Morre Isaías Raw, um herói da saúde pública brasileira

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Paulistano, Isaias Raw era fascinado por ciência desde adolescente, fazendo em casa todo tipo de experimento ao seu alcance. Aos 21 anos, em 1948, tornou-se um dos 269 sócios fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). 

Escolheu cursar medicina não para praticá-la, mas para poder pesquisar e ensinar. Ao longo do curso na Universidade de São Paulo (USP), onde completou tamebém o mestrado e o doutorado em bioquímica, dava aulas para o ensino básico, e continuou atendendo alunos deste segmento quando se tornou professor da casa. Raw e seu professor Jayme Cavalcanti criaram a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec) para produzir kits de madeira com materiais para experiências de química e biologia, distribuídos para escolas. A Funbec também fabricou eletrocardiógrafos, desfibriladores e outros equipamentos médicos até falir, em 1988. Raw também fundou as editoras das universidades de São Paulo e de Brasília, unificou os vestibulares de São Paulo (com Walter Leser), dirigiu a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec), criou a Fundação Carlos Chagas e o Curso Experimental de Medicina da USP.

Muito criativo, sempre teve ideias inovadoras e lutou para colocá-las em prática. Cassado pelo ​AI-5 em 1969, trabalhou na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, na Universidade de Harvard e no City College dos Estados Unidos durante dez anos. Ao voltar, no início dos anos 80, assumiu o Instituto Butantan, onde renovou os métodos de produção de soros e vacinas e desenvolveu outros produtos, como o surfactante pulmonar, para salvar recém-nascidos com dificuldades respiratórias. Foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências em 1987, na área de ciências biomédicas.

Isaías Raw sempre considerou estratégico para o país ser autossuficiente em imunobiológicos. Sob sua liderança, foi criado o Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos; a produção de soros foi modernizada, tornado-se um processo industrial automatizado, o que fez do Butantan modelo internacional na produção de soros.

A primeira vacina brasileira recombinante (contra hepatite B) também foi produzida sob sua supervisão, um caso exemplar de inovação nos anos 1990. A vacina de raiva humana produzida em cultura de células foi toutra de suas iniciativas, para substituir o imunizante produzido em cérebro de camundongos neonatos, que podia induzir doenças autoimunes. A vacina tetravalente da dengue em desenvolvimento no Butantan anos últimos anos foi projeto do falecido Acadêmico, assim como a implementação da produção da vacina da influenza sazonal para proteger também de influenzas pandêmicas. Assim, o cientista foi responsável por projetos em andamento com potencial inovador, impacto social e em saúde pública, como de produtos registrados pela Anvisa, produzidos e utilizados pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

Suas iniciativas no Butantan sempre buscaram equidade e benefício social para toda a população brasileira e mundial, com produtos eficazes e seguros, de qualidade e baixo custo, para uso gratuito nos programas de saúde como o PNI. É o suficiente para entender porque o falecido Acadêmico é considerado um dos grande heróis da saúde pública  no país. 

Entre outros prêmios e condecorações, recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico como comendador e depois como grã-cruz da Presidência da República do Brasil/ (1995 e 2001); o Troféu José Pelúcio Ferreira da Financiadora de Estudos e Projetos – Finep (2006); e a Medalha do Instituto Butantan do Governo do Estado de São Paulo (2000).

O cientista morreu em casa, na noite de 13/12, aos 95 anos, em São Paulo.

A Diretoria da ABC deixa seu abraço à família e amigos. 


Leia as informações usadas como fontes, do livro “Ciência para o Brasil: 70 anos da SBPC”, entrevista dada a José Roberto Ferreira, pgs. 43 a 49; Folha de S. Paulo, artigo de Paulo Lee Ho, ex-diretor do Instituto Butantan, 10/3/2021.

(Edição da GCOM ABC, com trechos do livro “Ciência para o Brasil: 70 anos da SBPC” e de artigo publicado na Folha de S. Paulo em 10/3/2021)