O Acadêmico Glaucius Oliva e a professora titular da UnB Laila Espindola durante o evento (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC).

Na última terça-feira, 26 de julho, aconteceu a mesa-redonda Fronteiras da Inovação: Desafios para o Desenvolvimento de Novos Produtos, durante a 74ª Reunião Anual da SBPC em Brasília. A mesa contou com a participação do vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para a região São Paulo, Glaucius Oliva, e de Cristiano Guimarães, representante da startup Nintx de inovação farmacêutica. A moderação ficou por conta da farmacêutica Laila Espindola, professora titular da Universidade de Brasília (UnB). 

Histórico da ciência brasileira 

“Todo o progresso humano está diretamente relacionado ao avanço do conhecimento”. Foi com essa frase que Glaucius Oliva abriu sua fala durante a mesa-redonda. O Acadêmico afirmou que informação e educação são as principais moedas do século XXI, e permitem que mesmo países com poucos recursos naturais se tornem ricos e incrementem a qualidade de vida de suas populações. “Nós vendemos matéria-prima em toneladas para comprarmos produtos de maior valor agregado em gramas”, sumarizou a situação do Brasil. 

O histórico da educação superior brasileira é curto, mesmo quando comparado a nossos vizinhos da América espanhola. As primeiras faculdades só foram surgir por aqui no início do século XIX, com a chegada da família real portuguesa, e as primeiras universidades só foram criadas no século XX. “Países como o Peru já possuíam universidades no século XVI”, lembrou o Acadêmico. 

O século XX marcou o início do processo de expansão da ciência brasileira. Organizações como a ABC, de 1916, e a SBPC, de 1948, foram fundamentais na luta pela criação de órgãos para financiar a pesquisa e educação nacional, como o CNPq e a Capes, ambos de 1951. Mas foi apenas na segunda metade do século que o setor deu um salto de produtividade, crescendo sua participação na produção científica mundial de 0,5% para 3,2% desde 1980. “Hoje em dia, temos cerca de 45 mil grupos de pesquisa atuando no Brasil, além de formarmos 65 mil mestres e 25 mil doutores por ano”, enumera. 

Mas ainda temos muito o que avançar. Atualmente, o país tem cerca de 25% das pessoas entre 25 e 34 anos com ensino superior, números muito abaixo de países que investem pesado em educação, como a Coreia do Sul (70%), e menores mesmo que países como Portugal (35%) e Colômbia (29%). “Estamos comprometendo nosso principal recurso, que são as pessoas”, resumiu Oliva. 

Patentes e inovação 

Uma das melhores formas da ciência contribuir com a sociedade é pela inovação. E inovar não significa apenas criar uma máquina revolucionária, mas qualquer forma de incorporação de conhecimento a um processo, visando torná-lo mais rápido, barato ou melhor. Isso vale tanto para produtos quanto para serviços ou políticas públicas, e as instituições de ensino e pesquisa têm papel central nesse desenvolvimento. 

Uma das formas mais testadas e comprovadas de incentivo à inovação é pelas patentes, que garantem uma janela temporal de exclusividade para que um inventor explore comercialmente sua criação. No Brasil, a concentração de patenteamentos pelas universidades é muito maior do que em países desenvolvidos, o que Oliva considera um erro. “Precisamos facilitar para que grupos de pesquisa criem startups e registrem patentes, isso ainda é raro por aqui”, afirmou. 

Na mesma linha, Cristiano Guimarães também criticou a forma como o Brasil lida com patentes. “Incomoda muito ver o superpatenteamento brasileiro, dá a impressão de que é feito apenas para ter números. Pelo menos na área farmacêutica, o patenteamento precoce, antes de ter algo robusto, é algo que mata a inovação”, criticou. 

Cristiano Guimarães durante a mesa-redonda (Foto: Jardel Rodrigues/SBPC)

Casos de sucesso brasileiros 

Glaucius Oliva citou ainda três exemplares casos de sucesso brasileiros: a Petrobras, uma das maiores especialistas do mundo em extração de petróleo profundo; a Embraer, terceira maior produtora de aviões do planeta; e Embrapa, cuja criação foi fundamental para a expansão vertiginosa da agropecuária brasileira nos últimos 50 anos. “Todas essas empresas têm algo em comum: recursos humanos altamente especializados e próximos aos centros de inovação, além de forte apoio estatal”, explicou o Acadêmico. 

Oliva também defendeu o modelo de financiamento tripartite feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), no qual o financiamento de pesquisas é dividido entre empresas, governo e universidades. “É um caso de sucesso no apoio a empresas já constituídas, e no estímulo à inovação”, afirmou. O Acadêmico também criticou sistemas de avaliação focados excessivamente no impacto e produtividade científica. “É preciso também olhar para o impacto social”, finalizou. 


Confira todas as matérias da ABC sobre a 74ª Reunião Anual da SBPC