A principal demanda da comunidade científica brasileira nos últimos anos acaba de ser atendida, pelo menos parcialmente. Em cerimônia no Salão Nobre do Palácio do Planalto, o governo federal anunciou, em 16/2, um reajuste em diversas modalidades de bolsas e auxílios estudantis, a maior parte dos quais não era reajustada há dez anos.
As bolsas de mestrado e doutorado terão aumento de 40%, passando de R$ 1.500 para R$ 2.100, no mestrado, e de R$ 2.200 para R$ 3.100, no doutorado. Já no pós-doutorado, o acréscimo será de 25%, com aumento de R$ 4.100 para R$ 5.200. Desde 2013, data do último reajuste, as bolsas de pós-graduação perderam 80% de seu valor real devido à inflação acumulada.
As bolsas de iniciação científica, importante instrumento de estímulo a vocação para a ciência, também serão reajustadas. No caso de estudantes de ensino médio, o valor passará de R$ 100 para R$ 300, enquanto estudantes do ensino superior terão aumento de R$ 400 para R$ 700. A Bolsa Permanência, que auxilia estudantes es situação de vulnerabilidade socioeconômica a permanecerem na faculdade, terá acréscimos de 55% a 75%. Atualmente, os valores vão de R$ 400 a R$ 900.
Também foram anunciados reajustes de 40% a 75% nas bolsas para formação de professores da educação básica, que atualmente variam de R$ 400 a R$ 1.500.
A cerimônia
Perante um Salão Nobre lotado de representantes da comunidade acadêmica brasileira, foi formado um palco com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do ministro da Educação, Camilo Santana; da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; da Secretária de Educação Superior do MEC, a Acadêmica Denise Pires de Carvalho; da presidente da Capes, a Acadêmica Mercedes Bustamante; do presidente do CNPq, o Acadêmico Ricardo Galvão; do presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Vinícius Soares; da diretora da União Nacional dos Estudantes, Thais Falone e da doutoranda em Física pela Universidade de Brasília (UnB), Cícera Viana.
Cícera Viana abriu os discursos contando um pouco de sua trajetória acadêmica. Nascida no Piauí, ela foi a primeira da família a obter um diploma universitário e destacou a importância dos auxílios federais durante toda a carreira. Em sequência, os representantes da ANPG e da UNE saudaram de forma emocionada a resiliência dos estudantes brasileiros nesses dez anos de espera. “O Brasil volta à ciência”, sumarizou Vinícius Soares.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) esteve representada na cerimônia por seu membro titular Elibio Rech.
Repercussão na comunidade científica
O dia de hoje foi repleto de comemorações por parte da comunidade científica, com relatos vindos de todo o país de alunos e professores acompanhando ansiosos o anúncio oficial. Em matéria publicada no site oficial do governo, três Acadêmicas deram seus relatos sobre a importância dos reajustes. Confira:
Claudia Figueiredo – membra afiliada da ABC entre 2014 e 2019
“Essa situação [falta de reajustes] estava favorecendo uma elitização do estudo. A universidade é para todos e, com essa decisão, ganha a força humana da pesquisa. Temos potencial para mais orientandos, o que acreditamos que irá acontecer daqui para frente”
Normanda de Morais – membra afiliada da ABC eleita para o período de 2020 a 2024
“Como parte da comunidade científica brasileira, recebo com alegria a oficialização do reajuste no valor das bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Discentes da iniciativa cientifica e da pós-graduação são a base de um sistema nacional, que alimenta e faz acontecer a pesquisa de qualidade em nosso país. Não existe pesquisa de qualidade sem investimento devido em recursos humanos de qualidade, assim como não existe desenvolvimento nacional sem investimento na ciência. As bolsas representam uma distinção importante a pesquisadoras e pesquisadores que desenvolvem projetos inovadores, de reconhecido mérito científico e carreiras que se destacam em suas áreas, seja pelo quantitativo de publicações, número de citações, experiência na formação de recursos humanos e, sobretudo, pelo impacto e relevância social do que fazem. Esse anúncio traz à autoestima de todos nós – estudantes e pesquisadores – a ideia de que a pesquisa e a ciência voltam a ser valorizadas em nosso país. E que talvez nós, tão sofridos pelos desmontes dos últimos anos, podemos voltar a, efetivamente, acreditar e ‘realizar’ dias melhores, sendo devidamente reconhecidas e reconhecidos pelo que fazemos, cotidianamente. Mesmo nos dias mais difíceis que vivemos, teimamos em acreditar que ‘ciência salva vidas’ e que ‘não há desenvolvimento, independência e soberania nacional sem ciência’. Investimento em ciência é raiz de desenvolvimento, antes que consequência de países desenvolvidos. E, como tal, deve ser tratada como política de Estado.”
Tais Gratieri – membra afiliada da ABC eleita para o período de 2022 a 2026
“Uma decisão mais do que necessária. Havia uma defasagem significativa e é notória a baixa procura pela carreira científica, pelo desincentivo, além da crise que passamos, pelo descrédito da ciência, vivido nos últimos anos. Esperamos que os incentivos à carreira científica continuem, em todos os níveis. O país precisa de pessoas motivadas. A base da pesquisa são os jovens pesquisadores que estão na bancada, aprendendo sobre o funcionamento da pesquisa, como os mestrandos e doutorandos que estão realizando os mais diversos experimentos.”