Confira o artigo escrito pelo membro titular da ABC Luiz Carlos Dias, publicado Jornal da Unicamp no dia 24/6. Em seu texto, o Acadêmico menciona a necessidade de se vacinar, independente do fabricante da vacina, e de realizar a imunização completa, com as duas doses. Dias é professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsisa 1A do CNPq.

 

Se chegou o seu tão esperado dia de ir ao posto de saúde tomar a sua dose de vacina contra a COVID-19, vá com alegria e esperança e tome a vacina que estiver disponível para você. E volte na data marcada para tomar a segunda dose da mesma vacina. Apenas a vacina Johnson & Johnson, que está chegando no Brasil nos próximos dias é aplicada em apenas uma única dose.

Não acredite nas fake news que rolam pelos grupos de WhatsApp e em outros aplicativos de redes sociais, dizendo para tomar a vacina A ou B e não tomar a vacina C. Nós não estamos no momento de escolher vacinas. Nós não temos vacinas suficientes para a população ficar escolhendo. Se você deixar de se vacinar, esperando escolher um imunizante com maior eficácia baseado nos estudos clínicos de fase 3, você corre o risco de se contaminar, de precisar de um leito de enfermaria ou de UTI e de contaminar os seus familiares. Tome a vacina que estiver à sua disposição no posto de saúde, a melhor vacina é aquela que pode ser aplicada imediatamente, a que chegar primeiro no seu braço. Não tome individualmente uma decisão que pode ter impacto no coletivo, pois a vacinação em massa é chave para controlar a pandemia, mantendo as medidas não farmacológicas.

Caso você não esteja no grupo de pessoas que por razões médicas não podem tomar uma ou outra vacina, você deve tomar a vacina que estiver disponível no dia para sua faixa etária. O conceito de imunização é coletivo, de modo que precisamos atingir ou chegar próximo da marca de 75% da população brasileira vacinada, com qualquer vacina disponível, desde que aprovada e autorizada pela Anvisa. A proteção de todos depende do conjunto total de vacinados. Ter tomado as duas doses de qualquer uma das vacinas disponíveis, não garante que você não seja infectado, caso você relaxe nas medidas não farmacológicas e tenha contato com pessoas infectadas.

Todas as vacinas em uso no Brasil passaram por testes clínicos que mostraram segurança, eficácia e vieram para salvar vidas. Quando você se vacina, você tem um grau de proteção individual após a primeira dose, mas seu corpo ainda está sendo treinado para combater o vírus Sars-Cov-2. Com a segunda dose a resposta é mais robusta, nós temos um grau de proteção individual, mas a imunidade coletiva só será atingida com cerca de 75% da população sendo vacinada, ou talvez um pouco mais do que isso. Até lá, todos tem que usar máscaras, pois você pode ser infectado após a primeira dose ou até após a segunda dose. É fundamental ter essa proteção, que pode impedir você de ter COVID-19 grave, caso seja infectado após a vacinação. As vacinas, todas elas, protegem os vacinados de casos mais graves e mortes pela doença. Os dados de efetividade, quando as vacinas são aplicadas na população real, mostram resultados espetaculares, mostrando alta proteção contra casos mais graves.

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Vacinação em massa contribui para salvar vidas

Quando você se vacina, está contribuindo para proteger todos e todas no seu entorno, porque são crianças ou porque por razões médicas, não podem se vacinar.  Esse é um ato de empatia, de responsabilidade social e cívica, você não está pensando só em você, mas na coletividade. Você não vai sair da pandemia sozinho, se a população como um todo, não aderir à campanha de vacinação em massa.

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Nós não temos vacinas para todas e todos

Segundo o mapa da vacinação no Brasil, organizado pelo consórcio de veículos de imprensa (G1, ‘O Globo’, ‘Extra’, ‘Estadão’, ‘Folha’ e UOL), o Brasil aplicou, em período pouco maior de 5 meses desde o início da vacinação, um total, 88.827,510 milhões de doses até o dia 23/06/2021, o que corresponde a vacinar 30,43% da população (64.436,634 milhões de pessoas) com a primeira dose e 11,52% da população com a segunda dose (24.930,876 milhões de pessoas).

O Brasil ainda não tem doses suficientes de vacinas para imunizar toda a população, então não tem sentido as pessoas escolherem entre as poucas doses de vacinas disponíveis que tiveram maior eficácia nos estudos clínicos de fase 3. Nós temos diferentes vacinas e mesmo assim, não temos número suficiente para vacinar a população em poucos meses.

Evite escolher para não correr o risco de ficar sem vacina e ser infectado sem estar imunizado, senão não sairemos nunca desta pandemia. Não perca essa oportunidade de ser vacinado. E nós precisamos primeiro, diminuir o número de casos e frear o crescimento da pandemia.

Se você escolher a vacina A. B ou C, você nem sabe qual variante circulará no país daqui há alguns meses e não necessariamente as vacinas em uso hoje continuarão eficazes. Pode ser que a vacina A, com maior eficácia, não te proteja das novas variantes, pode ser que uma vacina B com menor eficácia te proteja.

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Sobre efeitos adversos ao tomar vacina Astrazeneca 

Nós estamos ouvindo relatos de efeitos adversos com a vacina da AstraZeneca e isso é normal. Se você tomou a sua vacina contra a Covid-19, é normal ter dor no local da injeção, dores no corpo ou dor de cabeça ou febre, sentir calafrios, que segundo os especialistas, duram cerca de 24 a 48 horas. Essa vacina usa um vetor viral não replicante, um adenovírus, que é um vírus que causa resfriado comum em chimpanzés. Esse adenovírus carrega um pedaço do material genético da proteína espícula do Sars-Cov-2 para treinar o nosso sistema imunológico para nos defender do vírus no caso de sermos infectados.

Nós nunca tivemos contato com esse adenovírus antes, nosso sistema imunológico não o reconhece. Ao vacinar, o adenovírus entra em nossas células e se comporta como um vírus, causando uma infecção leve, mas de forma bem controlada, pois esse adenovírus é incapaz de se replicar em nosso organismo e não vai causar doença. Por isso sentimos os efeitos adversos quando somos vacinados, como se fosse uma infecção. Mas é só uma simulação de infecção, o adenovírus não completa o seu ciclo, mas é capaz de enganar, de treinar o nosso sistema imunológico, que reconhece que há um inimigo a ser combatido e desencadeia a resposta de proteção. É Ciência gente, é lindo. Salva vidas.

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Mentiras para desacreditar a Coronavac

No site epidemiologista, também neste post e nesta matéria, podemos encontrar uma análise sobre a queda dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em pacientes idosos que receberam a vacina CoronaVac. Os dados foram compilados pelo epidemiologista Wanderson de Oliveira, ex-secretário do Ministério da Saúde. O levantamento, que usa dados do próprio Ministério da Saúde (disponíveis através do sistema OpenDataSus), mostra que a CoronaVac é a vacina que mais protege contra casos graves da Covid-19, prevenindo 97% das mortes de pessoas infectadas. O levantamento mostra que idosos com 80 anos ou mais que receberam a segunda dose da CoronaVac, cerca de 28 dias antes do início de sintomas da Covid-19, tiveram taxa de cura bem mais alta do que idosos na mesma faixa etária não vacinados ou com vacinação incompleta.

Eu não consigo entender a lógica de defensores do atual governo federal em atacar a vacina CoronaVac, que está contribuindo para salvar milhares de vidas em todas as faixas etárias. É preocupante ler notícias veiculadas nas redes sociais e defendidas por partidários do atual governo, que o Ministério da Saúde estuda ou estudou suspender o uso da CoronaVac no Brasil, ou pelo menos que esta possibilidade absurda tenha sido sequer, vislumbrada. Seria mais um enorme desserviço para todo o Programa Nacional de Imunização e para o combate à pandemia no país.

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O Brasil precisa de milhões de doses de todas as vacinas aprovadas pela Anvisa, vacinação rápida, vigilância epidemiológica para testar e isolar infectados e seus contatos, vigilância genômica para detectar as possíveis variantes de atenção surgindo, uma campanha nacional de esclarecimento para orientar a população sobre a importância de uma alta adesão às vacinas, sobre a manutenção do uso de máscaras, distanciamento físico e hábitos de higiene e defendendo todas as vacinas. Se não querem ajudar, creio que é bem melhor ficarem quietos e deixar que a comunidade científica, profissionais da área de saúde e jornalistas do bem ajudem a esclarecer a população, como, aliás, estamos fazendo desde o início da pandemia. Tanto o Ministério da Saúde como seus interlocutores e alguns políticos, quando não atrapalham, certamente já ajudam. Se não querem fazer comunicação para esclarecer a sociedade, que pelo menos não tragam mais desinformação.

 

Leia o artigo completo no site do Portal Unicamp.