A 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas, COP 27, está sendo realizada em Sharm el-Sheikh no Egito, reunindo os principais especialistas globais das ciências naturais e sociais para debater como a questão das mudanças climáticas avançou desde a última COP, em 2021.

Com esse objetivo, e convocados pelas redes internacionais Future Earth, The Earth League, World Climate Research Program (WCRP), cientistas do mundo inteiro lançaram o relatório anual 10 Novos Insights na Ciência Climática.

O relatório compila as principais compreensões das pesquisas em mudanças climáticas obtidas neste último ano, sintetizando uma demanda crescente por mais ciência orientada à criação de políticas eficazes nesta década crucial para o clima. Os autores enfatizam as interações complexas entre as mudanças climáticas e outros fatores de risco, como conflitos, pandemias, crises alimentares e desafios do desenvolvimento.

O trabalho conclui que o potencial de adaptação às mudanças climáticas não é ilimitado. O desaparecimento de comunidades costeiras pelo aumento do nível do mar e o calor extremo intolerável para o corpo humano são exemplos de limites concretos à nossa capacidade de adaptação. Também destaca que mais de 3 bilhões de pessoas habitarão “hotspots de vulnerabilidade” – áreas mais suscetíveis à riscos climáticos – até 2050, o dobro de hoje.

O relatório destaca ainda que a dependência persistente de combustíveis fósseis exacerba as principais vulnerabilidades, principalmente na segurança energética e alimentar, e que uma mitigação profunda e rápida para combater esses principais motores das mudanças climáticas é imediatamente necessária para evitar e minimizar perdas e danos futuros.

A Acadêmica Mercedes Bustamante é uma das lideranças científicas na COP 27

“Pessoas e ecossistemas em diferentes lugares do mundo já são confrontados com enormes impactos e, se o planeta aquecer além de 1,5/2°C, pode-se esperar uma violação mais generalizada dos limites de adaptação. Os esforços de adaptação não podem substituir a mitigação ambiciosa”, disse a Profª Mercedes Bustamente, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“A ciência mais recente confirma os custos sociais crescentes dos extremos climáticos e a necessidade de não ultrapassarmos os limites da adaptação ou cruzarmos pontos de inflexão irreversíveis. À medida que os estudos avançam, temos mais evidências de custos massivos, riscos, mas também de benefícios globais da mitigação, por meio de um ancoramento ordenado e seguro do mundo dentro da faixa climática de Paris. Para ter sucesso, é necessário colaboração global rápida em uma escala sem precedentes”, diz o Prof. Johan Rockström, co-presidente da Liga da Terra e Diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático.

“Os tomadores de decisão devem reconhecer a interconexão dos desafios biofísicos-sociais e que as respostas mais impactantes não são isoladas. Mudar substancialmente a alocação de capital e uso da terra para uma mitigação significativa, decretando respostas políticas globais robustas e coordenadas para adaptação, perdas e danos, bem como desconstruir as barreiras para uma ação climática justa são algumas das abordagens identificadas no relatório para acelerar o cumprimento do Acordo de Paris”, diz o Prof. Chukwumerije Okereke, da Universidade Federal Alex Ekwueme, Ndufu-Alike, Nigéria.

Em 2022, o 10 Novos Insights na Ciência Climática aborda tópicos cruciais que são as principais áreas focais para os negociadores da COP27, desde adaptação e mitigação até as interseções do clima e sistemas alimentares, segurança e finanças:

  1. Questionar o mito da adaptação sem fim
  2. Os hotspots de vulnerabilidade agrupam-se em “regiões de risco”
  3. Novas ameaças no horizonte da interação clima-saúde
  4. Mobilidade climática: da evidência à ação preventiva
  5. A segurança humana requer segurança climática
  6. O uso sustentável da terra é essencial para cumprir as metas climáticas
  7. As práticas financeiras sustentáveis ​​privadas não estão conseguindo catalisar transições profundas
  8. Perdas e Danos: O imperativo planetário urgente
  9. Tomada de decisão inclusiva para o desenvolvimento resiliente ao clima
  10. Derrubar barreiras estruturais e dependências insustentáveis

“Precisamos de uma resposta urgente, global e coordenada para reverter as emissões de gases de efeito estufa e para garantir um futuro seguro e justo para a humanidade. Em um ano de crises combinadas, incluindo instabilidade geopolítica, eventos climáticos extremos e reverberações da pandemia, o relatório fornece resultados de pesquisa essenciais para decisões embasadas”, diz Wendy Broadgate, Diretora do Hub Global (Suécia), Future Earth.