Leia a entrevista dada por Helena B. Nader para a Elsevier, publicada em 30 de março:

Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Academia Brasileira de Ciências desde a fundação da entidade, há 106 anos, a biomédica Helena Nader tem se mostrado uma defensora contumaz da paridade de gênero na ciência. No mês internacional das mulheres, a Elsevier Research Solutions Brasil tem a honra de entrevistar essa que é uma das mais respeitadas pesquisadoras brasileiras.

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Confira e entrevista:

Elsevier: A Academia Brasileira de Ciências existe desde 1916. Já teve 18 presidentes e a senhora é a primeira mulher a ocupar o cargo. Mais de um século para a ABC começar a ter pluralidade no âmbito da presidência. Quais ações estão em prática em seu mandato para aumentar a representatividade feminina na ciência? A propósito, há mais diretoras nessa gestão?

Helena Nader: Houve um aumento de membras eleitas nos últimos dez anos e, hoje, temos várias diretoras na gestão. A ABC está à frente de muitas academias de ciências mais antigas e tradicionais, como a alemã, a francesa… A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, por exemplo, tem 200 anos e só teve uma mulher presidente até agora, Marcia Mc Nutt, eleita em 2016 e ainda no cargo. O que aconteceu na ABC foi que percebemos a necessidade de uma busca ativa de mulheres altamente qualificadas para concorrer aos cargos. Esse trabalho foi retomado e, hoje, conseguimos alcançar o “meio a meio” entre homens e mulheres na nossa Academia. Uma das mulheres que chegou à ABC por meio da busca ativa, por exemplo, foi a nossa atual ministra da Saúde, Nísia Trindade. No entanto, se estamos melhorando em paridade de gênero, estamos muito aquém na questão de raça. A busca ativa da Academia também precisa ser racial, obedecendo aos mesmos critérios de impacto da produção científica do profissional. Numa academia de ciências, que é um grupo restrito, não podemos trabalhar com cotas, isso é importante que se diga. O processo de aprovação de membros se dá pela qualificação, pelo mérito.

Elsevier: A Academia tem membros em todo o país. Visto que temos realidades bem distintas em cada região brasileira, a questão da paridade de gênero na ciência também apresenta demandas diferentes?

Helena Nader: As condições da Região Norte são diferentes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste; assim, deveria haver programas de fixação dos pesquisadores nesses locais, mas não há. Não cabe à ABC promover isso, mas podemos mostrar que é algo importante, e isso nós fazemos. Com relação à população, a distribuição da ciência no país está bem equilibrada. A população do Estado de São Paulo é maior, a maior produção científica está em São Paulo e é de onde vêm mais membros para a ABC, seguido do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e assim por diante. Em 2022, tivemos uma nova entrada que felizmente vai na contramão dessa realidade: uma mulher, e do Norte, entrou para Academia, a ecóloga e cientista paraense Ima Célia Vieira, doutora, pesquisadora e ex-diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi. É claro que o que a gente sonha, como Academia, é com a equidade na ciência em todo o país.

Elsevier: Recentemente, a senhora teve um artigo publicado pelo jornal O Globo em que dizia que “pesquisadoras publicam mais trabalhos, mas ainda são minoria em cargos de liderança”; que apenas 35% das bolsas de produtividade (topo da carreira) são atribuídas às mulheres; e que, na pandemia, houve declínio no número de pesquisas desenvolvidas por elas. Enquanto mulher e presidente da ABC, como analisa esses dados e como enfrentar essa disparidade?

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Acesse a entrevista na íntegra, aberta, no site da Elsevier

Elsevier: A senhora acredita que organizações como a Elsevier, que tem sido considerada uma das melhores empresas do mundo para mulheres, possam ser fortes aliadas nesse processo de desenvolvimento e reconhecimento de mulheres em cargos de liderança através de parcerias, colaborações em eventos, algo que possa levar ainda mais incentivos e inspiração às mulheres?

Helena Nader: Certamente! E acho que a Elsevier, assim como tantas outras empresas, precisam falar mais intensamente sobre isso, deixar mais claro os impactos positivos que suas políticas têm para a sociedade, valorizar as ações que têm feito ao longo dos anos para estimular outras organizações. E sobre eventos e parcerias, será um prazer atuarmos juntos.