No dia 24 de setembro, foi realizada mais uma edição do Fórum ABC/SBPC sobre Ensino Superior, uma parceria entre Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para promover o debate sobre o atual sistema de educação superior brasileiro.

Os palestrantes foram dois Acadêmicos: o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ado Jório de Vasconcelos, que atualmente está na diretoria do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia; e o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Alvaro Toubes Prata, atual diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

Ambos defenderam que as universidades brasileiras precisam se preocupar em gerar mais inovação à serviço da sociedade. Para Alvaro Prata, nossas universidades já tiveram êxito na formação de um corpo docente altamente capacitado e no fortalecimento institucional, faltando agora permitir que esse sistema pujante interaja com o setor privado e outros setores da sociedade.

O Acadêmico Ado Jório trouxe o exemplo da empresa de egressos da UFMG que recentemente exportou um nanoscópio pra Alemanha. Para gerarmos mais casos de sucesso como esse, ele avalia que é preciso uma nova governança institucional e sugeriu a criação de centros especializados em temas estratégicos. Esses centros precisariam de um modelo de gestão e financiamento diferenciado e, sobretudo, um modelo de projetos por tempo determinado, que não sobrecarregue as instituições com estruturas permanentes. “Não se trata de simplesmente colocar mais dinheiro, mas direcionar investimentos para os resultados que queremos”, afirmou. “Precisamos de um modelo que seja como os Tribalistas, que surgiram, lançaram dois discos e terminaram”, brincou.

Para Alvaro Prata, o cargo atual de reitor envolve uma sobrecarga de trabalho e avaliou que as  instituições precisam de novos conselhos e cargos executivos, como a figura de um presidente. “Hoje o cargo de reitor contempla uma série de demandas e atribuições administrativas que estariam melhor atribuídos a outros cargos. Por já abrigar várias competências acadêmicas, ser reitor torna-se muito mais difícil”, afirmou, por experiência própria, já que foi reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) entre 2008 e 2012.

O Conselho de Administração ficaria responsável de definir metas, pensar grandes projetos e garantir a estabilidade financeira da instituição. Este seria composto não apenas por acadêmicos, mas também por representantes governamentais e do setor privado. Já o presidente teria como atribuição executar o que foi deliberado pelo conselho, garantindo uma gestão profissional e especializada.

Ambos os palestrantes defenderam o modelo atual da Embrapii como um caso de sucesso no fomento à inovação brasileira. Desde 2013, a Embrapii já apoiou 2700 projetos em parceria com 1800 empresas, alocando R$ 1,4 bi que incentivaram um investimento de mais de R$ 5 bi por parte do setor privado.

O Marco Legal de CT&I

Em uma outra temática, os Acadêmicos abordaram o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, regulamentado em 2018 mas cuja implementação ainda é limitada. Para os palestrantes, as instituições brasileiras seguem com uma mentalidade muito restritiva, que aos poucos está dando lugar a uma nova geração de profissionais, seja na administração universitária ou nos próprios órgãos de controle, menos refratários à inovação.

“O Marco Legal de CT&I é um conjunto de leis autorizativas, ao contrário da maioria das leis que regem o serviço público, que são impeditivas. Isso permite que a universidade faça muito mais, como parcerias com a indústria, criação de empresas por servidores, instalação de empresas em suas infraestruturas e o desenvolvimento de instrumentos que favoreçam a inovação. Em geral ainda conhecemos pouco o Marco Legal e temos dificuldade em aplicá-lo, por isso ele ainda não promoveu as mudanças esperadas”, afirmou Alvaro Prata.

Assista ao webinário na íntegra:

A edição de outubro acontecerá no dia 29 de outubro, com a presença da Profa. Rosana Rodrigues Heringer e da Profa. Sabine Righetti. Veja detalhes, clicando aqui.