O biomédico Marcos Vinicius da Silva, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sempre foi uma pessoa muito eclética. Quando pequeno, tinha dificuldade em definir qual sua matéria favorita na escola, e talvez por isso conseguia ir bem em todas. Na hora de escolher a faculdade não foi diferente, levou todos os documentos para se inscrever no vestibular, em dúvida entre o direito, as ciências da computação e a biomedicina, e só escolheu o curso na mesa de inscrição, pressionado pelo técnico que o atendeu. A paixão pelas ciências da saúde já falava mais alto.
Marcos nasceu em Catalão, Goiás, mas toda sua família é de Minas Gerais. Na cidade viveu só três anos, depois se mudou para Sorocaba, São Paulo, até os dez. A família se mudava para acompanhar o pai, José Donizetti, por conta de seu trabalho. Em 1993, entretanto, as mudanças terminaram. José Donizetti e a esposa, Maria Nazaré, pegaram os filhos, Marcos e Mário, e voltaram para Uberaba, MG, onde vivem até hoje.
Logo no primeiro ano em Uberaba, o Acadêmico lembra com carinho do que chama de “primeira realização profissional”, uma medalha de honra ao mérito por ter escrito um pequeno livro infantil em um desafio escolar. O hábito de leitura sempre esteve presente, influenciado por suas professoras e pela prioridade que os pais davam ao estudo dos filhos. “Meus anos no ensino fundamental e médio foram intercalados entre a escola, o trabalho com a família, muita televisão e jogos, e muitos, muitos livros de literatura”, recorda.
Os livros que devorava solidificaram sua vocação para o trabalho acadêmico, que consiste no processo constante de ensinar e aprender. O gosto pela ficção científica e pelas histórias de detetive o ajudaram a criar uma imagem do cientista como algo que gostaria de ser quando crescesse. “Personagens como Professor Pardal, Mestre Yoda, os agentes Mulder e Scully, Dr. Emmett Brown, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, sempre povoaram meu imaginário”.
E foi assim, após passar em primeiro no vestibular para Biomedicina na Universidade de Uberaba – aquele que ele escolheu de última hora – que Marcos ingressou na vida acadêmica. A conquista do primeiro lugar foi crucial, pois significava um desconto de 80% na mensalidade, o que o permitiu continuar na faculdade. Seu primeiro estágio foi com análises clínicas em um hospital veterinário da cidade, mas foi só no fim da faculdade, ao desenvolver seu trabalho de conclusão, que conheceu a área onde faria carreira.
Sob orientação da professora Denise Bertulucci Rocha Rodrigues, desenvolveu um trabalho sobre a resposta imune de pacientes com a Doença de Chagas, patologia em que viria a se tornar especialista. “Durante este período, a professora Denise me passou as primeiras noções de método e escrita científica, se dispondo à me auxiliar no caminho da formação como pesquisador”, conta.
Mas esse caminho não foi sem incertezas. Após se formar em 2006, Marcos não sabia se seguiria para a pesquisa ou para as análises clínicas. A professora Denise o colocou em contato com seu esposo, o professor Virmondes Rodrigues Júnior, que aceitou orientar Marcos na pós-graduação em Medicina Tropical e Infectologia, com ênfase em Imunologia e Parasitologia. Ali
se iniciou uma profícua relação científica, passando pelo mestrado, doutorado, pós-doutoramento e parcerias de pesquisas, com dezenas de publicações científicas conjuntas, e a construção de uma grande amizade. “Serei sempre grato por esta oportunidade inicial e por todo o suporte que me deram ao longo dos anos, tendo enorme respeito, admiração e carinho por ambos”, agradece.
Durante o mestrado e doutorado na UFTM, sob orientação de Virmondes, Marcos pesquisou a resposta imune contra a tuberculose. Nesse período, trabalhou junto a Secretaria de Saúde de Uberaba ao recrutar pacientes para suas pesquisas, aprendendo sobre a importância da comunicação com o público não especializado. Aproveitando dezenas de oportunidades de colaboração neste período, se aprofundou no estudo de diversas outras doenças e pode iniciar a construção de redes de parceiros científicos. A pós-graduação consolidou seus conhecimentos de metodologia e o fez entender a ciência como uma atividade colaborativa, algo que não percebia até então. Foi nesse período também que passou a trabalhar com a cientista e também afiliada da ABC, Juliana Reis Machado e Silva, com quem se casou.
Em 2011, antes mesmo de completar o doutorado, Marcos ingressou como professor substituto na UFTM para a disciplina de Imunologia. Ao assinar o contrato, sentiu que estava realizando um sonho. “Percebi, de uma vez por todas, que esta é a carreira pela qual tenho paixão. Com o passar do tempo solidifiquei a percepção da importância do professor na sociedade, especialmente como formador de opinião e agente de transformação social”, avalia.
Atualmente, Marcos e seu grupo de pesquisa trabalham principalmente com Tuberculose, Leishmanioses e a Doença de Chagas, muito comuns no Brasil. “Conduzimos estudos desde a avaliação direta dos microrganismos em diferentes culturas celulares e a resposta do sistema imune até modelos experimentais e amostras de pacientes. De forma paralela e complementar, também avaliamos alternativas de diagnóstico e tratamento para estas e outras doenças infecciosas, utilizando compostos isolados de plantas, novos medicamentos sintéticos e diferentes tipos de nanotecnologia”, explica o cientista.
O Acadêmico entende a ciência como um agente civilizatório, prometendo lutar por políticas institucionais que fortaleçam o campo. “Como egresso do ensino público, vejo a necessidade de fomentarmos o ensino de ciências e de entusiasmar os jovens a seguir esta carreira, em especial naqueles cuja formação ainda é carente”.
Mas nem só de ciência vive o cientista. Além da já mencionada paixão por literatura, Marcos também adora o rock, filmes, séries e jogos eletrônicos. Sempre muito eclético, seus gostos variam desde a alta fantasia, passando pela ficção científica até filosofia e sociologia. Muito caseiro, diz que não é fã de viajar, preferindo passar o tempo livre com amigos e com a família que construiu ao lado de Juliana, que cresceu após a chegada de Ana Júlia, de apenas quatro aninhos.