As disciplinas de ciências exatas do colégio exerceram grande influência em Igor Jurberg. “Tinha um bom desempenho e na época de escolher que carreira seguir, pareceu uma decisão natural continuar estudando algo relacionado a essas disciplinas”, relatou. “Me lembro de um professor de química do ensino médio que me perguntou ‘você vai fazer química, né?’, sem que eu nunca tivesse me pronunciado sobre o assunto. Mas acabei escutando como uma sugestão”, contou o pesquisador.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1984, Igor morou na Tijuca com a mãe, arquiteta, e o pai, que era professor universitário na área da biologia. Ele tem um irmão gêmeo, Arnon, que é biólogo e professor universitário. Sua infância e juventude lhe trazem ótimas lembranças, especialmente de quando praticava vários esportes, principalmente polo aquático e handball. Ele reconhece que ter uma boa estrutura familiar e todo apoio foi muito importante ao longo dos anos. “Minha mãe, em particular, sempre me incentivou e me deu muitos exemplos de determinação e integridade. Ela faleceu em 2021 e eu lhe serei eternamente grato”, pontuou.

Sobre a escolha da profissão, Igor acha que foi um processo natural. Cursou dois anos de engenharia química na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR)J e fez iniciação científica nesse período. “Foi uma experiência interessante, mas sinceramente, não foi algo que achei incrível, nem me inclinou à química naquele momento”, relatou.

Neste breve início na universidade, Igor ficou sabendo da possibilidade de se fazer um programa de duplo diploma entre a UFRJ e a École Polytechnique, em Paris, o que lhe pareceu uma oportunidade incrível. Ele realizou o processo de admissão que consistiu na redação de uma carta de motivação, a realização de duas provas orais de física e matemática, e uma entrevista com professores franceses que vieram ao Brasil especialmente para avaliar os candidatos brasileiros. Foi aprovado e se mudou para Paris em 2004

Na École Polytechnique, Igor conheceu o professor Samir Zard, quem contribuiu muito positivamente para seu interesse em pesquisa. Começou a frequentar um laboratório de química orgânica e a se fascinar pelo assunto, tanto pela teoria quanto pela parte experimental. Gradou-se em engenharia pela École Polytechnique, onde obteve depois o mestrado em química molecular e o doutorado em química orgânica. “Tenho muito respeito e admiração pelo professor Zard, que para mim foi um exemplo de gentileza e conhecimento científico. Foi quem me inspirou a fazer a pós-graduação em síntese orgânica”, disse Jurberg.

Em 2010 realizou um estágio no setor de pesquisa e desenvolvimento da Sanofi-Aventis (Paris, França) trabalhando no estudo de um medicamento anticancerígeno. Em seguida, efetuou estágios de pós-doutoramento no Instituto Max-Planck para Pesquisa do Carbono, em Mülheim an der Ruhr, na Alemanha, e no Instituto Catalão de Investigação Química (ICIQ), em Tarragona, na Espanha.

Durante os dois estágios de pós-doutoramento que fez, seus mentores foram os professores Nuno Maulide, no Max- Planck, e Paolo Melchiorre, no ICIQ. “São outros grandes profissionais que me ensinaram muito em termos de química orgânica e mentalidade de trabalho. Sou muito grato a eles”, afirmou.

O cientista voltou para seu país de origem em 2013, iniciando seu grupo de pesquisa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Jurberg obteve a livre-docência em 2019 e foi promovido a professor associado no Instituto de Química da Unicamp em 2022, onde foi vice-chefe do Departamento de Química Orgânica durante o biênio 2018-2020. Leciona na graduação e na pós-graduação.

Ele é um dos fundadores da Seção da Sociedade Americana de Química no Brasil, tendo sido secretário no período 2016-2019 e presidente entre 2019 e 2021.

Igor Jurberg aplica seu conhecimento diretamente na área de química medicinal, visando o desenvolvimento de fármacos contra doenças parasitárias. Seu grupo tem alguns interesses distintos em síntese orgânica, focados em três linhas de pesquisa principais, que são flexíveis, dependendo do financiamento disponível: catálise assimétrica, fotoquímica e química de heterociclos. “Trabalho com fotoquímica orgânica, desenvolvendo novos métodos, empregando luz visível como agente promotor das reações químicas. A substituição da luz ultravioleta pela luz visível permite o desenvolvimento de métodos mais suaves e seletivos, assim possibilitando a invenção de uma grande variedade de novos procedimentos em síntese orgânica que não eram possíveis antes. Esses métodos podem ser empregados potencialmente em programas de química medicinal e na produção de materiais, incluindo polímeros. Visamos, quando possível, a transferência de tecnologia para a indústria, causando assim um impacto mais direto na sociedade”, explicou Jurberg.

O Acadêmico avalia que, na vida cotidiana, muitas pessoas tentam convencer outras de seus pontos de vistas, deformando os fatos. “Um pensamento mais científico, racional e menos emocional seria muito bem-vindo. Já na ciência, o certo e o errado são geralmente bem claros, não dependem do cargo ou do poder do interlocutor”, afirmou.

Por isso ele diz que, na ABC, gostaria de participar de discussões envolvendo a política de promoção e financiamento à ciência. “É preciso que ela tenha um maior reconhecimento da sua importância na vida da população brasileira. Gostaria de atuar na Academia, a qual agradeço muito a eleição, participando das discussões que visem uma maior promoção da ciência no país, estimulando o interesse dos mais jovens, assim como a criação de novas empresas baseadas em ciência e que empreguem PhDs”, afirmou.

Ele enfatizou sua gratidão a todos os colegas e mentores ao longo dos anos, destacando o Acadêmico Ronaldo A. Pilli, do Instituto de Química da Universidade de Campinas (Unicamp), pela atenção e pelas palavras sempre gentis. 

Sobre seus interesses fora da ciência, Igor Jurberg é sintético: “Antes de me casar, meu interesse fora do trabalho era poder trabalhar mais. Depois, meu interesse além do trabalho passou a ser minha esposa. Atualmente temos uma filha e dedico todo o meu tempo livre a elas, com muita alegria.”