Normanda Araújo de Morais teve um processo de escolha de profissão bem tranquilo e confiante, convicta sobre a escolha da psicologia. Ela sempre se viu bastante empenhada em entender a subjetividade e o comportamento humano. Somado a isso, Normanda sempre teve o desejo de vincular a psicologia ao trabalho com pessoas em situação de vulnerabilidade social – um sonho hoje realizado pela Acadêmica.   

Nascida em 1980, na cidade de Teresina, no estado do Piauí, Normanda Morais é a filha caçula de pai bancário e mãe professora de escola pública. Passou a infância entre as cidades nordestinas de Pau dos Ferros (RN), Sobral (CE) e Natal (RN), onde viveu dos 9 aos 22 anos. Uma memória bastante viva que ela mantém da infância é das “aulas” que ministrava às suas bonecas e a uma funcionária que trabalhava em sua casa – um indício precoce do que o futuro lhe reservava.  

A Acadêmica conta que sempre gostou de estudar e manteve um amor especial pelos livros e pelo ambiente escolar. “No colégio fui desenvolvendo uma forma mais crítica de ‘ler’ a realidade e acredito que aí foi plantada em mim essa característica, essencial a qualquer pesquisador”, observou. Embora tenha escolhido as ciências humanas, Normanda relata que sempre gostou de matemática, física e química. Porém, manteve laços mais estreitos com professores de história e geografia, “que apresentavam uma leitura mais crítica e politizada da sociedade”.   

Sempre dinâmica e muito sociável, independente das muitas mudanças durante a infância, Normanda iniciou a graduação em 1998, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A partir do terceiro semestre se interessou pela iniciação científica (IC), primeiro como voluntária e logo depois como bolsista. Para ela, essa experiência foi divisora de águas: “Tive acesso ao método de pesquisa, à experiência de ir para campo, coletar dados, analisar dados, preparar trabalhos para congressos e redigir manuscritos para publicação.” Seus dois primeiros artigos, que até hoje são citados em outros estudos, foram redigidos nesse período. Sua orientadora de IC, a Profa. Marta Traverso-Yépez, a estimulou desde cedo para que interagisse com mestrandos, doutorandos e pesquisadores mais experientes da pós-graduação, o que despertou o interesse da jovem pela atuação como pesquisadora e docente.   

Na pós-graduação, dois fatores foram decisivos para a escolha de Normanda: o renome nacional e internacional da instituição – que acabou sendo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – e um curso avaliado com nota máxima pela Capes (nota 7). Ela queria ter acesso a bons pesquisadores e a um programa de excelência, que priorizasse a formação para pesquisa, incluindo diversidade de métodos e técnicas de pesquisa, ensino e extensão. “Destaco como diferenciais o convívio e troca intensa com colegas do grupo de pesquisa, a participação em projetos de pesquisa para além dos projetos de mestrado e doutorado, além da experiência do doutorado sanduíche na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, Estados Unidos.” Nesse processo, Normanda ressaltou o papel decisivo da sua orientadora de mestrado e doutorado, Sílvia Helena Koller, que permitiu sua participação em projetos de pesquisa paralelos, além de introduzi-la numa rede fantástica de pesquisadores-colaboradores e, sobretudo, pela ótima relação que construíram, categorizada como “respeitosa, afetuosa e produtiva”. Em 2011, ela concluiu seu primeiro pós-doutorado, na UFRGS, como bolsista da Jacobs Fundation (EUA). 

Atualmente, Normanda Morais reside no estado do Ceará, onde é professora titular e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor). Também coordena o Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos).  

Bolsista de produtividade 1D do CNPq, ela estuda a psicologia do desenvolvimento focada, sobretudo, em contextos de vulnerabilidade social. Normanda vem trabalhando com crianças e adolescentes em situação de rua, casais, adolescentes e famílias LGBTs, além de famílias de crianças com autismo e deficiências. “O que mais me interessa é a análise dos fatores de risco e de proteção, os potenciais impactos psicossociais dos mesmos, assim como a análise dos processos de resiliência – individual, familiar e comunitária – na vida de diferentes indivíduos e grupos, compreender melhor como eles lidam com as adversidades do seu contexto”, afirmou a Acadêmica. Os resultados são úteis para subsidiar intervenções em diferentes contextos com esses grupos.   

Sobre a ciência de modo geral, Normanda disse que o que mais a encanta é a possibilidade de questionar diferentes aspectos do mundo à nossa volta, fazer perguntas sobre os fenômenos e, a partir de um método rigoroso, buscar respostas para estas questões. “Tal processo seria em vão, no entanto, se esta ciência não tiver como fundamento último a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. Acredito nesta ciência, antenada com as questões sociais, econômicas, políticas e culturais, e eticamente comprometida com a promoção do desenvolvimento e bem-estar humano, sobretudo dos grupos menos favorecidos”, frisou a Acadêmica.  

Ser escolhida como afiliada da ABC é, para Normanda Morais, uma distinção e um reconhecimento importante. “Fico especialmente feliz pelo fato de ser uma mulher, docente de uma instituição privada do nordeste brasileiro e da área da psicologia. Me sinto muito responsável por esta indicação e pretendo aproveitar as oportunidades de intercâmbio que a ABC certamente me trará”. Ela deseja colaborar com o conhecimento específico que possui em sua área de atuação e também com o desenvolvimento de uma ciência mais inclusiva e com menos desigualdade de gênero.  

Afora a ciência, os interesses de Normanda Morais envolvem, sobretudo, sua família. Ela aprecia a vivência de momentos prazerosos com sua companheira e seu filho, que faz três anos ainda em 2021. “Adoramos praia e sol, e também cinema, séries, cantar e dançar! Eles são minha maior alegria, em meio à rotina intensa e, por vezes, desgastante, do trabalho acadêmico. A eles meu amor e gratidão”.