A Acadêmica Denise Carvalho, presidente da Capes, representou o ministro Camilo Santana na plenária intitulada “As universidades públicas no Brasil: presente e futuro”, dentro da programação da 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, realizada em Brasília entre os dias 30 e 31 de julho e 1o de agosto.
Ela falou sobre a situação do ensino superior, que é chave para o desenvolvimento do país. “Os principais desafios começam na retenção dos estudantes no ensino médio e, a seguir, nas universidades. Para tanto, precisamos de mais cursos noturnos, com adequação e melhoria da qualidade de infraestrutura, de modo a ampliar o número de matrículas e de formandos.”
De acordo com a professora Denise, uma pessoa graduada tem chance de receber salários 2,5 maiores que as não graduadas. Mas a graduação tem que oferecer ensino de qualidade, o que não vem acontecendo no país, onde 78% das matrículas no ensino superior são em instituições privadas, que oferecem cursos à distância sem docentes responsáveis pelos cursos, salvo algumas honrosas exceções.
A representante do MEC reconhece a necessidade da expansão do ensino à distância. “Para tanto, estamos investindo na ampliação da Universidade Aberta do Brasil, que oferece e oferecerá cada vez mais EAD com qualidade. Além disso, esse ano lançaremos um novo marco regulatório da educação à distância”.
Embora apenas 22% das matrículas no nível superior hoje sejam em universidades públicas, 60% da produção científica brasileira, que está em 14º lugar no mundo, é feita em 15 universidades públicas, sendo quatro estaduais e 11 federais. Os programas de pós-graduação estão majoritariamente nas universidades públicas e sua qualidade vêm aumentando progressivamente. “Estamos num processo de reconstrução. Até o final desse ano lançaremos iniciativas importantes, recomendo que acompanhem de perto.”
Participando da plenária como debatedor estava o Acadêmico Rodrigo Capaz, professor de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é membro do grupo de trabalho sobre Educação Superior da Academia Brasileira de Ciências.
Representando o grupo, ele identifica uma unanimidade: para qualquer estratégia de desenvolvimento do país é fundamental aumentar o número de pessoas com nível superior. Mas ressalta que a estratégia para atrair mais alunos para o ensino superior público, gratuito e de qualidade precisa ser ousada, gerar vagas aos milhões”, ressaltou.
No Brasil, apenas 23% dos jovens de 25 a 34 anos estão na universidade, sendo que a média da OCDE é de 47,2%. E em 2022, tivemos apenas 2.400 inscritos no ENEM, a maior porta de entrada para o ensino superior no Brasil, sendo que em 2016 tivemos três vezes mais jovens fazendo o exame. Ou seja, os jovens estão se afastando da universidade.
Mas como democratizar o acesso ao ensino superior público de forma economicamente eficiente e sustentável? Nesse ponto, o GT da ABC discorda da estratégia de investimento expansão do número de universidades que vem sendo realizada.
“Nossa proposta é investir na diversificação de escopo e de custo por aluno. Para isso precisamos de ampliar a oferta de cursos tecnológicos com formação em dois ou três anos. Cursos públicos de boa qualidade, como as Fatecs, precisam ganhar escala”, destacou Capaz.
O Acadêmico aponta que nos países onde o ensino superior é massificado, existe uma saudável diversificação das instituições e uma saudável mobilidade entre elas. “Em nenhum país a massificação do ensino superior é feita através das ‘universidades de pesquisa’, em cursos de quatro a seis anos.”
Além disso, a realidade brasileira é que mais da metade dos jovens que estudam presencialmente hoje nas universidades públicas, precisam trabalhar ou estagiar. Por isso, buscam cursos noturnos. “Essa oferta tem que crescer, se quisermos atrair e reter mais estudantes”, observou o palestrante.
Também presente como debatedora na plenária, a presidente da União Nacional dos Estudantes, Manuela Mirella, da Universidade Federal de Pernambuco, reforçou a disposição e compromisso dos estudantes. “Como dizia Darcy Ribeiro, queremos contribuir com a construção não da universidade dos nossos sonhos, mas com a universidade que o Brasil precisa.”