No 25o aniversário de morte do Acadêmico, matéria de Edison Veiga para a Deustsche Welle (DW) contando episódio curioso de sua trajetória.

Quando o cientista brasileiro [e membro da Academia Brasileira de Ciências, que presidiu de 1965 a 1967] Carlos Chagas Filho (1910-2000) foi convidado pelo então papa Paulo 6° (1897-1978) para presidir a Pontifícia Academia de Ciências, logo decidiu priorizar a resolução de uma dívida histórica da milenar Igreja Católica com a ciência: o chamado Processo Galileu.

Eram tempos de Inquisição quando o astrônomo Galileu Galilei (1564-1642) concluiu que a Terra não estava no centro do universo e girava em torno do Sol. Em 1615, a Igreja abriu um processo contra ele. Para escapar da fogueira, o cientista foi obrigado a se retratar e, mesmo assim, teve de passar o resto da vida em prisão domiciliar.

De tempos em tempos o assunto vinha à tona, em geral com pesadas críticas do mundo científico ao abuso do Vaticano contra um dos maiores gênios da história. Na opinião de Chagas Filho, era hora de passar a história a limpo.

Em sua autobiografia Um Aprendiz de Ciência, o brasileiro, assumidamente católico, lembra que o assunto era fonte de críticas “dos agnósticos à Igreja” e que não era justo que Galileu — ao contrário do físico Albert Einstein (1879-1955), que “nunca fora incomodado pela Igreja” — seguisse sofrendo “forte perseguição”.

Durante os 16 anos em que presidiu a academia, de 1972 a 1988, Chagas Filho liderou esses estudos que fundamentaram o perdão ao astrônomo. Em 1992, o papa João Paulo 2° (1920-2005) oficialmente reabilitou Galileu Galilei, reconhecendo o erro da Igreja ao condená-lo.
 
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Um dos dois brasileiros que hoje integram a academia, o físico Vanderlei Bagnato, professor na Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a passagem de Chagas Filho pela instituição, como “único brasileiro que foi presidente da academia” foi marcada pela preocupação “em fazer com que a ciência fosse um benefício a serviço do homem”.
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Chagas Filho morreu há 25 anos, em 16 de fevereiro de 2000. Ele tinha 89 anos e vivia no Rio de Janeiro.