A fibrilação atrial é uma arritmia cardíaca, ou seja, um problema no ritmo dos batimentos do coração. “Normalmente, o coração bate de forma regular, como um relógio, mas na fibrilação atrial ele bate de forma desordenada e mais rápida do que o normal”, explicou o médico Emiliano Medei, líder do grupo de pesquisa do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor do estudo.
O pesquisador, que foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) no período de 2011 a 2015 e é vice-coordenador do INCT INTERAS, informou que a fibrilação atrial está associada a várias condições, como pressão alta, doenças cardíacas, apneia do sono, obesidade, excesso de álcool, ou até mesmo após uma cirurgia ou período de estresse. Com a idade, o risco de desenvolver fibrilação atrial também aumenta. “Muitas dessas condições têm em comum um processo inflamatório crônico, cujo papel no desenvolvimento da fibrilação atrial é desconhecido”, observou.
Seu grupo de pesquisa mostrou agora que a IL-1beta, um hormônio do sistema imune que medeia grande parte dos processos inflamatórios crônicos na ausência de infecções, é capaz de causar diretamente a fibrilação atrial. O trabalho foi aceito na Nature Cardiovascular Research, uma revista de destaque nessa área de pesquisa.

Para investigar esse processo, o grupo do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ contou com uma parceria com o Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa, liderada pela Dra. Olga Ferreira de Souza. Eles injetaram IL-1beta em camundongos, em doses baixas, durante 15 dias. As injeções causaram alterações elétricas no coração que susceptibilizaram os animais ao desenvolvimento da fibrilação atrial.
Os pesquisadores mostraram que essas alterações não aconteciam em mutantes que não apresentavam receptores de IL-1beta nas células imunes do coração e que havia necessidade de nova síntese de IL-1beta no próprio átrio para que a fibrilação atrial se desenvolvesse. Uma molécula envolvida nessa nova produção de IL-1beta, a caspase-1, também se mostrou necessária para que a IL-1beta injetada causasse fibrilação atrial.
O trabalho indica que nas várias condições distintas em que há susceptibilização à fibrilação atrial e processo inflamatório crônico pode haver participação de IL-1beta. Como não é possível saber em cada caso individual qual o fator mais relevante para seu desenvolvimento, o encontro de um fator presente em muitas das condições que, por si só, determina fibrilação atrial, é uma descoberta importante.
“Tanto o uso de remédios que inibam a IL-1beta ou intermediários envolvidos na sua produção, como caspase-1, são opções terapêuticas a serem testadas para prevenir a fibrilação atrial”, explicou Medei.
Acesse aqui o artigo original, publicado na Nature Cardiovascular Research em 6/2/2025.