O cientista da computação Uéverton dos Santos Souza, novo afiliado da ABC, é exemplo do porquê devemos pensar em diferentes modelos de ensino superior para as diferentes realidades brasileiras. O Acadêmico estudou a vida inteira em escola pública e sua graduação só foi possível graças ao modelo inovador do Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (Cederj).

Nascido e criado em Três Rios, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais, Uéverton perdeu o pai quando tinha apenas três anos, o que obrigou sua mãe, Iracemar, a se desdobrar para criá-lo junto aos dois irmãos mais velhos, Uéliton e Uelisson. Apesar de não ter tido cientistas como modelo, Uéverton acredita que a vocação sempre esteve presente. Ele sentia-se empolgado com trabalhos escolares que exigiam pesquisa e considerava a escola uma extensão da própria casa.

No ensino médio o gosto pelas ciências exatas já existia, mas a computação não era sua prioridade. Entretanto, não existem tantas opções acessíveis de curso superior para um jovem do interior e o curso de Tecnologia e Sistemas da Computação do polo de Três Rios do Cederj surgiu como possibilidade viável. Nesse modelo de ensino semi-presencial os alunos acessam o conteúdo das disciplinas através de vídeo-aulas e materiais impressos.  Há tutorias presenciais nos polos onde podem tirar dúvidas com especialistas e onde também são realizadas as avaliações.

Isso se deu em 2006, muito antes da popularização contemporânea dos cursos EAD, mas até hoje esse misto de ensino à distância e presencial serve como boa referência. Nesse sentido, Uéverton foi um dos pioneiros dessa modalidade – sua turma foi apenas a terceira do curso – e hoje sua consolidação enquanto pesquisador é uma prova de que devemos fortalecer e valorizar o ensino à distância de qualidade. “O Cederj é o modelo pioneiro que deu origem à Universidade Aberta do Brasil (UAB), portanto sinto-me representando ambas instituições. Mas por se tratar de um modelo novo, havia uma certa descrença sob a qualidade dos egressos”, conta.

Descrença essa que o Acadêmico enfrentou e venceu ao longo de sua carreira. Ao fim da graduação, sua orientadora de trabalho de conclusão, Maise Dantas da Silva, o incentivou a buscar um mestrado com o professor Fabio Protti na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Lembro de chegar inseguro a UFRJ, mas ao longo do tempo tornou-se claro que minha formação não convencional não era uma barreira para desenvolver um bom mestrado”, lembra o Acadêmico.

Ao se formar mestre em 2010 logo ingressou no doutorado, com o mesmo orientador, dessa vez na Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesse período se mudou para Niterói e teve a oportunidade de cursar um período sanduíche na Universidade de Ulm, na Alemanha. Sua tese foi premiada pela Sociedade Brasileira de Computação e no concurso internacional de teses de doutorado do Centro Latino-americano de Estudos em Informática (CLEI), além de receber menção honrosa no Prêmio Capes de Teses.

Desde 2015, Uéverton é professor na UFF e, mais recentemente, foi contratado como professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), onde contribui na formação dos alunos do IMPA Tech, suas pesquisas se dão na área de algoritmos e complexidade, onde investiga os limites do poder computacional para resolver problemas. “Ao contrário do que popularmente se imagina, nem toda questão que podemos formular a uma máquina pode ser resolvida computacionalmente e, dentre aquelas que podemos resolver, algumas podem demandar tanto tempo que na prática tornam-se inviáveis.  A compreensão do que é tratável ou intratável computacionalmente é uma das questões centrais de minha linha de pesquisa”, explica.

Agora na ABC, o Acadêmico está orgulhoso de seu reconhecimento entre os pares e considera um sinal de que está no caminho certo. “O fato de não existir, não significa que não pode ser criado.  A busca incessante pelo novo me encanta na ciência.  Gosto de pensar que a Computação é um ramo muito novo e, como tal, há muito espaço para sermos criativos e pensarmos em soluções até então não exploradas”, reflete.

Mas nem só de ciência vive o cientista. Morando em Niterói, Uéverton passou a usufruir das atividades ao ar livre que a cidade oferece, como a canoagem havaiana pela Baía de Guanabara e as diversas trilhas naturais. “As praias de Niterói são bem próximas da boca da barra, o que significa que suas águas são constantemente renovadas, permitindo passeios bem agradáveis. O contato com a Baía de Guanabara traz muitas surpresas, remar ao lado de tartarugas é uma delas”, finaliza o Acadêmico.