Líder e xamã do povo yanomami, Davi Kopenawa não poupou críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Exército seis meses após o decreto de estado de emergência instaurado na maior terra indígena do Brasil. Uma combinação de crise na gestão da saúde e o aumento do garimpo levou à tragédia sanitária com quadros graves de desnutrição de crianças e sequência de mortes que chocaram o país no início do ano.
Kopenawa afirma em entrevista ao GLOBO que Lula está “muito devagar” com as ações na área da saúde e também na retirada dos invasores pelas forças de segurança nas comunidades distribuídas pelo estado de Roraima. “O Exército cruzou os braços, não quer saber de ajudar o meu povo, não quer saber de proteger a Floresta Amazônica. O governo tem que retirar os garimpeiros até acabar, até arrancar tudo. É isso o que nós precisamos “.
O líder indígena comentou os dados divulgados nesta quarta-feira pelo relatório “O sofrimento continua: Um balanço dos primeiros meses da emergência Yanomami”, uma crítica às ações do novo governo que “não conseguiram frear significativamente o avanço da malária”.
Seis meses após o decreto de emergência pelo governo o que mudou no território Yanomami?
Só melhorou e serviu para acalmar nós por um tempo. Na verdade, essa emergência foi feita só para nos acalmar. Não é para ficar bom de saúde, pois os inaomâmis continuam muito doentes. Isso não melhorou, não! Só vai melhorar quando chegarem médicos, equipamentos, uma equipe boa, essa é outra missão, essa é outra luta. Mas esse decreto emergencial foi só para apagar fogo, como se bombeiros fossem ali só para apagar um foco do incêndio. Lá em Surucucu (região localizada no extremo oeste de Rorama e próxima à fronteira com a Venezuela), eles foram. Mas nas demais comunidades que estão sofrendo não chegou nada. Os ianomâmis continuam morrendo.
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