Toda semana, às 3as feiras, o jornalista Roberto D’Avila, formado em direito e história, recebe personalidades de destaque em para uma conversa franca e reflexiva sobre política, economia e cultura em seu programa na GloboNews, no ar desde 2014.

Na noite de 25 de abril, a convidada foi a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Bonciani Nader. Assista a  entrevista na íntegra no link mais abaixo e veja um compilado de highlights das respostas de Nader a seguir.

CIÊNCIA E EDUCAÇÃO: PILARES DA SOCIEDADE DESENVOLVIDA

“No mundo desenvolvido a ciência é considerada investimento, mas no Brasil ainda era considerada gasto. Ciência não é gasto, é investimento. Plantamos hoje para colher amanhã.”

“Este governo já sinalizou que quer fazer da ciência e da educação pilares para o sucesso econômico, ambiental e social do Brasil. Se não houver investimento em pesquisa, não há futuro.”

“Em qualquer nação desenvolvida do mundo, o investimento na ciência básica é feito pelo Estado. O empresariado vai investir na tecnologia e na inovação, ou seja, vai se valer do investimento que foi feito pelo Estado para gerar riqueza para o país. Nos EUA, mesmo a pesquisa feita nas universidades privadas é financiada pelo Estado.”

“Não adianta dizer que é preciso ciência, se não houver educação. Sem educação não há ciência, e sem ciência não há tecnologia e muito menos inovação.”

JUVENTUDE E CIÊNCIA: O FUTURO DAS NAÇÕES

“Os jovens não veem mais na ciência nem na docência carreira que os estimulem. O último governo manifestou profundo descaso pela ciência e pela educação. A fuga de cérebros ainda vai continuar por um tempo, enquanto a gente não conseguir mostrar para o jovem que aqui é o futuro.”

“A universidade brasileira tem que fazer uma autocrítica. Ela tem que ver que estamos no século XXI e como vamos nos adaptar para atrair esse jovem que é do século XXI. Juntos, temos que fazer uma discussão muito aberta com todas as vertentes envolvidas, porque estão sobrando vagas nas universidades públicas. E esse tempo tem que ser muito rápido, porque o resto do mundo não está parado esperando a gente acordar.”

CIÊNCIA E RELIGIÃO

“As religiões não deveriam afetar a ciência, mas estão afetando. Houve uma mudança no Brasil recentemente quanto à laicidade do Estado. Ele é laico, mas não muito. Discussões sobre se a Terra é plana, sobre criacionismo, vira e mexe isso aparece. Temos que ver que a Bíblia foi escrita para um público que não é o mesmo de hoje. A ciência não contesta a religião, a não ser temporalmente.”

“Quando eu vejo o número de crianças nesse país que ainda não estão vacinadas contra poliomielite e sarampo… as pessoas esqueceram o que causam essas doenças que já estavam extintas. Religião e ciência podem caminhar juntas, eu não quero impor religião a ninguém, mas eu não posso deixar que a religião bloqueie o avanço da ciência.”

“Estamos voltando a discutir o que é um processo civilizatório. O que a gente espera? Nós andamos pra trás, muito pra trás. Por exemplo, a ABC e a SBPC lutaram muito para chegar ao Código Florestal vigente, que não foi o que a gente queria, mas foi melhor do que o que estava sendo proposto, chegamos a um acordo. E agora está se discutindo ‘perdoar’ em vez de ‘implementar’? A ciência está cobrando, sim, pelo bem civilizatório do Brasil.”

ÁREAS ESTRATÉGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

“As áreas de potencial sucesso que precisam de maior investimento? Uma é o complexo industrial da saúde. É preciso contar com o poder de compra do Estado. Se nós desenvolvermos essa indústria, ela vai além do Brasil, vai pegar todo o hemisfério Sul, que não é só América Latina e Caribe, é a África também. Nós temos pra onde exportar.”

“Outra área para o crescimento científico do país é a que envolve o estudo da biodiversidade. Eu quero a floresta Amazônica de pé. Como é que eu faço isso? É com ciência. Porque não dá pra chegar pro ribeirinho e dizer que ele não tem direito de ter internet. Ele tem o direito, ele precisa. Como é que eu dou a ele essa condição mais cidadã e ainda mantenho a floresta de pé? Com ciência.”

O SONHO PARA O BRASIL

“O Brasil é maior do que os partidos. O povo brasileiro é que é o dono dessa nação e esse povo precisa de educação e de ciência. O meu sonho é que o Brasil acredite de fato que a ciência é o caminho para sair da crise econômica. Porque sem ela, não vai sair. É ter uma política de Estado, conforme está escrito na nossa Constituição – que é muito bonita, mas pouco aplicada. Eu acredito no Brasil. Eu espero que o Brasil acredite nele.”

Assista a entrevista na íntegra aqui