A ACADEMIA DE CIÊNCIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (ACIESP) expressa seu repúdio e indignação sobre o conteúdo de um áudio que circula nas redes sociais, atribuído ao químico Marcos Nogueira Eberlin, em que o acadêmico, que é membro da ACIESP, coloca sem apresentar bases científicas, dados experimentais ou referências à literatura científica, várias críticas infundadas sobre as vacinas.

O áudio contém informações incorretas e falsas sobre as vacinas da (i) Oxford/AstraZeneca e a (ii) Sputinik V, com “recomendações de que as pessoas fujam delas (as vacinas) o quanto puderem”. São utilizadas falsas afirmações, pois não existe qualquer possibilidade de essas vacinas editarem ou modificarem o DNA das pessoas. Nenhuma vacina vai alterar o DNA das pessoas vacinadas, e, portanto, não causará qualquer tipo de defeito genético. As duas vacinas em questão usam um método tradicional com o adenovírus para induzir o corpo a gerar uma resposta imunológica contra o SARS-CoV-2.

Sobre a vacina CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, Eberlin afirma que há “o risco de ser infectado pelo vírus e desenvolver a Covid-19”. Esta é mais uma afirmação falsa. A estratégia de usar o vírus inativado é a mais comum para imunizantes e utilizada com sucesso há várias décadas. Os vírus inativados passam por processos químicos e físicos em laboratório para não serem capazes de se reproduzir. Por isso, não há qualquer risco de as pessoas vacinadas serem infectadas. Por outro lado, uma vez inoculado no organismo das pessoas na forma de vacina, vai estimular uma resposta imune e ativar as nossas defesas. Isso acontece também nas vacinas comumente usadas em todo o mundo por bilhões de pessoas.

É importante ressaltar que as experimentações clínicas de fases I, II e III, realizadas no mundo todo, servem exatamente para avaliar a segurança e a eficácia das vacinas, sendo que as mesmas, para terem seu uso aprovado (emergencial ou definitivo) em humanos, passam por rigorosas avaliações das agências reguladoras em todo o mundo. Por exemplo, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); na Europa, a European Medicines Agency (EMA); e nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA).

Ainda, segundo Eberlin, a melhor vacina seria a da Pfizer/BioNTech, dando explicações descabidas como uma possível degradação da fita de RNA e o tempo de ação no organismo, sem entrar efetivamente nos aspectos científicos relevantes dessa vacina. No Brasil as únicas vacinas aprovadas pela Anvisa e disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, até o momento, são a CoronaVac/Butantan e a vacina da Oxford/AstraZeneca/Fiocruz. Apesar disso, Eberlin sugere que as pessoas optem pela vacina da Pfizer, que não está disponível e para a qual ainda não há previsão.

Sobre quem deve tomar as vacinas, Eberlin aumenta a desinformação com a absurda recomendação de que valeria apenas aos idosos, pois já estariam em seu ciclo final de vida e não teriam mais filhos, estando mais protegidos dos efeitos colaterais a longo prazo, pois já teriam falecido antes de eles aparecerem. As vacinas já aprovadas no Brasil e que estão, aos poucos, sendo oferecidas aos grupos prioritários são da maior importância, não somente para proteger a população e diminuir o grande sofrimento causado pela Covid-19, mas também para salvar milhões de vidas nesse momento trágico que enfrentamos.

Por fim, é necessário ainda reforçar fortemente a necessidade de medidas de proteção como o distanciamento social, o uso de máscaras e a correta higienização das mãos. E, claro, combater as campanhas e as críticas infundadas contra as vacinas.

A vacinação da população brasileira é a única maneira de controlar a pandemia de Covid-19. Precisamos estimular as campanhas nacionais de vacinação, amplas, públicas e gratuitas. A Ciência deu um grande passo nesta pandemia, desenvolvendo vacinas em tempo recorde. A ACIESP repudia o uso ideológico da Ciência, e as campanhas de fake news e desinformação. O momento requer união, luta, lucidez e solidariedade em todos os níveis de nossa sociedade.

Vanderlan S. Bolzani, Paulo Artaxo e Adriano D. Andricopulo
Diretoria da ACIESP