Confira o artigo escrito pelo membro titular da ABC Luiz Carlos Dias, publicado Jornal da Unicamp no dia 22/2. Em novo texto sobre a pandemia de COVID-19, o Acadêmico aborda os desafios para vencer a campanha antivacinação infantil no Brasil. Dias é professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista 1A do CNPq.

O Brasil precisa vencer a campanha antivacinação infantil protagonizada pelo Governo Federal e seus sabujos negacionistas para proteger suas crianças contra a Covid-19. Como cientistas, é nossa responsabilidade trazer as melhores informações científicas, verdadeiras, confiáveis e transparentes. É nossa responsabilidade como pais, ajudar a esclarecer de forma honesta e sincera as dúvidas de outros pais, avós e responsáveis por nossas crianças. É nosso dever como cidadãos brasileiros, lutar contra os antivacinas, os disseminadores de mentiras e contra o monstro do negacionismo e do obscurantismo intelectual que tomou conta desse país. A ciência deu uma resposta extraordinária nesta pandemia: temos vacinas que salvam vidas. Temos razões epidemiológicas, sanitárias, éticas e morais para vacinar nossas crianças. As crianças estão em processo de formação e incentivar a vacinação tem um caráter educativo, pedagógico, de transmissão de valores como empatia, respeito pela vida, dignidade humana e responsabilidade social. É um enorme aprendizado de cidadania para nossas crianças, entender a importância da vacinação para a proteção da coletividade, que decisões individuais têm reflexo no coletivo e que o impacto dessa escolha pode evitar casos graves, internações e óbitos não só de crianças, mas de todas as pessoas.

Óbitos na faixa 019 anos por Covid-19

Segundo dados dos Boletins Epidemiológicos (BE) do Ministério da Saúde (MS) – BE 100 (último com dados de 2022), BE 92 (último com dados de 2021), BE 44 (último com dados de 2020) – desde o início da pandemia, foram 2.842 mortes por Covid-19 na faixa etária 0-19 anos, sendo 863 óbitos na faixa menor que 1 ano, 448 na faixa de 1 a 5 anos e 1.531 entre 6 e 19 anos. Esses números estão subnotificados e desatualizados, pois segundo os boletins, o total de óbitos por Covid-19 no período 2020 a 2022 até o momento é de 579.991. O total de óbitos levantados pelo consórcio de imprensa é de 644.695 e mostra uma diferença de 64.704, sugerindo que o total de óbitos na faixa 0-19 anos é ainda maior.

Aprovação de vacinas pediátricas pela Anvisa

A Anvisa aprovou a ampliação do uso do imunizante da Pfizer/BioNTech para vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19, no dia 16/12/2021. No dia 20/01/2022, a Anvisa aprovou o uso emergencial da vacina CoronaVac em crianças e adolescentes na faixa de 6 a 17 anos. O Brasil iniciou a vacinação da faixa etária de 5-11 anos apenas no dia 14/01/2022, cerca de 30 dias após a aprovação da vacina da Pfizer pela Anvisa. Mesmo com o legado extraordinário do Programa Nacional de Imunização (PNI), que permite que o Brasil possa vacinar tranquilamente muito mais de 1 milhão de pessoas por dia, o país vacinou, até o dia 21/02/2022, aproximadamente 7,5 milhões de crianças de 5-11 anos, o que corresponde a 36,4% do total nessa faixa etária, no período de 39 dias. É muito pouco!

Se tivéssemos campanhas oficiais de conscientização e esclarecimento de pais e responsáveis por parte do MS, defendendo a importância da vacinação para a proteção de crianças, nós poderíamos ter vacinado mais de 95% das crianças nesse período. Mas ao contrário do que esperávamos de um órgão que historicamente sempre defendeu a vacinação e medidas sanitárias para a proteção de nossa população, o atual MS trabalha contra. Justamente quem deveria defender a vacinação e assumindo o protagonismo de combater fake News, faz campanha antivacinismo infantil. Por isso, temos essa baixa adesão.

Episódios de sabotagens à vacinação contra a Covid-19 no Brasil

São muitas as razões para os baixos níveis de vacinação infantil até o momento. Nós nunca tivemos uma campanha nos veículos de comunicação em massa e nas várias mídias, defendendo a vacinação infantil protagonizada pelo MS. Estratégias de comunicação em massa, com informações claras e objetivas têm um papel fundamental e deveriam ser uma política de Estado. Mas infelizmente, hoje estamos expostos a uma política de governo anticiência e o Brasil vive uma séria crise de gestão. Os negacionistas estão ocupando muito espaço nas redes sociais, espalhando a praga da desinformação, que mata.

Não podemos esquecer que em virtude da negligência no combate a pandemia por parte do Governo Federal e da falta de acesso a dados de óbitos oficiais, um consórcio de imprensa foi formado no início da pandemia por veículos de comunicação para levar informações corretas para a população brasileira. Desde o suposto ataque hacker ao site do MS no início de dezembro de 2021, a população brasileira também não teve acesso aos números atualizados de óbitos por faixa etária e aos indicadores epidemiológicos.

Desde o início da pandemia, autoridades ligadas ao governo federal promoveram tratamentos ineficazes, depois ignoraram a aprovação da vacina da Pfizer pela Anvisa, demoraram para comprar as vacinas pediátricas e alimentaram teorias da conspiração de que as vacinas não são seguras. Eles ainda questionam sua eficácia e segurança e defendem a farsa do kit Covid, contendo hidroxicloroquina, ivermectina, cloroquina e azitromicina para tratamento precoce — medicamentos ineficazes com grande potencial de gerar efeitos adversos. Eles também defendem a trapaça irresponsável do uso de ozonioterapia no combate a Covid.

Não fosse a pressão de vários setores organizados da sociedade, incluindo as sociedades científicas, médicas e a imprensa brasileira, além de questões políticas para evitar um protagonismo maior do governador do Estado de São Paulo na campanha de vacinação contra a Covid, a situação seria ainda pior. Conseguimos combater muitos dos embustes criados pelo movimento antivacinas, mas é difícil lutar contra a desinformação proveniente de membros dos órgãos oficiais do Palácio do Planalto, como o MS.

(…)

Leia o artigo completo no site do Jornal Unicamp