Diego Stéfani Teodoro Martinez nasceu em 1982, em Três Lagoas, uma cidade pequena no interior de Mato Grosso do Sul (MS), onde passou a infância. É o mais velho de quatro filhos e foi o primeiro a ingressar na universidade. Bom aluno desde cedo, contou que a mãe nunca precisou se preocupar com ele na escola. Aos dez anos, seus pais se divorciaram, e o menino sentiu o peso da responsabilidade de ter que dar exemplo para os irmãos: “Tinha consciência, desde muito novo, que estudar era o melhor caminho para ‘crescer na vida’ e ajudar minha mãe a cuidar dos meus irmãos.”
Curioso, Martinez sempre gostou de entender como as coisas funcionam e sentia que a ciência o ajudava a entender mais profundamente os detalhes da vida cotidiana. “Eu tinha uma admiração grande pelas minhas professoras de química e biologia. Acredito que foram decisivas por despertar meu interesse em seguir nessa carreira”, observou o Acadêmico.
Ao fim do ensino médio, Martinez não tinha dúvidas de que gostaria de cursar a faculdade de química. Contudo, não havia esse curso em Três Lagoas e sua família não tinha condições financeiras de custear sua mudança para outra cidade. Ele optou, então, por prestar vestibular para biologia, curso no qual ingressou aos 17 anos, no campus avançado da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) em Três Lagoas. “Vivi a faculdade intensamente. Foram quatro anos excepcionais, de muito amadurecimento e crescimento na UFMS. A biologia virou paixão e profissão”, comentou Martinez, destacando as amizades, os sonhos e o desejo de se tornar um profissional competente no futuro. Nesse período, ele se aprofundou em bioquímica – e começou a entender que poderia viver a sua vocação, juntando química e biologia.
Martinez concluiu a graduação em 2003 e, no ano seguinte, mudou-se para cursar o mestrado em biologia funcional e molecular na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao longo dos dois anos de mestrado, o cientista cultivou sua vocação para pesquisa e manteve a cabeça aberta para ocnhecer e viver a universidade.
Determinado a se tornar um profissional cada vez melhor, participou de muitos cursos e seminários. Mas foi o curso “Introdução a Nanotecnologia”, ministrado pelo professor Oswaldo Luiz Alves e o professor Fernando Galembeck, ambos Acadêmicos, que mais chamou sua atenção. “Eu percebi que poderia juntar a biologia e a química de uma maneira incrível através da nanotecnologia, emergente nesse momento”, destacou Martinez. No mesmo dia, ele foi conversar com Oswaldo Alves, que era químico e um dos precursores dos estudos em nanotecnologia no Brasil – e foi sob a orientação dele que Martinez iniciou o doutorado em química inorgânica na Unicamp em 2006.
Com muita coragem, Diego Martinez encarou a mudança radical, já que o Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES) realiza pesquisas no lado oposto da biologia, trabalhando mais comumente com materiais sólidos e complexos inorgânicos neste laboratório. Ele e seu orientador iniciaram um projeto focado no estudo da interação de nanoestruturas com sistemas biológicos e meio ambiente e, de acordo com Martinez, o apoio de Alves foi fundamental para que a pesquisa fosse adiante.
A convivência no laboratório com o professor Oswaldo deixou memórias marcantes na vida de Martinez, além de ensinamentos que moldaram sua jornada na academia. “O ambiente científico de alto nível que ele proporcionava aos seus alunos foi uma verdadeira escola para minha formação, tanto como cientista e pesquisador, como na minha vida pessoal”, ressaltou Martinez. “Ele me ensinou a ter crença, respeito e amor na construção do conhecimento. Tudo ao seu tempo, com foco e trabalho constante. Ele foi um pesquisador e professor completo, na minha opinião. Saudades eternas do querido professor Oswaldo.” Alves morreu em julho de 2021, enquanto atuava como vice-presidente da ABC para a Região São Paulo.
Durante o doutorado, Martinez passou um período de seis meses na Irlanda, em 2010, no Centro de Interações BioNano da University College Dublin. A experiência do doutorado-sanduíche foi muito importante para que ele percebesse que os pesquisadores brasileiros são tão competentes e capazes quanto outros pesquisadores internacionais de renome: “Basta ter oportunidade e ambiente que as coisas acontecem aqui no Brasil também.” Ele concluiu sua tese de doutorado em 2011, sendo uma das primeiras teses no Brasil a estudar aspectos químicos e biológicos de nanotubos de carbono, um dos nanomateriais de maior destaque da nanotecnologia, de maneira integrada. “
Atualmente, Martinez é pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas, onde atua principalmente nas áreas de nanobiotecnologia, nanotoxicologia e nano ambiental. Na prática, ele realiza pesquisas e estudos para entender os efeitos de (nano)materiais sobre organismos vivos e meio ambiente visando inovação, segurança e sustentabilidade. “Minhas pesquisas passam pelo desenvolvimento de novos materiais para aplicações diversificadas em saúde, agricultura e meio ambiente, seja para remediação de águas e solos e controle da poluição, ou para a geração de nanomateriais com propriedades biofuncionais, como bactericidas e inseticidas”, explicou o Acadêmico. “Também me dedico ao desenvolvimento de metodologias e protocolos para avaliação da toxicidade e riscos de nanomateriais avançados, de modo que estes novos materiais possam ser utilizados em diferentes setores industriais – como saúde, energia e agricultura – de maneira segura e responsável. É importante que esses produtos não causem efeitos nocivos e impactos negativos na saúde de qualquer ser vivo no planeta.”
Apaixonado pelo que faz, Martinez afirma que o que mais o encanta na ciência é o enorme conjunto de ferramentas e linguagens desenvolvidos para tentar compreender a natureza e gerar conhecimento científico para as próximas gerações. Em sua especialidade, acha fascinante a possibilidade de estudar materiais de diversos tipos – orgânicos, inorgânicos e biológicos – em escala de tamanho da ordem de nanômetros – ou seja, objetos extremamente pequenos. E é justamente nesta mesma escala de tamanho que a vida funciona e se desenvolve – no nível molecular e celular. “Desse modo, hoje é possível pensar no desenvolvimento de materiais híbridos multifuncionais através da integração de conhecimentos de física, química e biologia, mas com um olhar direcionado para a escala nanométrica (nanomateriais). São infinitas as possibilidades de geração de conhecimento e tecnologias aplicada em ciências da vida e ambiente”, explica o pesquisador.
Sobre o título de membro afiliado daABC, Diego Martinez afirma que o recebeu com muita alegria, encarando-o como um estímulo para continuar fazendo ciência de qualidade no Brasil. Ele compartilha suas perspectivas para os próximos quatro anos e em quais áreas pretende agir enquanto Acadêmico. “Pretendo me aproximar mais da SBPC e ABC para colaborar proativamente na difusão das suas atividades dentro da minha instituição. Vejo sse título como um marco na minha carreira e será um prazer interagir e colaborar com todos os membros da ABC, em especial com meus colegas afiliados, na direção de construção de novas lideranças científicas no país.”