Leia artigo da Acadêmica Débora Foguel, professora titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenadora de Educação da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), membro titular da ABC e da Academia do Mundo em Desenvolvimento (TWAS), enviado para a NABC:  

Segundo o site do Prêmio Nobel, cientistas mulheres foram premiadas 58 vezes no intervalo entre 1901-2020 em um total de 950 laureados, dentre os quais 27 são organizações.  Aqui prefiro não calcular a percentagem de mulheres contempladas, para não aumentar minha perplexidade…

Marie Curie, uma das mulheres dessa minguada lista, acumula duas premiações (em 1903, prêmio de Física e em 1911, prêmio em Química). Dessa forma, o número real de mulheres agraciadas é 57. Aqui, pelo que apurei, apenas mais três cientistas, todos homens, foram agraciados mais que uma vez: John Bardeen, na Física; Linus Pauling, na Química e Paz e Frederick Sanger, na Química. Dessa forma, dos quatro com mais de um prêmio, uma é mulher!

Fazendo um passeio pela evolução dessa premiação às mulheres, identifico uma clara evolução, mas, certamente muito aquém da participação feminina na ciência que, em muitas áreas é majoritariamente feminina, inclusive no Brasil.

Vejamos: entre 1901-1920, foram quatro as mulheres premiadas; entre 1921 e 1940, cinco; entre 1941 e 1960, três; entre 1961 e 1980, sete; entre 1981 e 2000, onze e entre 2001 e 2019, 24 mulheres foram premiadas. Ou seja, nas últimas duas décadas tivemos quase que o mesmo número de mulheres premiadas (24) que nos primeiros 80 anos (30).

Finalmente, novos ares parecem circular pela Academia Sueca e seu comitê de indicação…

Nessa última edição do Prêmio, várias foram as mulheres contempladas. Andrea Ghez ganhou o Nobel na área de Física, pelas suas contribuições à descoberta da existência de um objeto supermassivo no centro da nossa galáxia.

Na Química, só deu mulher! Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna receberam a honraria pela descoberta de um novo método de edição de genomas em bactérias, que pode ser utilizado como poderosa ferramenta para edição de genomas de forma geral, incluindo o nosso, o de animais e de plantas. Esperamos que essa ferramenta seja sempre empregada para o bem e, nesse sentido, as duas pesquisadoras já participam de um comitê em bioética para discutir essa importante questão.

Andrea Ghez, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna

Na área de Fisiologia e Medicina, essa edição não premiou mulheres e o prêmio foi concedido a três pesquisadores pelas suas descobertas acerca do vírus da hepatite C.

Já o Nobel de Literatura, nessa edição, premiou Louise Gluck pelo conjunto de sua obra literária e poética, que aborda aspectos da nossa existência. Nos dias de hoje, esse prêmio literário ganha enorme importância, frente aos descasos que temos assistido para com a cultura e a arte.

Na categoria Paz, esse ano a organização Programa Alimentar Mundial da ONU recebeu o Nobel, pelos seus préstimos no combate à fome. Não há dúvida de que muitas mulheres e homens têm trabalhado nessa instituição por essa nobre causa. Também não há dúvida de que essa premiação vem carregada de simbolismos, necessários nos dias atuais: somente juntas e unidas, de forma solidária, as nações poderão combater e mitigar o mais primário direito humano: o de estar alimentado.

Ainda não foi divulgado o Nobel de Economia em 2020, faltam dois dias. Então, os números podem mudar. Mas fazendo hoje um recorte em cada área na busca pelas premiações femininas ao longo de todas essas décadas, vemos que quatro mulheres foram agraciadas na área de Física; sete na Química; 12 na Fisiologia e Medicina; 16 na Literatura; duas na Economia e 17 na categoria Paz.

Certamente, identificamos prevalência de premiações femininas nas áreas de Literatura e Paz, o que pode ser objeto de muita reflexão e que deixo aqui, para que o(a) leitor(a) faça por si. Refletirmos sobre o porquê das mulheres serem tão brutalmente sub representadas nessa premiação e pensar em como vencer essa questão cultural é temática urgente e necessária.