O físico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Paulo Artaxo, um dos maiores especialistas em mudanças climáticas do Brasil, participou de uma reunião em Brasília, no dia 17 de setembro, com as principais autoridades dos Três Poderes. Estavam presentes o presidente da República, os presidentes das duas casas legislativas, ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante cerca de meia hora, o Acadêmico apresentou a questão das mudanças climáticas e seus impactos particulares no Brasil, que está situado numa região muito vulnerável e verá aumentar fenômenos extremos de secas, enchentes e aumento do nível do mar. Artaxo frisou que o fato de o país ter uma matriz energética fortemente dependente de hidrelétricas é um fator positivo para pensar a descarbonização, mas também é uma vulnerabilidade num cenário de mais secas.
Outros riscos estão nos impactos das estiagens no agronegócio, principal motor da economia nacional, e a possibilidade do nordeste se tornar desértico. Mas o país tem também vantagens comparativas, além da matriz energética limpa, temos um potencial eólico, solar e de biocombustíveis enorme. Outra área que pode ser explorada é o mercado de carbono, que pode gerar divisas importantes se o país parar de destruir suas florestas.
Nesse ponto, Artaxo recomendou que o país precisa eliminar o desmatamento em todos os seus biomas até 2030, incluindo os desmatamentos legais. Para isso, é preciso fortalecer a fiscalização para coibir a ação de criminosos, principal vetor dos atuais incêndios. Em outro ponto, Artaxo enfatizou que é preciso cessar a exploração de petróleo e trabalhar em políticas de adaptação a uma crise que já chegou.
Para isso tudo, o Acadêmico defendeu reforçar o orçamento de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Centro Nacional de Prevenção, Controle e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“O que fiz foi apresentar a crise climática como um todo, primeiro para lidar com os incêndios, mas também com uma visão de longo prazo. Dentre as propostas, algumas foram mais polêmicas, como a eliminação do desmatamento legal e da exploração de petróleo no Brasil. Mas outras foram endossadas com unanimidade, como o aumento das penas para crimes ambientais. Acredito que o retorno das autoridades foi positivo, mas teremos que seguir acompanhando. A ciência não faz políticas públicas, ela só pode fazer recomendações”, afirmou Artaxo.