No dia 13 de maio, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, participou de uma videoconferência com a diretora adjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS), Zsuzsanna Jakab. O objetivo era discutir potenciais ações a serem desenvolvidas pelas organizações signatárias da Carta Aberta à Organização das Nações Unidas (ONU), endossada pela Academia, que clama por equidade em saúde durante a pandemia de covid-19.

Participaram da videoconferência as organizações que estiveram à frente da construção da Carta Aberta: a Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), a Federação Mundial de Enfermeiros em Cuidados Críticos (WFCCN), a Aliança Latino Americana para a Saúde Global (ALASAG) e a Rede Global de Academias de Ciências (IAP). Paulo Buss (ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Nacional de Medicina) e outros membros da comissão de redação da carta também participaram.

Cabe destacar o peso dado pela OMS à reunião. Afora Jakab, segunda pessoa na hierarquia da organização, também participaram cinco outros diretores da OMS: Mariângela Batista Galvão Simão (diretora geral adjunta assistente para a área de acesso à medicamentos, vacinas e produtos farmacêuticos); Naoko Yamamoto (diretora geral adjunta do Departamento de Cobertura Sanitária Universal); Maria Neira (diretora de Saúde Pública, Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde); Ruediger Krech (diretor do Departamento de Ética, Comércio, Equidade e Direitos Humanos); e Etienne Krug (diretor do Departamento de Controle de Doenças Não Transmissíveis, Deficiências, Violência e Prevenção de Lesões).

Em sua manifestação inicial, Jakab elogiou a iniciativa proposta pela Carta Aberta e agradeceu o apoio manifesto à OMS. Salientou que ficou positivamente impressionada com a amplitude e representatividade das instituições que subscreveram o documento. Sua fala foi complementada pelos diretores presentes, que apresentaram as ações desenvolvidas pela OMS visando a garantia da equidade global em saúde. Na sequência, as instituições participantes, que representam as comunidades de saúde pública, de prestadores de cuidados de saúde, e científica, fizeram um breve resumo das preocupações e propostas expressas na carta aberta, colocando-se à disposição para colaborar com a OMS no enfrentamento da pandemia.

Após a rodada de falas, Zsuzsanna Jakab enfatizou a importância da colaboração proposta, dado o peso e a legitimidade das instituições signatárias do documento, manifestando interesse em construir mecanismos para que uma cooperação efetiva possa vir a ser desenvolvida. Pelo lado da OMS, Naoko Yamamoto ficou responsável por fazer a interação com o grupo, que apresentará uma proposta com o escopo da colaboração que pode ser oferecida.

Na visão de Luiz Davidovich, a recepção da Carta Aberta pela OMS foi excelente, e foi aceita a proposta de um grupo de trabalho que possa traçar uma estratégia para executar as recomendações da Carta por equidade em saúde durante a pandemia, de modo a permitir acesso a medicamentos, equipamentos de proteção individual e vacinas a populações mais vulneráveis em diversas regiões do planeta. O engajamento das Academias de Ciências do mundo nesse processo, trabalhando em sintonia com a comunidade médica e demais profissionais de saúde, muito pode ajudar na orientação a governos e sociedades para que as políticas traçadas – nas esferas global, regional, nacional e local -, sejam construídas com o suporte de informações cientificamente sólidas e de fronteira.

“O combate à covid-19 é o maior desafio enfrentado pela humanidade nos últimos cem anos. Nesta guerra a ciência tem um papel fundamental”, apontou o presidente da ABC. Ele acrescentou que “as Academias podem e devem cumprir um papel de destaque, ajudando a mobilizar pesquisadores das diferentes áreas para, a partir de uma abordagem multidisciplinar, olhar para os problemas em suas múltiplas dimensões. É nesse contexto que enxergo essa iniciativa, que a ABC abraça com muito entusiasmo.”

Já Paulo Buss, que durante muitos anos foi representante do Brasil no Comitê Executivo da OMS, afirma que nunca viu uma representação tão significativa de entidades e personalidades mundiais reivindicando por um tema de tanta importância: a ética da equidade em saúde. De forma semelhante, nunca viu tamanha receptividade por parte da OMS a uma iniciativa vinda de fora. Nas palavras dele, “cientistas, sanitaristas e profissionais de saúde estão atuando juntos no front da epidemia, defendendo o direito dos países mais pobres e de pobres de todos os países terem acesso igualitário aos recursos necessários para enfrentar uma ameaça tão severa para a humanidade. O grupo de trabalho a ser criado tem uma chance ímpar de transformar a visão que doadores, autoridades nacionais e população em geral têm do direito universal à saúde e ao bem-estar.”

Como desdobramento da carta aberta e da reunião com a OMS, no futuro breve será realizada nova videoconferência, dessa vez com Amina Mohammed, vice-secretária geral da ONU.