Agência Fapesp – Representantes das academias de ciências de 19 países, da União Europeia e de organizações científicas do Brasil e do exterior se reuniram no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (11/03), no primeiro dia da Reunião de Iniciação do Science20 (S20).
A reunião, que foi organizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), continua nesta terça-feira e marcou o início oficial do S20 Brasil 2024 e do processo que resultará na produção de documentos temáticos com recomendações e uma declaração final, a ser apresentada na Reunião de Cúpula (S20 Summit, em julho) e encaminhada aos chefes de estado e de governo do G20.
O G20 é o principal fórum de cooperação econômica internacional. Desempenha um papel importante na definição e no reforço da arquitetura e da governança mundiais em todas as grandes questões econômicas internacionais. A Cúpula de Líderes do G20 será realizada nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, com presidência brasileira.
Entre as novidades deste ano está o G20 Social, espaço de participação e contribuição da sociedade civil nas discussões e formulações de políticas relacionadas à Cúpula. O G20 Social abarca as atividades de 13 grupos de engajamento, entre os quais está o S20, grupo de engajamento do G20 para a área de ciência e tecnologia, responsável por promover diálogo entre as comunidades científicas em temas críticos e produzir recomendações para os chefes de governo e de estado do G20.
“O Brasil propõe colocar no centro de sua presidência questões relacionadas às assimetrias globais de acesso e desenvolvimento de produção de ciência, tecnologia e inovação”, disse Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, na sessão de abertura da Reunião de Iniciação do S20.
Um dos pontos destacados pela ministra foi a bioeconomia. “Quando o cenário parece desafiador, abre-se uma janela de oportunidades para que as economias que já são de baixo carbono consigam embarcar em uma revolução verde e tecnológica que está em sua fase inicial. É importante destacar a necessidade de a comunidade internacional fazer regras comerciais mais favoráveis às indústrias verdes emergentes em economias em desenvolvimento e reformar direitos de propriedades intelectuais que facilitem a transferência de tecnologias para esses países”, disse.
A ABC tem a responsabilidade de organizar a 8ª edição do S20. Análogo ao G20, o S20 possui um secretariado rotativo não permanente e opera como um fórum, sendo suas cúpulas realizadas anualmente, geralmente antes da respectiva cúpula do G20. As edições passadas do S20 foram realizadas na Alemanha (2017), Argentina (2018), Japão (2019), Arábia Saudita (2020), Itália (2021), Indonésia (2022) e Índia (2023). O mote da presidência brasileira para o G20 é “Construir um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”. A ABC, por sua vez, definiu “Ciência para a Transformação Mundial” como lema para a edição de 2024 do S20.
Segundo a ABC, como vários temas poderiam ser discutidos sob esta ampla perspectiva, decidiu-se implementar cinco forças-tarefa distintas: Bioeconomia (Impulsionando o mundo em direção a um planeta sustentável), Desafios de Saúde (Qualidade, equidade e acesso), Inteligência Artificial (Ética, impacto social, regulação e partilha de conhecimento), Justiça Social (Promover a inclusão, acabar com a pobreza e reduzir as desigualdades) e Processo de Transição Energética (Energias renováveis, considerações sociais e econômicas).
“Ao assumir a missão de sediar o G20, o Brasil reforça seu papel de influenciador e mediador na busca por resolver questões globais. O país ressurge como liderança em debates que colocam a ciência como protagonista na busca de soluções para temas urgentes”, disse Helena Bonciani Nader, presidente da ABC, sherpa (líder local) do Science20 Brasil 2024 e integrante do Conselho Superior da FAPESP.
Na Reunião de Iniciação do S20, os representantes das academias nacionais de ciências discutiram o documento preparado pela ABC como base para orientar a produção do documento com recomendações para ciência, tecnologia e inovação que o S20 vai preparar para a reunião do G20 em novembro.
“O tema escolhido para esta reunião, ‘Ciência para a Transformação Mundial’, é particularmente relevante para nós na África do Sul e na parte sul da África, e a chave para isso é a colaboração e a cooperação entre parceiros. Devemos trabalhar juntos para desenvolver e alcançar alguns desses objetivos. Quando olhamos para a saúde, por exemplo, não se trata apenas de equidade e acesso, mas também de oferecer uma saúde de qualidade, com uma abordagem holística e de inclusão. Em termos de inclusão social e sustentabilidade, as prioridades para acabar com a pobreza e reduzir as desigualdades são absolutamente críticas, tal como a inclusão das comunidades indígenas ou o empreendedorismo, que permitirá o crescimento econômico”, disse Stephanie Burton, presidente interina da Academia de Ciências da África do Sul.
“Podemos reduzir a desigualdade por meio da tecnologia. Precisamos buscar tecnologias que melhorem e que encorajem a diversidade, e isso é uma tarefa enorme. Temos que desenvolver ferramentas tecnológicas transformadoras que promovam a equidade e a inclusão da diversidade. Um bom exemplo está no desenvolvimento de uma boa tradução automática e em tempo real, de modo que não precisemos falar todos a mesma língua, mas que possamos entender uns aos outros falando em nossa própria língua”, disse Ashutosh Sharma, representante da Academia Nacional de Ciências da Índia.
Além de apresentações das academias e de organizações científicas de países do Grupo dos Vinte (G20), o evento tem conferências e terá a apresentação de uma nova iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) focada no aprendizado em ciências para a educação, a Unesco Global Alliance of Science Learning for Education.
Mais informações: https://s20brasil.org/sobre/.