Karen Janones da Rocha nasceu em 1990, na cidade de Cacoal, no interior do estado de Rondônia, onde cresceu imersa na natureza. Seus pais vieram de outros estados, a mãe de Goiás e o pai do Paraná, cada um com sua história de busca por oportunidades.
A família da mãe de Karen sempre teve ligação com a terra, sendo seu avô sendo agropecuarista. Durante sua infância, a mãe trabalhava em uma loja de eletrodomésticos e estudava à noite. Por conta disso, a menina ficava muito com a avó materna. “Minha mãe se formou tecnóloga em contabilidade, obteve registro no conselho e, posteriormente, ingressou em um escritório de contabilidade como sócia”, conta, orgulhosa. O pai foi sozinho para Rondônia, aos 19 anos, em busca de trabalho em madeireiras. Embora não tenha concluído os estudos além da quinta série do ensino básico, sempre se orgulhou de sua habilidade em matemática. “Com o tempo, ele conseguiu abrir sua própria madeireira, e atualmente, ambos trabalham juntos cuidando do negócio”, contou a Acadêmica.
Enquanto isso, Karen crescia livre, no sítio e na floresta, desfrutando da natureza, andando a cavalo, pescando, acampando e nadando em rios. Ela conta que desde cedo compreendeu a importância de cuidar da natureza. Gostava de frequentar a escola, preferia ciências e matemática às outras disciplinas, mas não adorava estudar. Foi filha única por 18 anos: sua irmã Giovana nasceu quando Karen entrou na graduação. “Hoje ela tem 15 anos. E eu a amo mais que tudo no mundo”, disse emocionada, a cientista.
Seu interesse em ciência foi despertado pelo incentivo constante da mãe para que buscasse a educação superior, mesmo diante das dúvidas do pai. Pensou em cursar biologia, chegando a passar no vestibular aos 15 anos. Contudo, seu pai não aceitava a ideia, porque achava que a área ofereceria poucas oportunidades financeiras. Após muitas discussões e pesquisas, Karen percebeu que a engenharia florestal envolvia mais do que simplesmente fazer planos de manejo para serrarias. “No final, tornei-me professora e descobri que é uma das coisas mais gratificantes da minha carreira”, confessou.
Embora não tenha tido um modelo claro, durante a graduação pela Universidade Federal de Mato Grosso Karen Janones encontrou referências em profissionais e pesquisadores que a fizeram refletir sobre o caminho a seguir. No terceiro ano da graduação, entrou na iniciação científica como voluntária. “Minha principal motivação era trabalhar com mogno e encontrei um docente com um experimento de plantio da espécie, que se tornou meu tema do trabalho de conclusão de curso” relatou. Ao longo da iniciação científica, explorou outras espécies, projetos de silvicultura, tecnologia da madeira e manejo florestal.
O envolvimento com a pesquisa durante a iniciação científica despertou seu encanto pela área e levou Karen definitivamente para a área acadêmica. Fez uma especialização em Georreferenciamento e Geoprocessamento de Imóveis Rurais e Urbanos, pelo Instituto de Pós-Graduação e Assessoria em Educação Superior de Mato Grosso, e outra em Gestão Ambiental, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A seguir, decidiu pelo mestrado em Ciências Florestais e Ambientais pela UFMT, quando se concentrou no manejo de florestas nativas, e depois pelo doutorado em Engenharia Florestal na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no qual aprofundou os estudos no manejo de florestas plantadas.
No primeiro ano do doutorado, surgiu a oportunidade de concurso para docente na Universidade Federal de Rondônia (Unir), o que lhe permitiu voltar para “casa”. Hoje é professora adjunta da Unir nas áreas de Manejo Florestal, Conservação de Ecossistemas Florestais e Silvicultura Preventiva, e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Ciências da Natureza e Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas Amazônicos. Também coordena a linha de pesquisa de Crescimento e Produção Florestal do Laboratório de Recuperação de Ecossistemas Produção e Florestal (REProFlor) da Unir/Campus Rolim de Moura e é editora-chefe da Revista Brasileira de Ciências da Amazônia (RBCA).
“Atualmente, dedico-me a projetos de implantação e manutenção de florestas plantadas em Rondônia. Essa iniciativa não apenas impulsiona a economia local e regional, mas também é crucial para a recuperação de mais de 400 mil hectares de áreas de preservação permanente e reserva legal em mais de 27 mil propriedades”, explicou a pesquisadora.
Karen aponta que o plantio de eucalipto tem se destacado no estado, especialmente devido à busca por fontes de energia renovável. O eucalipto, conhecido por sua rápida taxa de crescimento, adaptabilidade e produção de madeira de alta densidade, é uma peça-chave na produção de carvão. No entanto, a falta de informações sobre o crescimento e potencial para uso energético dessas árvores em todo o estado é um desafio.
“Meu trabalho visa reunir dados sobre o desempenho do eucalipto, orientando os produtores na escolha de materiais adequados e nas expectativas de rendimento. Isso não só impulsiona a eficiência dos reflorestamentos, mas também contribui para a competitividade de Rondônia no cenário nacional e global do agronegócio”.
Karen Janones aprecia sua ciência por fazer descobertas e obter resultados que impactem diretamente a vida da comunidade local e o meio ambiente, não só de forma local, mas também global. Para ela, o título de membro afiliado da ABC representa um reconhecimento e lhe dá a oportunidade de contribuir com a comunidade acadêmica. “Pretendo atuar colaborativamente, compartilhando conhecimentos e experiências, e participar ativamente de iniciativas que promovam o avanço científico e tecnológico em minha área de atuação”, destaca.
Em sua trajetória acadêmica e profissional, o conselho de sua mãe para buscar ser a melhor tornou-se um lema importante, influenciando sua dedicação e seus sonhos. “Minha aspiração é deixar contribuições significativas que perdurem na memória daqueles que ficam, tanto na minha vida profissional quanto pessoal.