Leia artigo da vice-presidente da ABC pra a região Minas Gerais e Centro-Oeste, Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), publicado na coluna de Marcelo Leite, em 2 de julho. Faz parte da segunda “ocupação” de colunas na imprensa promovida pelo Instituto Serrapilheira, desta vez com o tema “como a ciência deve participar da reconstrução do Brasil”.

Há 35 anos era lançado o relatório “Nosso Futuro Comum” (1987) pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Também chamado Relatório Brundtland, em associação com a ministra norueguesa Gro Brundtland, que o coordenou, o documento concebe desenvolvimento sustentável () como aquele “que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Ou seja, preocupações, desafios e esforços comuns.

Em outubro deste ano, estaremos no Brasil diante de um momento decisivo para refletir sobre o nosso futuro comum e o papel da ciência e da educação no desenho desse futuro. As eleições de 2022 devem representar um ponto significativo de inflexão para realinhar políticas públicas com as agendas da
geração do conhecimento e da sustentabilidade, a redução das desigualdades e o respeito aos direitos humanos e à diversidade social.

A ciência nos permite projetar futuros possíveis em função de nossas escolhas no presente. Os jovens estão, em todo o mundo, indicando claramente que querem mudanças e desejam participar das decisões de hoje que terão impactos duradouros sobre o seu futuro e o planeta.

Por meio do conhecimento, seus instrumentos e instituições de pesquisa com financiamento adequado podemos criar e avaliar alternativas de desenvolvimento que sejam socialmente inclusivas e que considerem os limites de sustentabilidade de nossos ecossistemas. Nessa tarefa, todas as áreas do conhecimento serão fundamentais. Aprimorar a educação científica em todos os níveis de ensino permite que os processos associados à ciência sejam bem conhecidos e entendidos. Assim, toda a sociedade e a
economia se beneficiam de uma educação que tenha a ciência como base.

Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências lançou um documento sobre a importância da ciência como política de Estado para o desenvolvimento do Brasil. A pandemia de Covid-19 é um choque global que está entrando em seu terceiro ano. Já as mudanças ambientais, como a emergência climática e o declínio da
biodiversidade, são crises que trazem impactos que seguirão conosco por muito tempo, perpassando gerações.

Saúde, agricultura, fontes de água e energia estão associadas à saúde do meio ambiente. As respostas apropriadas dependem da melhor ciência, mas também de que sua relevância seja entendida e valorizada por lideranças responsáveis.

Globalmente, esta década será decisiva para implementar ações que definirão nosso futuro comum. No Brasil, as eleições nos oferecem uma oportunidade para avaliar as propostas para o país que serão defendidas por candidatos ao Executivo e ao Legislativo nos âmbitos federal e estadual. Quais delas valorizam a educação, a ciência, a cultura e o ambiente? Para os candidatos que buscam reeleição, quais foram suas ações nessas áreas?

Com certeza, tal avaliação facilitará as escolhas. E, sem dúvida, precisamos urgentemente de escolhas melhores.