Camila Amorim gosta de estar com a família. Para ela, seus filhos estão acima de tudo e seu tempo fora da ciência é dedicado prioritariamente a eles. Procura manter um estilo de vida saudável e gosta de praticar esportes, como corrida e mountain bike. Ela diz que ama viajar e tem o desejo de conhecer cada vez mais países e culturas. Na música, seu estilo preferido é o rock clássico dos anos 60, 70 e 80. Mas a ciência é a carreira que escolhe e que lhe encanta, por ser a ferramenta que a capacita a contribuir para tornar o mundo melhor de alguma forma. “Nesse momento, acima de tudo, o mundo tem notado o valor extraordinário da ciência não só na produção de vacinas, mas também em diferentes áreas, seja na produção de novos medicamentos, materiais e também tecnologias de remediação ambiental”, afirma a cientista.
Nascida em 1980, na cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás, onde teve uma infância livre, andando de bicicleta, jogando queimado e vôlei na rua, Camila Costa de Amorim Amaral é filha do meio de um técnico agrícola, que posteriormente assumiu o negócio da família, e de uma biomédica, que se desdobrava entre o laboratório clínico e institutos de pesquisa, chegando a ter três empregos ao mesmo tempo. Entre Camila e as duas irmãs a diferença de idade era pequena, então cresceram muito unidas. Sua irmã mais velha estudou design de moda, quase ao mesmo tempo que Camila, e a caçula cursou arquitetura, todas três em universidades federais.
Ela relata ter sido uma criança muito comunicativa, sempre andando em turma e fazendo amizade com todo tipo de pessoa. Além de brincar ao ar livre, Camila gostava de montar quebra-cabeças e de jogos de tabuleiro. Nas férias, as irmãs iam para Nerópolis, cidade natal de seus avós paternos e de seu pai no interior do estado de Goiás. Na escola, suas matérias preferidas eram matemática e ciências.
Seu interesse pela ciência foi despertado pela mãe biomédica, que proporcionava às filhas experiências incríveis e inusitadas. Se ia explicar anatomia para as meninas, abria camundongos de laboratório. As reações químicas eram explicadas na prática, com reagentes e experiências. Por sua influência, nos experimentos da escola, Camila não plantava apenas feijão como as outras crianças, mas abria as sementes e colocava corante na água para compreender o sistema radicular das plantas. “Minha mãe foi minha maior inspiração. Tinha todas as respostas na ponta da língua, senão pegava logo um livro e nos mostrava”, conta a Acadêmica.
Camila fez curso profissionalizante técnico em Saneamento, no Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (Cefet/GO), quando teve a oportunidade de estagiar na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos em uma grande empresa de alimentos, onde mais tarde seria contratada. No entanto, abdicou do emprego para fazer faculdade em outro estado, em busca de uma educação superior de qualidade. Saiu de Goiânia com 19 anos para ingressar no curso de engenharia ambiental na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 2000. Durante a graduação, fez iniciação científica com tratamento de efluentes de indústria de celulose e papel e também no Laboratório de Sistemas de Informação Geográfica.
Recém-formada, Camila Amorim foi aprovada no mais bem conceituado mestrado do país na área ambiental, em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Lá trabalhou com a professora Mônica Leão, referência na área de tratamento de efluentes têxteis e teve a oportunidade de realizar um período sanduíche com a professora Regina Moreira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Essas duas mulheres me inspiraram a seguir a carreira de pesquisadora e são minhas referências pela garra, humildade, inteligência e dedicação”, conta Camila Amorim.
Ainda no mestrado, foi selecionada para continuar suas pesquisas no doutorado, no mesmo programa, e no mês da sua defesa já estava matriculada no curso. Nesse período, Camila trabalhou na iniciativa privada, porém percebeu que sentia falta do meio acadêmico e da pesquisa científica. “Eu sentia que não estava produzindo no sentido de melhorar uma nação, eu sentia que eu tinha mais para dar para meu país e para as pessoas”, relata.
Ingressou, então, como professora assistente na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e, após três meses da conclusão do doutorado, foi aprovada no concurso público para a vaga de professora adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, contando sempre com o apoio do seu amigo e atual marido Rodrigo Amaral. “Estar na UFMG foi decisivo para que eu pudesse enxergar a pesquisa com outros olhos”, afirma. Ela cita os professores Rochel Lago, Marcos Von Sperling, Carlos Chernicharo, Wilfrid Keller e tantos outros como inspiração para sua vida e carreira.
No período entre 2018 e 2019, Amorim teve a oportunidade de fazer um estágio de pós-doutorado na Manchester Metropolitan University, na Inglaterra, na área de Engenharia de Materiais aplicados ao tratamento avançado de águas. Ela conta que o período foi muito enriquecedor para sua carreira.
Atualmente, Camila Amorim lidera dois grupos de pesquisa na área ambiental, em conjunto com outros três professores. O Grupo de Pesquisas em Aplicações Ambientais de Processos de Oxidação Avançada (GruPOA/UFMG) estuda o tratamento e a adequação de diferentes tipos de efluentes líquidos para disposição adequada ou reuso. “O grupo trabalha com a aplicação de processos irradiados ou não, utilizando reagentes químicos comuns e, na grande maioria, a luz solar para a descontaminação ambiental, removendo contaminantes emergentes como antibióticos, fármacos em geral, pesticidas e recentemente bactérias e genes de resistência antimicrobiana”, explica a cientista.
O segundo grupo, Sistemas Inteligentes para o Monitoramento Ambiental, visa a utilização de imagens de satélites e imagens obtidas por sensores específicos, acoplados em drones, para o monitoramento aquático de grandes reservatórios, utilizando técnicas de aprendizado de máquina. Ela esclarece que a ideia é criar sistemas que possam avaliar, em tempo real, a qualidade da água em ambientes de difícil acesso e em grandes extensões de reservatório, permitindo a adoção de medidas corretivas e preventivas. “Gosto da minha área de trabalho pela possibilidade de mitigar os impactos causados pelo homem, propiciando um equilíbrio entre o crescimento econômico e a preservação ambiental”, destaca a Acadêmica.
Ela conta ter ficado muito feliz e honrada com a indicação do título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “A maioria dos membros da ABC são muito produtivos e eu espero estar à altura de pertencer a esse time”, afirma. Além disso, ela considera importante atuar na valorização de novos talentos na engenharia e na difusão e cooperação internacional.