“Associe-se à Sociedade científica de sua área” – essa foi a principal mensagem da edição de outubro das Mentorias da ABC. Voltada principalmente para os pesquisadores em início de carreira, a discussão reuniu o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) Paolo Piccione; a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) Karina Bortoluci e o ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Ildeu Moreira. A moderação ficou por conta do membro afiliado da ABC Marcelo Mori.
Após uma rápida apresentação das associações, os convidados debateram o papel central que as sociedades científicas têm em coordenar o ecossistema da ciência no país, fornecendo suporte institucional para que os cientistas brasileiros sejam ouvidos e dialoguem com autoridades públicas no Brasil e no exterior. “O capítulo de ciência e tecnologia da Constituição de 88 foi elaborado a partir do trabalho conjunto de diversas sociedades”, pontuou Ildeu Moreira.
O professor fez um breve histórico da SBPC, criada após a Segunda Guerra Mundial e eixo a partir do qual muitas sociedades científicas de áreas específicas proliferaram. Destacou também seu papel crucial na luta pelo fomento à ciência brasileira, atuando diretamente na criação de órgãos como o CNPq e a Capes. “Atualmente, a luta é para que a Chamada Universal do CNPq ocorra, garantindo a permanência dos jovens pesquisadores, e pelo FNDCT”.
A participação dos jovens nas lutas contra o desmonte da ciência foi reconhecida, sobretudo em mobilizações como as Marchas pela Ciência, que aconteceram em 2019. Entretanto, isso não se reflete na filiação de cientistas em início de carreira às associações. Paolo Piccione alerta que a solução para esse problema é uma via de mão dupla. “No momento, o elo mais fraco dessa crise são os jovens cientistas, então as associações precisam atuar mais nesse sentido, ir ao encontro dessas pessoas”, destacou.
As razões para a baixa adesão são variadas. “O Brasil não possui uma cultura participativa da sociedade civil organizada”, refletiu Ildeu Moreira. “Nossa estrutura democrática é rígida, centralizada, e, até por isso, vivemos uma crise de representatividade”. Outro ponto abordado foi a falta de conhecimento sobre o trabalho dessas instituições. “Pouco se fala sobre as sociedades científicas dentro da universidade”, alertou Karina Bortoluci, sugerindo que as entidades tivessem a oportunidade de se apresentar durante as aulas inaugurais.
A professora Silvia Velasques, presidente da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN), trouxe uma importante reflexão sobre o diálogo com as humanidades na formação dos cientistas. “Com o aprofundamento das especialidades, criamos muitos técnicos voltados apenas às suas áreas. Precisamos voltar a ensinar filosofia, política e outros temas das ciências humanas nas faculdades de ciências exatas e naturais”, afirmou.
Por fim, Karina Bortoluci reforçou a mensagem central do evento. “Pertencimento às sociedades é representar a ciência que fazemos. É coordenar esforços e lutar contra o desmonte. Não é apenas sobre benefícios individuais, mas sobre apoiar a própria comunidade científica brasileira”.