O auditório do Memorial da América Latina, desenhado por Oscar Niemeyer e decorado com uma tapeçaria da artista Tomie Ohtake, foi destruído em 2013 por um incêndio. Em 2015 foi a vez do Museu da Língua Portuguesa e, três anos depois, do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Há cerca de seis meses, quatro toneladas de documentos sobre a história do cinema no Brasil foram devoradas pelo fogo que atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira – instituição que sofreu com pelo menos quatro eventos do tipo em sua história recente.
Episódios como esses evidenciam as fragilidades e os desafios associados ao financiamento e à gestão do patrimônio cultural no país – tarefa complexa que requer um diálogo entre esferas governamentais, privadas e a sociedade civil. A pandemia da COVID-19 – e a consequente interrupção de atividades culturais durante meses – trouxe os riscos para o curto prazo.
Debater modelos de gestão e proteção do patrimônio, o seu papel social e possíveis estratégias de ampliação do acesso público será o objetivo da 7ª Conferência FAPESP 60 anos, na próxima quarta-feira (08/12).
“Pensamos em organizar, no âmbito da série de conferências que celebram os 60 anos da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), um encontro com foco no patrimônio cultural, visto que há um riquíssimo acervo no Estado de São Paulo. Somente a Universidade de São Paulo [USP] conta com quatro grandes museus – o de Arqueologia e Etnologia, o de Arte Contemporânea, o Paulista [popularmente conhecido como Museu do Ipiranga] e o de Zoologia – além de outras unidades menores”, diz à Agência FAPESP a urbanista Renata Vieira da Motta, moderadora do evento.
Motta foi professora da Escola da Cidade e da pós-graduação lato sensu Crítica e Curadoria da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). Atuou na área de museus da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, como diretora técnica do Sistema Estadual de Museus (Sisem-SP) e como coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM). Em 2020 assumiu a diretoria executiva da organização social de cultura IDBrasil, responsável pela gestão do Museu do Futebol e do Museu da Língua Portuguesa. É presidente do Icom Brasil, seção brasileira do Conselho Internacional de Museus.
“Poderíamos abordar esse tema a partir de diferentes perspectivas. Optamos pelo aspecto da gestão porque entendemos ser urgente ampliar a segurança e a proteção desses patrimônios culturais no país”, acrescenta.
Entre os participantes estará Marta Lourenço, física e doutora em museologia e história da tecnologia. Ela é responsável pelo curso “Museus, Coleções e História da Ciência”, oferecido no Programa de Mestrado e Doutoramento em História e Filosofia da Ciência da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em Portugal. Também é presidente do Comitê para Museus Universitários e Coleções do Conselho Internacional de Museus (Icom).
Também participará Carlos Augusto Machado Calil, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), cineasta, ensaísta, editor de livros sobre cinema, fotografia, teatro, história e literatura. Machado dirigiu a Embrafilme, a Cinemateca Brasileira e o Centro Cultural de São Paulo. Foi secretário municipal de Cultura de São Paulo, em gestão marcada pela valorização dos equipamentos públicos.
O terceiro debatedor será Nivaldo Vieira de Andrade Jr., doutor em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pós-doutor pela École d’Urbanisme de Paris. Foi presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e é membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A abertura do evento será feita por Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp.
Os interessados podem se inscrever pelo site e enviar dúvidas para o e-mail conferencias60anos@fapesp.br. As perguntas serão respondidas durante o evento, que será transmitido a partir das 10 horas, pelo Zoom e pelo canal da Agência FAPESP no YouTube.