Para abrir a primeira tarde do encontro “Science By and For the Amazon”, que reúne representantes das academias membras da Rede InterAmericana de Academias de Ciências (Ianas), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) convidou a secretária-geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazonica (OTCA), Maria Alexandra Moreira Lópes, advogada com especialização em direito econômico e ambiental que foi ministra a do Meio Ambiente e Água (2015 a 2017) e atuou por anos no Ministério das Relações Exteriores.
O Tratado de Cooperação Amazônica foi assinado em 1978 pelos oito países amazônicos, exceto a Guiana Francesa. O espírito do documento é servir como um acordo entre Estados, não governos, fortalecendo o intercambio científico entre os membros e focando nos vastos recursos ambientais da região. Em 1995, para supervisionar a implementação do acordo, foi criada a OTCA.
A partir desse breve histórico, Lópes tratou das questões atuais do bioma, algumas das quais são problemáticas e persistem por décadas. “Até a década de 80, a Amazônia era vista como periférica por todos os países. Lamentavelmente, muito desse pensamento continuou”, ressaltou.
A OTCA articula iniciativas como Observatório Regional Amazônico (ORA), que monitora as condições da floresta e propicia um fluxo constante de informações entre instituições científicas e autoridades. Agora, o mais novo projeto da organização é o mapeamento e o estudo dos aquíferos amazônicos. “Conhecemos muito sobre o aquífero Guaraní, mas quase nada sabemos sobre os sistemas de águas subterrâneas da Amazônia”.
Projetos como esse cumprem com as diretrizes do tratado, mas nada impede que iniciativas fora da OTCA também sigam o mesmo espírito. É o caso do Painel Cientifico para a Amazônia (SPA), que reuniu cientistas do mundo inteiro para gerar o maior levantamento de dados e conhecimento sobre a região já feitos. Essas ações são cruciais, mas demandam continuidade. “Relatórios demoram anos para serem feitos, então já nascem desatualizados. É preciso manter um esforço constante para manter as informações atuais”, afirmou López.
Outro ponto abordado foi a questão da bioeconomia. Para López, não existe uma definição concreta para a palavra, mas sua definição varia para cada país. “Se estamos buscando uma definição concreta é porque não entendemos a multiplicidade do tema”.
Segundo ela, já existem mais de 64 tipos de produção e manufaturas espalhadas pela Amazônia que podem ser consideradas bioeconomias. Juntos, esses empreendimentos movimentam valores na casa dos 170 bilhões de dólares anuais. “Para se ter uma ideia, o mercado de carbono ainda está na casa dos milhões de dólares. É preciso entender onde estão as verdadeiras soluções”.
Mas para que essas ações evoluam e ganhem escala, é preciso ciência. Em especial, é preciso pesquisa aplicada que gere dados e inovações em culturas e produtividade sustentável. “Se não fornecermos opções para os modos de produção de valor baseados no extrativismo, não conseguiremos nunca trazer as populações locais para o nosso lado”, finalizou.
Acesse aqui a gravação na íntegra.
Leia as matérias da ABC sobre o evento:
- Ciência Para e Pela Amazônia
- Líder indígena aponta caminhos para integração em evento ABC-Ianas
- Apresentação das academias de ciências dos países amazônicos
- Andrea Encalada apresenta o SPA em evento ABC-Ianas, em Manaus
- Tratado de Cooperação Amazônica em debate no evento ABC-Ianas
- Evento em Manaus tem grande repercussão na mídia