Leia resenha de autoria do Acadêmico Isaac Roitman (UnB) sobre livro do Acadêmico Sérgio Olavo Pinto da Costa, lançado pela Pedagógica Editora:

O homem microbiano 

Procura-se explorar nesse livro o longínquo trajeto evolutivo que separa, sob o ponto de vista  molecular, a célula eucariótica de seus ancestrais microbianos. Essa ênfase se dá em vários aspectos da questão: (1) na forma como as bactérias pavimentaram o caminho evolutivo até o origem da célula eucariótica, (2) como a evolução humana dependeu da parceria com bactérias, (3) como os humanos e as bactérias compartilham genomas, (4) como é mantido um equilíbrio dinâmico entre os humanos e seus simbiontes e, finalmente, (5) como as abordagens ecológicas podem aprofundar a compreensão dos múltiplos níveis de interação humano-bacteriana.

O Homem simplesmente coexiste e, mesmo, depende muito desses organismos fundadores. Ele tem revelado traços moleculares de sua origem microbiana, na qualidade desses fósseis vivos (as mitocôndrias), e de fósseis não vivos, resultantes de infecções por retrovírus que, no passado, invadiram animais ancestrais (os retrovírus endógenos, ERVs) e que hoje servem como marcadores da nossa evolução.

O Homem chegou muito tarde ao planeta. Quando o Homem moderno deu conta de si, ele já estava se beneficiava do ciclo do carbono e do nitrogênio e percebeu com muita clareza o papel que os microrganismos desempenhavam nas transformações da matéria orgânica. Desde os primórdios de sua existência, o homem sempre esteve envolvido por uma verdadeira nuvem de micróbios e muitos desses micróbios são conhecidos frequentadores do seu corpo.

Os micróbios constituem uma notável flora comensal ou residente do Homem, com o qual têm coevoluido. Ao estabelecerem seus nichos ecológicos, tanto na superfície como no interior do hospedeiro, esses microrganismos formam comunidades complexas. Esse processo requer adesão e colonização para sua multiplicação.

Calcula-se que o organismo humano seja composto por cerca de 10 trilhões de células e, dessas, 90% são bacterianas. O trato intestinal humano abriga cerca de 100 trilhões de células bacterianas pertencentes a mais de 1000 espécies. A microbiota intestinal tem um papel essencial na nutrição, fisiologia, desenvolvimento, imunidade e comportamento.

As doenças infecciosas devem ter surgido relativamente cedo, juntamente com os primeiros seres vivos. Os ascendentes dos primatas, por exemplo, já portavam microrganismos que persistem até hoje nos humanos ainda que, por vezes, um tanto modificados. Microrganismos geneticamente semelhantes encontrados em chimpanzés e humanos corroboram a ideia de que as duas espécies teriam tido um ancestral comum.

Em cada uma das quatro partes deste livro, esses temas serão devidamente ampliados e aprofundados. Todos foram inteiramente escritos com base em contribuições científicas pertinentes à nossa ancestralidade microbiana, sem o objetivo de esgotar o assunto. A ordem e a disposição de seus capítulos foram organizadas com o objetivo de atender os interesses de um leitor iniciante em evolução, microbiologia, genética e biologia molecular.

O livro está organizado em três partes: (1) O começo de tudo; (2) Os micróbios fundadores e (3) Os humanos.