Leia o artigo da professora titular da UFRGS e e diretora da ABC, Marcia Barbosa, publicado no blog Ciência e Matemática, do Acadêmico Claudio Landim, no jornal O Globo, em 14/09:

Marcia chega a uma pequena cidade do interior da Itália. O ano é 1985, sua primeira viagem ao exterior. O trem chega à meia-noite e a pessoa que viria buscá-la na estação não estava lá. Compreensível pois o voo do Brasil havia atrasado e ela teve que pegar um trem diferente do planejado. Ela sabia que a casa onde deveria se hospedar era próxima à estação, mas como chegar lá sem mapa da cidade e na ausência de táxi? Será que ela teria que dormir em um banco na estação de trem? Ela então recorre a uma pessoa que chegara ao mesmo tempo que ela na estação e pergunta como chegar até o endereço do apartamento. Esta pessoa, que voltava de uma viagem de trabalho e tinha deixado o carro na estação, ofereceu uma carona. Apesar de muito apreensiva, Marcia aceitou a ajuda. O percurso entre a estação de trem e a local onde ela iria se hospedar parecia para a jovem cientista ter durado uma eternidade. Será que esta pessoa iria deixá-la no lugar certo?

Esta história de se encontrar perdida em uma cidade estranha se repetiu inúmeras vezes nas diferentes viagens de Marcia, mas depois do advento do GPS, o desfecho perdeu a sensação de novela de suspense. Na primeira viagem à Itália Marcia teve um ato de fé. Ela não tinha certeza de que esta pessoa realmente a levaria ao lugar certo. Aliás, o fato desta pessoa ter ajudado não era garantia de que no futuro ao consultar uma outra pessoa, esta indicaria o endereço correto. Fé não tem reprodutibilidade. No caso do GPS e da ciência a reprodutibilidade é o ingrediente central.

Se temos esta confiança no GPS, por que parte da população desconfia de outros conhecimentos igualmente desenvolvidos pela ciência? Algumas pessoas se rebelam contra a ciência em temas como mudanças climáticas, vacinas ou a terra não ser plana por serem estas verdades inconvenientes para elas. O que surpreende é que estas mesmas pessoas confiam e seguem determinações de governos, as leis e as regras sociais, mesmo quando igualmente inconvenientes.

Max Weber, um dos maiores pensadores sobre a sociedade ocidental, define que as pessoas confiam e seguem três formas de autoridade: tradicional, legal ou carismática. A tradicional está associada a grupos que se mantém no poder por gerações como os reis, os idosos, famílias da elite. A autoridade legal está ligada às estruturas de governança e de suporte da lei e a autoridade carismática advém de lideranças personalistas como líderes políticos, religiosos e formadores de opinião pública. A ciência não cabe em nenhuma destas definições. Ela não é conservadora, nem baseadas em leis que mudam com a liderança local e nem carismática. Urge incluir na lista de Max Weber uma quarta forma de autoridade: a autoridade do conhecimento.

Por que ter confiança na ciência? Um dos grandes sucessos que a ciência alcançou foi a longevidade. Uma pessoa vivendo na Europa em 1800 tinha uma expectativa de vida de 34 anos, em 1950 passou para 62 anos e em 2015 para 78 anos. A longevidade surge como uma consequência de avanços científicos desde o desenvolvimento de medicamentos e de vacinas até ampliação da produtividade agrícola e do conhecimento do comportamento social coletivo.

Reconhecendo a necessidade de conscientizar a população sobre a autoridade do conhecimento, a Academia Brasileira de Ciências lança uma campanha através de um vídeo onde acadêmicos declaram que confiam na ciência e convidam a população a fazer o mesmo.

E, você confia na ciência?

#EuConfioNaCiência