A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena B. Nader, participou de painel intitulado “European Research Competitiveness from a Global Perspective”, no 16th High Level Workshop on the European Research Area, que agrega as lideranças dos conselhos nacionais de pesquisa da Europa. O encontro, organizado por Science Europe, HUN-REN (rede de pesquisa húngara) e a Academia Húngara de Ciências, realizado em Budapeste, no dia 20 de novembro.
Integraram o painel junto com Nader o executivo do grupo de Transformação Digital e CEO de Pesquisa e Inovação da Fundação Nacional de Pesquisa da África do Sul, Gugu Moche; Madalena Alves, presidente da Fundação de Ciência e Tecnologia de Portugal; Maria Leptin, presidente do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC); Christof Gattringer, presidente do Fundo Austríaco de Ciência, membro do Conselho Diretor do Science Europe e moderador da sessão; e Junto Hibiya, vice-presidente do Conselho de Ciência do Japão.
Helena Nader abordou o papel da circulação do conhecimento na competitividade em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) na região e os mecanismos inovadores de financiamento e cooperação que a sustentam melhor.
Ela iniciu ressaltand que o financiamento para pesquisa e inovação na América Latina e no Caribe enfrenta desafios significativos, caracterizados por subinvestimento e distribuição desigual de recursos. Em média, os países da região alocam menos de 0,7% do PIB para P&D, muito abaixo da média global de 2,5% e distante dos países desenvolvidos. Esse financiamento limitado frequentemente dificulta o acesso dos pesquisadores a ferramentas de ponta, a retenção de talentos e a competitividade em escala global.
Apesar desses desafios, no Brasil há sinais promissores de progresso por meio de iniciativas regionais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico no Brasil, além de colaborações internacionais, como as apoiadas pelo Horizonte Europa e outros programas multilaterais. Para Nader, “esses esforços visam fomentar maior reciprocidade, capacitação e alinhamento da P&D&I com os objetivos de desenvolvimento sustentável, embora sejam necessários investimentos significativos e mudanças políticas para liberar todo o potencial da região”, destacou.
A circulação do conhecimento é uma pedra angular para aumentar a competitividade em pesquisa e inovação (P&D&I) na América Latina e no Caribe (ALC). Em um contexto global onde a colaboração e a reciprocidade são essenciais, a troca de expertise, dados e metodologias torna-se fundamental para enfrentar desafios compartilhados, como mudanças climáticas, desigualdades em saúde e desenvolvimento sustentável. A região da ALC, com sua rica biodiversidade, diversidade cultural e dinâmicas socioeconômicas únicas, tem muito a oferecer e a ganhar com os fluxos internacionais de conhecimento.
“A região da ALC pode se beneficiar enormemente de uma circulação de conhecimento aprimorada, que pode fortalecer sua competitividade em P&D&I e contribuir para o progresso global compartilhado. Adotando modelos inovadores de cooperação em financiamento que enfatizem a reciprocidade, a mobilidade de talentos e a capacitação, podemos garantir que nossa região não seja apenas receptora de conhecimento, mas também uma contribuinte ativa e equitativa no ecossistema global de pesquisa”, apontou a presidente da ABC.
A circulação do conhecimento promove a capacitação e o desenvolvimento de talentos, enfrentando um desafio crítico na região: a retenção de pesquisadores qualificados. Iniciativas colaborativas oferecem oportunidades para que pesquisadores da ALC se envolvam com ciência de ponta, enquanto parcerias recíprocas garantem que o conhecimento global seja adaptado às necessidades locais, criando inovações sustentáveis e impactantes.
Além disso, a circulação do conhecimento impulsiona a transferência de tecnologia e acelera a transformação de invenções em inovações práticas para a Europa e a ALC. Pesquisas promissoras muitas vezes encontram dificuldades para se traduzirem em soluções escaláveis e benefícios econômicos. Para maximizar os benefícios da circulação de conhecimento, as estruturas de financiamento inovadoras devem se concentrar em quadros multilaterais, recíprocos e inclusivos. Alguns exemplos breves:
- Financiamentos Baseados em Reciprocidade: Programas como o Horizonte Europa podem incluir fundos específicos para parcerias ALC-UE, promovendo equidade nas colaborações.
- Programas de Mobilidade e Retenção de Talentos: Financiamentos que promovam a mobilidade de pesquisadores em ambas as direções—levando pesquisadores da ALC à Europa e vice-versa. Isso pode ser modelado com base nas Ações Marie Skłodowska-Curie da UE, com adaptações regionais para priorizar desafios compartilhados.
- Financiamentos Orientados a Desafios: Mecanismos de financiamento focados em desafios globais, como conservação da biodiversidade ou energia renovável, poderiam integrar prioridades regionais, garantindo soluções contextualmente relevantes.
- Financiamentos para Capacitação: Esses financiamentos devem investir em infraestrutura de pesquisa e treinamento na região da ALC para permitir que instituições locais se engajem plenamente em colaborações internacionais, garantindo sustentabilidade.
A biomédica avaliou que a região da ALC tem uma grande oportunidade de fortalecer sua competitividade em PD&I e de contribuir para o progresso global compartilhado por meio de uma circulação de conhecimento aprimorada. “Com a adoção de modelos inovadores de cooperação em financiamento que priorizem reciprocidade, mobilidade de talentos e capacitação, podemos garantir que nossa região seja uma participante ativa e equitativa no ecossistema global de pesquisa”, reafirmou Helena Nader.