Professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências, a farmacêutica Julia Helena Rosauro Clarke é um daqueles casos em que a ciência corre nas veias. Sua mãe, Nara Maria, foi professora de matemática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enquanto o pai, Robin Thomas, e o irmão, Thomas, são engenheiros e pesquisadores pela mesma instituição.

Por crescer nesse meio, a pesquisadora foi ambientada desde cedo ao ambiente universitário e laboratorial, e também à busca pelo conhecimento intrínseca da ciência. “Eu acompanhava minha mãe no trabalho e sempre gostei de observar os experimentos que realizava no Pavilhão Hídrico da UFRGS. Na escola, sempre gostei das aulas em laboratório – até o laboratório de física me atraía. Na hora do dever de caso, os que mais me divertiam eram aqueles que envolviam algum tipo de pesquisa, que eu fazia usando enciclopédias e livros na biblioteca. Ficava horas buscando cada informação e detalhe sobre o assunto”, recorda.

Mas apesar da família ter vocação para as Exatas, Julia seguiu um caminho diferente. Desde pequena ela era encantada por desvendar os enigmas do cérebro, afinal, é ele que controla o que fazemos e quem somos. Esse fascínio e a aptidão para a química orgânica no colégio foram determinantes para que ela escolhesse cursar Farmácia na faculdade.

Ao ingressar no curso da UFRGS, a Acadêmica logo começou a fazer iniciação científica no laboratório do professor Iván Izquierdo, célebre membro da ABC falecido em 2021. “Lá convivi com pessoas fantásticas e inspiradores, que me ensinaram muito, como o Prof. Martín Cammarota, hoje professor da UFRN, e o próprio Izquierdo, meu orientador no mestrado e doutorado. Também passei muitos meses na Espanha, no laboratório do professor José María Delgado García”, lembra a Acadêmica de seus orientadores.

Em 2014, Julia Clarke conseguiu uma posição de professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde hoje lidera um grupo de pesquisa sobre como fatores ambientais – como agrotóxicos, vírus, bactérias e até o estresse – moldam o nosso cérebro. Dessa forma ela volta àquele enigma que tanto a fascinava quando pequena, dessa vez para trazer respostas que possam melhorar nossa saúde, desde a infância até a terceira idade. “Contribuir para o avanço e o bem-estar da humanidade é o que me fascina na ciência”, afirma.

Agora na ABC, ela espera poder contribuir para ampliar os horizontes da ciência, difundindo o interesse pela área entre jovens e minorias sociais. “Cientistas não precisam ser só velhinhos de cabelo bagunçado, podemos ser mulheres, mães, pessoas LGBTQIA+, negros e indígenas. Pessoas diversas precisam chegar cada vez mais alto na hierarquia acadêmica”.

Fora da academia, Julia adora praticar esportes, sobretudo o crossfit e o ciclismo, e ama estar em contato com a natureza. Agora no Rio de Janeiro, a gaúcha nunca esqueceu suas raízes e gosta de voltar para a serra gaúcha, seu refúgio, sempre que pode.