Faleceu no dia 4 de junho, aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon, titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e um dos maiores nomes da arqueologia brasileira. Ela foi responsável pela fundação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde atuou por mais de cinco décadas e desenvolveu seus principais trabalhos.
Guidon graduou-se em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP) em 1959 e obteve o título de doutora em Pré-História pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne em 1975. À frente das escavações na Serra da Capivara desde a década de 70, a cientista foi responsável pela descoberta de mais de 800 sítios arqueológicos com pinturas rupestres e ferramentas de pedra lascada que nos dão uma janela de observação sobre a ocupação antiga no continente americano.
Seus trabalhos ajudaram a inserir o Brasil no cenário da arqueologia internacional e geraram debates intensos sobre a antiguidade da presença humana nas Américas. Embora as datações mais antigas obtidas na Serra da Capivara permaneçam controversas, seu pioneirismo despertou o interesse arqueológico pelo Brasil, se tornando um vetor de desenvolvimento para a região ao redor dos municípios de São Raimundo Nonato e José Dias, no interior do Piauí.
Lá ela ajudou a fundar o Museu do Homem Americano, institucionalizando a presença científica e dando o pontapé inicial para a formação continuada de pessoas e atração de visitantes interessados pela riqueza arqueológica da região. Além do trabalho científico, a pesquisadora foi uma grande defensora da preservação do patrimônio histórico e natural do Brasil.
Sua luta incansável para conectar os sítios arqueológicos à realidade local é um exemplo de como a ciência, quando atenta ao mundo ao seu redor, pode se tornar um vetor de crescimento e transformação social.
A ABC lamenta profundamente a perda de Niède Guidon e empresta solidariedade a amigos e familiares.