevância foi um privilégio e uma inspiração para continuar a carreira acadêmica”.
Stéphanie Shinoki: diálogo direto com Nobel e confiança na ciência brasileira
Doutoranda em Economia dos Negócios no Insper, Stéphanie Shinoki destacou a oportunidade única de apresentar sua pesquisa “Difference-in-Discontinuities: Estimation, Inference and Validity Tests” na sessão de Econometria, ao lado de outros jovens cientistas.
Um dos momentos mais marcantes foi a presença e os comentários de Guido Imbens (Nobel de Economia, 2021). “Ter alguém dessa relevância demonstrando interesse pelo nosso trabalho foi um dos pontos altos da minha trajetória acadêmica”, relatou.

Stéphanie também participou de um almoço restrito com Imbens e de um open exchange com Robert Aumann (Nobel de Economia, 2005). “Essas conversas me mostraram que a pesquisa feita no Brasil pode dialogar de igual para igual com os grandes temas internacionais”, avaliou.
Alex Inague: ciência acessível e inspiradora
Doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela Universidade de São Paulo (USP) e fazendo pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Berkeley, nos Estados Unidos, o pesquisador Alex Inague descreveu o evento como uma “vivência acadêmica, científica e cultural intensa”. Destacou as palestras de John Jumper (Nobel de Química, 2024), Moungi Bawendi (Nobel de Química, 2023) e David MacMillan (Nobel de Química, 2021), e um almoço inspirador com Martin Chalfie (Nobel de Química, 2008).
Inague também participou de um workshop de comunicação científica, que, segundo ele, “reforçou a importância de tornar a ciência acessível e envolvente, especialmente em tempos de desinformação”.

Fábio Godoy Delolo: compromisso com a pesquisa de impacto global
Para Fábio Godoy Delolo, doutor em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e hoje pesquisador de pós-doutorado do programa Capes-PIPD na UFMG, o encontro foi “uma experiência transformadora”, marcada por “discussões inspiradoras e um ambiente colaborativo”. Ele destacou as oportunidades de networking internacional e a relevância das discussões sobre competitividade da pesquisa europeia, diante dos desafios de financiamento nos Estados Unidos.

Ele se dedica a explorar aspectos sustentáveis para a valorização da matéria prima biorrenovável utilizando catalisadores homogêneos, heterogêneos e eletroquímica. “Saí do Lindau Meeting com o compromisso renovado de buscar soluções científicas sustentáveis e de impacto global”, declarou.
João Paulo Vita Damasceno: aprendizado e convivência internacional
Doutor em Química pela Universidade Federal do Paraná, (UFPR) e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), João Paulo Vita Damasceno ressaltou a “riqueza das trocas com mais de 600 pesquisadores e 33 laureados, sendo 28 de Química”. Para ele, o evento “foi uma oportunidade única de aprendizado e inspiração, permitindo conhecer histórias, desafios e trajetórias dos maiores nomes da ciência mundial”.

Lucas Silva Franco: inteligência artificial e otimismo científico
Lucas Silva Franco atualmente atua na Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi) e fez toda a sua pós- graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele apresentou sua pesquisa sobre inteligência artificial aplicada à química na sessão Next Gen Science, interagindo com John Jumper (Nobel de Química 2024), Martin Chalfie (Nobel de Química 2008) e Johann Deisenhofer (Nobel de Química 1988).

Ele destacou o Agora Talk “The Joy of Unexpected Discovery”, sobre o papel da serendipidade na ciência, e as mensagens de Martin Chalfie e Moungi Bawendi: “A ciência é um empreendimento global e colaborativo”.
“Foi uma celebração da ciência e da esperança. Volto convicto de que a colaboração e o diálogo são a essência do avanço científico”, afirmou.
Roberta Silva Pugina: diplomacia científica e conexões multiculturais
Pós-doutoranda em Química Inorgânica no Instituto de Química da Unesp em Araraquara, no interior de São Paulo, Roberta Pugina é doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), interessada em muímica dos Materiais. Ela enfatizou a dimensão multicultural do encontro e as oportunidades de diplomacia científica.
Entre os momentos marcantes, destacou a conversa com Akira Yoshino (Nobel de Química 2019), laureado pela descoberta das baterias de íons-lítio, dado que Roberta trabalha no desenvolvimento de dispositivos fotônicos à base de íons lantanídeos e biomateriais. Ela ressaltou ainda o diálogo com Frances H. Arnold (Nobel de Química, 2018) durante o encerramento na Ilha de Mainau – única mulher nobelista presente no evento. “Participar do Lindau Meeting ampliou minha visão sobre os desafios e as possibilidades da ciência global. Foi uma experiência transformadora”, concluiu.

Um espaço de inspiração e colaboração
Os brasileiros retornaram de Lindau com a mesma percepção: o encontro vai muito além de palestras — é uma experiência de convivência e aprendizado entre gerações.
Eventos sociais, como a Bavarian Evening e a visita à Ilha de Mainau, criaram um ambiente descontraído e fértil para novas parcerias e colaborações internacionais. “Sentar ao lado de um Nobel e perceber o interesse genuíno nas nossas ideias foi algo inesquecível”, resumiu um dos participantes.
Com o apoio da Academia Brasileira de Ciências, do Insper, da FGV, da UNESP e de fundações parceiras, os jovens cientistas brasileiros mostraram, em Lindau, o vigor e a relevância da pesquisa feita no Brasil — e a confiança de que a ciência é, acima de tudo, uma construção global e colaborativa.