A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Bonciani Nader, concedeu entrevista ao podcast “Unveil the Future”, da Fundação VinFuture, uma organização sem fins lucrativos do Vietnã voltada ao incentivo e difusão da ciência e da tecnologia. Este foi o oitavo episódio da série de podcasts, cada um com uma personalidade científica de renome internacional.

A conversa começou pela carreira de Nader na microbiologia e suas contribuições para o campo da glicobiologia. “É um ramo da biologia que estuda os açúcares, mas não aquele que comemos, são moléculas complexas que cumprem diferentes papéis no nosso organismo. As diferenças nos açúcares associados à proteínas celulares podem significar a diferença entre uma célula saudável e uma célula tumoral. Uma enzima diferente pode ser o suficiente para desenvolver uma doença grave”, explicou.

Durante a segunda parte da entrevista, o foco passou para a atuação da pesquisadora na defesa da ciência brasileira. Nader é uma voz contundente na luta por mais investimentos e incentivos à carreira científica e, desde que assumiu a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), este tem sido seu foco principal de atuação. Nader assumiu a presidência da ABC em 2022, se tornando a primeira mulher no cargo nos mais de cem anos de atuação da Academia. “Apenas cumpro meu papel de lutar pelo que é melhor para o país, tentando convencer governantes de que, sem investimentos em C&T, não haverá progresso”, resumiu Nader.

A participação feminina na ciência, tema caro à Helena Nader, foi parte importante do debate. “No Brasil, mulheres já são maioria nos programas de graduação, mas ainda estão muito atrás nos cargos de liderança e nas bolsas voltadas ao topo da carreira. A mudança está ocorrendo, mas é lenta”, afirmou, ressaltando que ainda precisamos avançar muito em igualdade de gênero nas chamadas ciências duras ou STEM (da sigla em inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics).

“Se quisermos mudar o ambiente das STEM precisaremos de mais diversidade, pois se mantivermos sempre os mesmos cérebros no topo não encontraremos novas abordagens para os problemas. Isso passa, inclusive, pela forma como as próprias mulheres enxergam essas áreas, precisamos mostrar a elas exemplos de mulheres em STEM, pais precisam educar suas filhas sobre essa possibilidade de carreira”, sugeriu Nader.

Entretanto, Nader enfatizou que a desigualdade de gênero é apenas uma das diversas desigualdades que o Brasil precisa enfrentar. “No nosso país temos desigualdades raciais, regionais e socioeconômicas que impactam significativamente o perfil das pessoas que vem a se tornar cientista. Precisamos entender como superaremos esses desafios num país com o tamanho e a complexidade do Brasil”, disse.

Por fim, a presidente da ABC deixou uma mensagem para a juventude, em particular às meninas que sonham em fazer ciência: “Nunca deixem que outros definam limites ao seu potencial. Se mantiverem isso em mente, vocês serão capazes de navegar pela academia e pelo mundo da pesquisa e lutar contra qualquer tipo de descriminação. Se vocês encontrarem prazer e sentido na ciência, suas vozes terão valor para a sociedade”.

Ouça ao podcast ou assista à entrevista na íntegra: