Rita de Cássia dos Anjos nasceu em 1983, na cidade de Olímpia, no estado de São Paulo. Cresceu em uma família grande, “sempre unida e muito bonita”: ela é a caçula de oito irmãos, sendo quatro casais. Passaram a infância juntos e brincavam de tudo: ela, em especial, gostava muito de bolinhas de gude e de fazer pipas. A mãe era enfermeira e o pai, pedreiro. Dos sete irmãos de Rita, cinco são formados: duas professoras, um economista, um engenheiro civil e um advogado.

Seu interesse de fato nos estudos só surgiu na quinta série, quando ela começou a entender a importância de estudar e passou a ter mais disciplina. O grande incentivo veio da mãe, a quem descreve como uma “mulher inteligente e curiosa”, e do exemplo dos irmãos que já estudavam e que diziam que era muito importante ela fazer o mesmo. Passou então a gostar muito de matemática e ciências.

Após concluir o ensino médio, Rita queria escolher algum curso na área da saúde ou biologia. Uma de suas irmãs pagou o cursinho pré-vestibular para ela por um ano e meio, e foi lá que Rita teve um contato mais aprofundado com a física – e se apaixonou. Em 2003, ela deu início a sua graduação em física biológica no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto.

No segundo ano da faculdade, participou de seu primeiro projeto de iniciação científica, trabalhando com mecânica quântica supersimétrica. Com a experiência, ela teve certeza não só de que queria seguir na área da física, mas também de que a carreira científica era sua verdadeira paixão. 

Após concluir a graduação, em 2007, Rita de Cássia seguiu para São Carlos para continuar os estudos. Cursou o mestrado (2009) e doutorado (2014) em física básica no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP). No mestrado, se especializou na área de teoria de campos clássica e, no doutorado, na área de astrofísica (astropartículas).

No mesmo ano em que finalizou o doutorado foi aprovada no concurso da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para o Setor Palotina, onde permanece até hoje. “Quando reflito sobre minha trajetória, reconheço que minha família foi a base, com o incentivo e apoio diários, e que meu orientador de doutorado, professor Vitor de Souza, teve um papel muito importante”, comentou. “Esta combinação me levou a pensar que eu sempre poderia alcançar objetivos, com empenho e perseverança.”

Sua área de pesquisa atual é a astrofísica de partículas de altas energias, em especial os raios cósmicos. “Raios cósmicos são partículas de altíssimas energias que atingem a Terra. Meu principal objetivo é saber a origem destas partículas e quais os processos astrofísicos no universo que as aceleram até essas altíssimas velocidades ou energias”. A importância da pesquisa é ampla: junto com seu time de pesquisadores, Rita busca entender os processos que ocorrem no universo e como eles ocorrem. “O estudo da física de raios cósmicos permite que entendamos como diferentes estruturas, como outras galáxias e buracos negros, se relacionam no universo e qual o impacto destas estruturas em nossa galáxia”, explicou. 

Entre os títulos já conquistados, Rita de Cássia dos Anjos é membro do Observatório de Raios Cósmicos Pierre Auger, em Malargue, na Argentina, desde 2014, conhecido como o maior observatório de raios cósmicos do mundo. Desde 2015 ela também é membro do Observatório Cherenkov Telescope Array (CTA), em Paranal, no Chile. Em 2020 foi uma das sete vencedoras do Prêmio ABC-L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência. “O que me encanta na ciência é a descoberta”, conta, com entusiasmo. Para Rita dos Anjos, é incrível saber que a partir de uma pesquisa é possível entender a estrutura, forma e interação de algo. “Isto é fascinante! Na minha área, esta fascinação tem início só de olharmos para o céu e perguntarmos o que tem lá.”

Ser eleita para intetgrar a ABC, para ela, é um sinal de que a ciência que produz é de qualidade. “Estar na Academia é uma oportunidade de estar ao lado de pesquisadores que pensam a ciência mundial e trabalham para o desenvolvimento de nossa ciência. Pretendo atuar junto à ABC visando o crescimento e a valorização da ciência no país, participando dos grupos de discussões que já existem e propondo melhorias junto aos grandes desafios do governo e estados”, afirmou.

Rita de Cássia dos Anjos chama atenção para uma questão que ela julga fundamental no ambiente acadêmico: diversidade. Para ela, é necessário que os grupos de pesquisa tenham diversidade de gênero e raça, uma vez que, quanto mais diverso for o ambiente, mais eficiente ele será. “Precisamos permitir que nossas meninas busquem carreiras científicas e quando isto acontecer, incentivá-las durante o caminho. Atualmente discutimos muito essa questão da mulher na ciência, como incentivar meninas na ciência, e isto tem levado a nossa sociedade e comunidade científica à reflexão”, afirmou. “Precisamos continuar discutindo com várias ações, dentro da academia e fora, por meio de políticas públicas e de atitudes nos nossos institutos e departamentos.” 

Fora da academia, suas paixões são andar de bicicleta bem cedo, ver filmes e ler livros de suspense, além de ler sobre política nacional e internacional. Ela justificou: “A política está atrelada ao desenvolvimento de um Estado. Conhecer o país e sua cultura é conhecer a forma organizacional e pensante de seus governos.”