No dia 15 de agosto, foi realizado o evento “Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da Regional Rio de Janeiro da Academia Brasileira de Ciências (ABC)“, na sede da ABC. Esse foi o primeiro simpósio regional presencial realizado desde o início da pandemia e marcou a abertura dos eventos de recepção dos novos membros afiliados, empossados para o período de 2022 a 2026.
Além dos jovens cientistas, participaram do evento Helena B. Nader, presidente da ABC, e Patricia Bozza, vice-presidente para a Região Rio de Janeiro. A Acadêmica Ana Tereza Vasconcelos (LNCC) foi responsável pela Palestra Magna de abertura, sobre “Ômicas e Bioinformática: Navegando por um Dilúvio de Dados”.
Abertura
A vice-presidente regional Patricia Bozza demonstrou grande alegria em receber os novos membros. Ela os estimulou para que, ao longo dos cinco anos como afiliados da ABC, se engajem nas diferentes atividades propostas pela Academia e participem proativamente. “Mas, principalmente, espero que vocês se comprometam de fato com a nossa principal missão: o desenvolvimento da ciência e da educação no país”, disse a pesquisadora da Fiocruz. “Além disso, espero que possam discutir e contribuir com ideias novas sobre atividades em prol do avanço na ciência para a nossa sociedade, especialmente no sentido de maior inclusão e difusão científica.”
Em seguida, a presidente da ABC, Helena B. Nader, destacou que este ano a ABC nomeou seu primeiro membro afiliado da área de comunicação. “Ciência não se faz só nos laboratórios. Não acredito nessa divisão em hard science e soft science para separar quem estuda ciências exatas ou bio de quem estuda humanidades. Acho até que, muitas vezes, as humanidades são ainda mais pesadas do que a ciência que eu faço, por exemplo.” A pluralidade de áreas entre afiliados tornou-se uma marca desta nova turma, que conta também com seu primeiro antropólogo eleito.
A presidente apresentou algumas novidades decididas pela nova Diretoria – da qual estavam também presentes, além de Bozza, os diretores Maria Vargas (UFF) e Roberto Lent (UFRJ) -, especialmente a proposta de uma nova dinâmica, na qual os membros titulares de determinada região e o vice-presidente realizem a ponte entre os jovens afiliados e os membros sêniores. “Procuramos reunir um time de diretores regidos pela afinidade. Afinidade de quem acredita em educação, porque sem educação não tem ciência, não tem tecnologia e não tem inovação. Então, estaremos nessa luta juntos”, comentou Nader.
A primeira diplomação de afiliados em modalidade presencial desde o início da pandemia foi também a primeira de Helena B. Nader como presidente da ABC. Emocionada, Nader compartilhou suas expectativas para a presença dos jovens cientistas: “Vocês são o que o Brasil precisa para ser realmente soberano”, afirmou. “Precisamos resgatar essa soberania. Vamos juntos resgatar, porque o sonho dos jovens ninguém pode tirar.”
Ciências ômicas e bioinformática: navegando por um dilúvio de dados
A Acadêmica Ana Tereza Vasconcelos ministrou uma palestra magna sobre as chamadas ciências ômicas no Brasil. Áreas como a genômica e a proteômica estudam o conjunto e a interação de todos os genes ou proteínas presentes num organismo, analisando uma quantidade colossal de dados. Para se ter uma ideia, a genômica gera, por ano, uma quantidade maior de dados que gigantes da tecnologia como o Twitter e o YouTube. Essa característica de Big Data faz com que essas ciências caminhem lado a lado com outra área jovem da biologia: a bioinformática.
A ABC esteve direta e indiretamente envolvida no nascimento desse campo no Brasil. O Acadêmico Darcy Fontoura, falecido em 2014, um dos pioneiros da bioinformática no país, foi responsável por criar o Laboratório de Bioinformática (Labinfo) no âmbito do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) em Petropólis, RJ. “Fontoura capacitou uma geração de pesquisadores para a área antes mesmo da chegada da internet”, lembrou Vasconcelos sobre seu antigo orientador.
Em 1994, Vasconcelos e Fontoura publicaram um dos primeiros artigos brasileiros sobre o tema nos Anais da ABC. O trabalho desvendava mecanismos de reparo genético presentes em procariotos, e foi apresentado durante um seminário organizado na sede da ABC. “A Academia esteve presente não apenas na figura do Darcy, mas institucionalmente, contribuindo para a história da bioinformática brasileira”, ressaltou a Acadêmica.
Desde então, o campo cresceu muito na escala e no escopo. Experimentos cada vez mais inovadores vêm sendo pensados para estudar não apenas genes e proteínas, mas também RNA, metabolismo e epigenética. A bioinformática foi crucial no enfrentamento de desafios recentes, como a zika e a covid-19, e será peça chave na prevenção e monitoramento de futuras epidemias. “Por ser muito recente, é uma área que concentra jovens pesquisadores, que contribuem enormemente para o desenvolvimento científico nacional”, concluiu Vasconcelos.
A seguir, foi a vez dos novos membros afiliados apresentarem suas pesquisas. Conheça-os aqui:
Análise do passado para pensar as tecnologias do futuro
O geólogo Carlos Ganade é pesquisador do Serviço Geográfico Brasileiro e estuda a evolução geográfica dos continentes através das rochas.
A ciência e a paixão pela sala de aula
Engenheira de materiais, Gabriela Pereira sempre quis ser professora. Hoje, alia pesquisa e ensino para realizar esse sonho todos os dias na Coppe/UFRJ.
Classificar para conhecer, conhecer para preservar
Botânico numa época de destruição das matas, o professor da UFRJ Marcelo Trovó nos lembra da importância de conhecermos mais sobre a biodiversidade brasileira.
A importância de ser curioso
O matemático britânico Simon Griffiths é professor da PUC-RJ e um apaixonado por planetas e samba.
A primeira comunicóloga da ABC
A jornalista Thaiane Moreira de Oliveira, professora da Comunicação da UFF, ingressou na ABC lembrando da necessidade que a ciência e os cientistas têm de se engajar no debate público.
Boas-vindas, agradecimentos e diplomação
Renata Meirelles Santos Pereira, membra afiliada eleita para o período 2019-2023, comentou sobre os últimos anos da ciência brasileira, repletos de provações para os cientistas e com uma grande disseminação de negacionismo científico-tecnológico, um desafio que se tornou uma missão para os cientistas.
Agora em seu último ano como afiliada, a pesquisadora falou sobre o projeto Conhecer para Entender, criado pela ABC, com vídeos e podcasts, que provocou os cientistas para que explicassem ao público suas pesquisas. “Todas essas ações de divulgação nos proporcionaram muitas trocas científicas e pessoais que agregaram muito”, comenta a professora da UFRJ, mencionando também outras atividades propostas pela ABC para os jovens cientistas, como o 4o Encontro Nacional, as Mentorias da ABC e os grupos de trabalho.
Durante a pandemia, Pereira fez parte do grupo de pesquisa que investigou o perfil dos jovens cientistas brasileiros, cujo resultado não foi dos mais animadores. “Foi lamentável constatar que grande parte dos cientistas brasileiros em jovem e em meio de carreira têm a intenção de tentar dar continuidade à carreira fora do país ou tentar outras áreas de pesquisa.” Para a Acadêmica, é hora de o governo tomar uma atitude para valorizar seus inúmeros cientistas brilhantes – e a primeira parte disso é incorporando políticas públicas que favoreçam sua permanência no país.
Para Thaiane Moreira de Oliveira, nova afiliada, fazer a saudação em nome dos novos membros foi uma honra e um desafio. Desde o princípio, todos entraram em um consenso de que o título é um reconhecimento da trajetória e das contribuições feitas ao longo dos últimos anos. “O reconhecimento é uma das bases sociais da vida democrática, e a ciência, enquanto uma instituição democrática, se constituiu em torno desses conceitos”, afirmou a professora e pesquisdora da UFF. Ela listou também alguns dos desafios enfrentados no ensino superior, como a dificuldade de mobilizar mulheres para participar da academia e a luta pela representação afroindígena. Para Oliveira, é dever dos jovens cientistas lutarem para amplificar a participação desses grupos dentro da universidade e também por políticas de Estado que colaborem com o desenvolvimento do país.
A cientista recordou de um momento em que foi questionada sobre onde estavam os professores enquanto ataques à democracia e a ciência aconteciam frequentemente em 2019. Após muito refletir, ela concluiu: “Nossa força como cientistas não é só batendo as panelas, é também produzindo conhecimento. Estávamos lutando com as nossas armas, para tornar a universidade menos desigual, para torná-la mais inclusiva. E nós sabemos a importância da nossa luta.”
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Assista a cerimônia na íntegra no YouTube da ABC