Desenvolver uma agricultura mais produtiva e de menos impacto ambiental é um dos grandes desafios do século 21. Como parte do último dia da Reunião Magna 2024, a Academia Brasileira de Ciências teve a honra de receber no Museu do Amanhã o diretor de Pesquisa para a Indústria e Chief Technology Officer (CTO) de agricultura e alimentos da Microsoft, Ranveer Chandra. Ele compartilhou algumas das experiências da empresa no desenvolvimento de soluções para o setor nos EUA, no Brasil e na Índia.

Chandra lembrou que a agricultura do futuro é a de precisão. Mas mesmo que esse conceito tenha sido introduzido há 40 anos, ele ainda não decolou. Os motivos para isso giram em torno de custos proibitivos e dificuldades de inserção dessas tecnologias entre os fazendeiros. “Nossa meta é a democratização no acesso a soluções baseados em big data e inteligência artificial de forma que qualquer agricultor possa utilizar”, disse.

Ranveer Chandra, CTO em AgriFood da Microsoft

Mas para isso, existem alguns desafios. O maior deles é o da conectividade no campo. A maior parte das propriedades rurais possui sinal de internet nas casas, mas isso não é necessariamente verdade para todo o resto. O problema é que para se ter um acompanhamento continuado da produção agrícola é preciso a coleta de informações justamente onde o sinal é escasso. “Estamos trabalhando para levar sinal de wi-fi através de sinais de televisão, mais precisamente de frequências vagas que não possuem um canal associado. Também estamos tentando métodos similares para fazer isso por satélite, sem precisar de antenas”, contou Chandra.

Diminuir a dependência de infraestruturas nas fazendas é importante, pois um dos gargalos é o custo de equipamentos necessários à agricultura de precisão. Cada vez mais fica claro que o ideal é que os agricultores possam fazer a maior parte das medições utilizando seus próprios celulares. Chandra vem trabalhando numa forma de possibilitar medições de umidade do solo através de smartphones, e mostrou-se esperançoso de que a tecnologia permita um dia também medições de taxas de carbono.

Outras inovações apresentadas são o uso de chatbots, ou seja, sistemas de IA generativa de texto, como verdadeiros “assistentes agrícolas”. Essas plataformas podem utilizar os dados da fazenda para definir pontos ótimos para instalação de sensores, detectar pragas e doenças, ajudar o fazendeiro a navegar em questões de regulação e até mesmo guiar a manutenção de tratores. “Como experimento, fizemos nossas plataformas realizarem exames de agências reguladoras da agricultura nos três países, e elas tiveram notas suficientes para a aprovação. São tecnologias que não substituem o agrônomo, mas podem servir como uma segunda opinião”, contou Chandra.

Como resultados iniciais, Chandra apresentou a visão de alguns fazendeiros que colaboram com a empresa na utilização e testagem dessas soluções. Em um caso de sucesso, uma propriedade rural nos EUA pôde diminuir o uso de agrotóxicos em 38%. Esse é um exemplo de como tecnologias disruptivas podem contribuir para reduzir custos e gerar uma produção mais sustentável.

Assista a palestra a partir de 2h55m:

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