Os oceanos são peças centrais nas dinâmicas das mudanças climáticas e a humanidade precisa qualificar suas ferramentas para compreendê-los. Essas foram as conclusões do membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Segen Estefen, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo), durante a mesa-redonda “Oceano: Exploração e Preservação de Biomas” realizada na Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Espírito Santo.
O Acadêmico lembrou que os oceanos são grandes sumidouros de carbono e calor, atuando como reguladores climáticos fundamentais. Entre 1971 e 2020, esses biomas absorveram 89% do calor excedente gerado pelo aquecimento global, contribuição sem a qual o planeta já se encontraria numa situação climática insustentável para a vida humana. Mas isso não veio sem custos. “Os oceanos estão cada vez mais quentes, ácidos, com menos oxigênio e, é claro, o nível do mar está subindo. O processo está muito acelerado, as curvas de crescimento estão se tornando não-lineares, os pontos de não-retorno estão se aproximando cada vez mais rápido”, alertou.
Em 2024 foi registrada a maior temperatura média dos oceanos, chegando a bater 21°C, cinco graus a mais do que a média registrada em 2000. Essas altas temperaturas contribuem para um aumento em eventos climáticos extremos, branqueamento de corais e até mesmo mudanças nas correntes marítimas, algo particularmente grave pois alterações nessas correntes tendem a mudar radicalmente o cenário climático em várias regiões do planeta. Um exemplo deste último cenário é o processo de colapso da corrente do Atlântico Norte, que já vislumbra alterações radicais nos climas da Europa e América do Norte.
No contexto brasileiro, Segen Estefen alertou que os atuais modelos ainda têm dificuldade em fazer previsões para o Atlântico tropical e sul. Citando o exemplo da catástrofe climática que acometeu o Rio Grande do Sul em 2024, ele afirmou que os modelos previram com pouca antecedência as consequências das dinâmicas oceânicas para as chuvas na região, e quando se percebeu já era tarde demais. Nesse cenário, o Acadêmico defendeu que é preciso colaboração internacional para a criação de modelos e bases de dados abertas, além de mais investimento em aparelhos e plataformas de monitoramento dos mares. “As novas tecnologias de inteligência artificial poderão nos ajudar mundo no modelamento e previsão climática nos oceanos, mas para isso precisamos gerar dados e disponibilizá-los para que as previsões tenham cada vez mais qualidade”, afirmou.
A mesa redonda contou também com palestras da professora da Universidade de São Paulo (USP), Ilana Wainer, que abordou a interação entre as dinâmicas físicas e biológicas dos oceanos e suas implicações para as mudanças climáticas; da professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Kyssyanne Oliveira, que falou sobre o equilíbrio tênue entre a exploração dos recursos oceânicos sem comprometer seus serviços ecossistêmicos; e do professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Moacyr Araújo, que falou sobre os trabalhos que coordena na Rede Clima com monitoramento oceânico e buscas por inovações na geração de energia pelas ondas.
Assista à mesa-redonda completa: