A carreira da professora de química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Paula de Carvalho Teixeira é uma mostra de porque o Brasil precisa investir no ensino técnico. Agora diplomada como afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC), a trajetória da pesquisadora na química começou mesmo antes da graduação.

Ana Paula nasceu e cresceu em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O pai trabalhava como técnico numa indústria de tubos de aço e a mãe como costureira, podendo ficar mais em casa. O irmão mais velho, Paulo, foi o primeiro da família a cursar ensino superior, passos que seriam seguidos por Ana Paula mais tarde.

Desde pequena, a menina já tinha vocação para os estudos e era presença frequente nas bibliotecas das escolas por onde passou. “Lembro que podíamos pegar emprestado dois livros e uma revista em quadrinhos por semana e eu era usuária assídua dessa atividade. Sempre gostei de livros de aventuras, suspense, romance e essa continua sendo uma das atividades a qual eu mais dedico tempo atualmente”, conta.

Durante o ensino médio, Ana Paula teve a oportunidade de fazer paralelamente um curso técnico em biotecnologia, e foi lá onde sua caminhada na química começou. “Eu tive contato com disciplinas teóricas e práticas na área de química, bioquímica, microbiologia e desenvolvi maior interesse pela área. Além disso, também fiz um estágio em um laboratório de controle de qualidade de águas e tive certeza de que queria estudar química”, afirma.

Apesar do interesse, ao terminar o curso ela ainda não pensava em fazer faculdade, mas em seguir os passos do pai e trabalhar na indústria. Mas três anos após terminar o técnico, a jovem Ana Paula prestou vestibular e ingressou no curso de química da UFMG. Já no segundo período entrou para a iniciação científica em um laboratório de química teórica, e dois semestres depois mudou-se para um estágio com nanomateriais em um laboratório do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), onde seguiria até o mestrado.

No período de CDTN, ela atuou na pesquisa sobre síntese de nanomateriais de carbono. No doutorado, porém, a pesquisadora escolheu voltar para o Departamento de Química da UFMG e atuar na área de química ambiental, desenvolvendo materiais sustentáveis para a produção de biocombustíveis e tratamento de águas, assunto no qual já havia estagiado no ensino técnico. “Durante toda minha trajetória não posso deixar de destacar a importância dos meus orientadores e pesquisadores, que hoje são meus amigos: Adelina Pinheiro Santos, José Domingos Ardisson, Fernando Lameiras e Rochel Montero Lago”, agradece a Acadêmica.

Após o doutorado, Ana Paula ingressou como professora na UFMG onde seguiu atuando com materiais sustentáveis. “Uso diferentes tipos de resíduos, ou subprodutos, como rejeitos de mineração e biomassa para aplicações na área de energia, como produção de baterias para carros elétricos ou produção de hidrogênio; captura e uso de CO2 e remoção de contaminantes da água e do ar. Também fazemos parcerias com o objetivo de levar as tecnologias que são desenvolvidas na universidade para empresas e para a sociedade”, explica a pesquisadora sobre seu trabalho.

Outra área em que gosta de atuar é na extensão, levando a ciência para fora da universidade de uma forma lúdica. Afinal, estar em constante aprendizado é a característica que mais gosta na profissão. “Participo de projetos relacionados a criação de materiais, como kits, jogos, cursos e palestras para serem utilizados em escolas de educação básica”.

Mas nem só de ciência vive o cientista. Nas horas vagas, além de continuar sendo uma apaixonada por literatura, sobretudo a nacional, Ana Paula é ouvinte constante de MPB e da música mineira. “Nosso país é muito rico culturalmente e sempre tento aproveitar ao máximo o que temos de melhor. Também gosto muito de viajar, conhecer diferentes regiões do Brasil e do mundo”, conta a Acadêmica.