Novos membros da ABC: Felipe Bohn, Bartolomeu Cruz Viana Neto, Roberto Cesar Pereira Lima Junior, Luiz Felipe Cavalcanti Pereira e Pierre Basílio Almeida Fechine, acompanhados do vice-presidente regional da ABC-NE&ES, Jailson Bittencourt e do vice-presidente regional da ABC-SP, Oswaldo Alves.
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu, no dia 28 de agosto, o Simpósio e Diplomação dos Novos Membros Afiliados da Regional Nordeste e Espírito Santo, para o período de 2019 a 2023. A cerimônia foi realizada no Instituto Internacional de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e a mesa de abertura contou com a participação do reitor da UFRN, José Daniel Diniz, do vice-presidente regional da ABC, Jailson Bittencourt, e do secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio Grande do Norte, Jaime Calado.
Estiveram presentes também no evento o secretário executivo de Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba, Claudio Furtado; a secretária de CTI da Bahia, Adélia Pinheiro; o secretário de CTI do Ceará, Inacio Arruda; e Pedro Igor Nascimento, secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Maranhão.
Apresentaram suas pesquisas e foram diplomados cinco jovens cientistas: Bartolomeu Cruz Viana Neto (Ciências Físicas, UFPI – Universidade Federal do Piauí), Felipe Bohn (Ciências Físicas, UFRN), Luiz Felipe Cavalcanti Pereira (Ciências Físicas, UFRN), Pierre Basílio Almeida Fechine (Ciências Químicas, UFC – Universidade Federal do Ceará) e Roberto Cesar Pereira Lima Junior (Ciências Biomédicas, UFC).
Mesa de abertura: Aluisio Lessa, José Daniel Diniz, Jailson Bittencourt e Jaime Calado
De acordo com o vice-presidente regional Jailson Bittencourt, “o ex-presidente da ABC, Jacob Palis, era um visionário e acreditava que era preciso ter uma jovem Academia”, e foi nesse contexto que a categoria de membros afiliados foi criada, em 2007. O objetivo é incluir jovens com menos de 40 anos, que se destaquem em suas carreiras científicas. Eles são eleitos pelas vice-presidências regionais (Norte, Nordeste e Espírito Santo, Minas Gerais e Centro-Oeste, Rio de Janeiro, São Paulo e Sul), e permanecem membros da ABC por cinco anos não prorrogáveis.
José Daniel Diniz, reitor da UFRN, parabenizou os diplomados, com destaque para aqueles que representam a universidade, e comentou que o país vive um momento delicado “que exige o exercício da crítica de forma isenta e muito delicada”. O secretário Jaime Calado, representando a governadora do estado, Fátima Bezerra, falou sobre algumas iniciativas do governo em prol da ciência e destacou que “sem ciência, tecnologia e inovação não iremos a lugar algum”.
A mesa de abertura ainda contou com a participação de Aluisio Lessa, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) de Pernambuco e diretor do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de CTI (Consecti), que divulgou o acordo entre secretários de CT&I dos governos estaduais da região Nordeste. Ele conta que o Nordeste é uma das regiões “mais carentes de orçamento” e que, por isso, as autoridades dos nove estados resolveram unir forças para melhorar a situação.
O impacto das mudanças climáticas no semiárido brasileiro
Além das palestras dos jovens cientistas diplomados, dois membros titulares da ABC dividiram sua vasta experiência e falaram um pouco de suas áreas de pesquisa. O primeiro a palestrar foi o doutor em biofísica Luiz Drude de Lacerda, que contou ao público sobre os impactos das mudanças climáticas em ambientes extremos. No caso brasileiro, o ambiente em questão é o semiárido, que tem registrado fenômenos como a expansão dos manguezais e os elevados índices de mercúrio, mesmo que no Nordeste não haja fontes significativas desse contaminante.
O cientista apontou que uma possível justificativa para esses fenômenos é a combinação da diminuição da frequência das chuvas, que reduz o fluxo fluvial, com o aumento do nível do mar. Dessa maneira, a água oceânica adentra o continente de forma mais intensa do que água do rio que desemboca no oceano. A junção das águas dessas duas origens ocorre nos estuários, uma região geográfica de transição entre um rio e o mar e, devido ao desequilíbrio nos fluxos, há transformações químicas que produzem uma maior sedimentação dessas áreas. Esses sedimentos, somados à incidência de água salgada, inviabilizam o desenvolvimento da vegetação terrestre, e o espaço logo é tomado por manguezais.
Drude pontuou que o manguezal é o único sistema na supergênese que tem um metabolismo anóxico, em que não há oxigênio, mas podem existir compostos como o nitrato ou o sulfato, enquanto todos os outros são aeróbicos, ou seja, com a presença do oxigênio. Por isso, “quando o mangue expande, ele não expande só uma vegetação, e sim um reino biogeoquímico diferente”, conta.
Dessa forma, uma espécie de ciclo é estabelecida, uma vez que a soma de uma estação seca – com baixo fluxo fluvial e um intenso fluxo de águas oceânicas – gera alagamentos e erosão nas áreas de mangues. Consequentemente, há a dissolução dos metais associados a essas áreas, incluindo o mercúrio.
Quando há essa contaminação de metais, os seres da região acabam sendo expostos aos riscos, incluindo os humanos. Drude afirmou que esses fenômenos não têm controle e não há como atuar diretamente na fonte, então só é possível mitigar e se adaptar aos efeitos. Algumas possibilidades são a seleção das espécies com maiores índices de metais e a suspensão do consumo humano destas, além da proibição da pesca nas áreas contaminadas. Contudo, o pesquisador reforçou que até as medidas de mitigação não são totalmente aplicáveis aos mais afetados: a população do semiárido.
“Você pode escolher comer peixe quando vai na barraca da praia ou quando resolve cozinhar em casa, mas e a pessoa que mora na beira do rio e só come isso de manhã, de tarde e de noite?”, completa.
“O futuro da nanotecnologia ainda está por vir”
É possível que ao ouvirem o termo “nanotecnologia”, muitas pessoas imaginem máquinas extremamente tecnológicas ou robôs, mas essa tecnologia está presente em diversas situações do cotidiano. O vice-presidente Regional da ABC – São Paulo, Oswaldo Luiz Alves, proferiu uma palestra com o tema “nanotecnologia das coisas”, e destacou que ela está em todas as áreas de conhecimento, inclusive nas humanidades.
Na nanotecnologia, trabalha-se na escala dos bilionésimos de metro ou nanômetros, que é a unidade de medida dessa área. Se compararmos ao diâmetro de um fio de cabelo com 60 micrômetros, a escala nanométrica seria cerca de mil vezes menor. Alves observou que, justamente por seu caráter interdisciplinar, a nanotecnologia não deve ser vista como uma área, mas como uma plataforma de conhecimento.
Nessa plataforma, as indústrias são as principais beneficiárias dos conhecimentos gerados por essas nanotecnologias. Alves mostrou que diversos produtos do cotidiano já estão sendo atualizados para aproveitar esses benefícios Já foi desenvolvido um tênis com tecido oleofóbico que não suja ao entrar em contato com substâncias gordurosas; janelas de prédio com um sistema autolimpante e tintas que, ao serem lavadas, conseguem se desprender das substâncias de sprays de pichação.
O Brasil não ficou para trás: está entre os maiores produtores de pás de moinhos de energia eólica do mundo. De acordo com o Acadêmico, “se os moinhos fossem totalmente de metal, quando instalados em um local com ondas de 6 metros e ventos de 80 km/h, a logística teria que ser absurda”. Por esse motivo, os brasileiros passaram a produzir pás de resina polimérica (nanocompósitos), que utilizam a nanotecnologia, e facilitaram a gestão dos produtores de energia eólica.
Oswaldo Alves reforçou que ainda é preciso considerar os impactos do desenvolvimento da nanotecnologia para o homem e para o meio-ambiente, uma vez que ainda não há um total conhecimento das implicações do uso das nanopartículas, o que implica, que muita ciência nova ainda terá que ser realizada.
“A interação homem-máquina é uma realidade e nos mostra que estamos no século 21, e as tecnologias disruptivas fazem parte desse século”, finalizou.
Saiba mais sobre os novos membros afiliados da ABC e veja a galeria de fotos do evento!
Desvendando as propriedades dos nanomateriais
Bartolomeu Viana Neto é pesquisador da área de nanotecnologia, professor da UFPI e novo membro afiliado da ABC, para o período de 2019 a 2023.
Construindo o progresso tecnológico com o nanomagnetismo
Novo membro afiliado da ABC para o período de 2019 a 2023, Felipe Bohn é professor da UFRN e trabalha com materiais magnéticos nanoestruturados em sua pesquisa.
Investigando as toxicidades do tratamento oncológico
Na UFC, o novo membro afiliado da ABC para o período de 2019 a 2023, Roberto Lima Júnior pesquisa os efeitos adversos no tratamento do câncer.
Simulando experimentos de laboratório com sistemas nanoscópicos
Professor da UFRN e pesquisador na área de condução de calor em sistemas nanoscópicos, Luiz Felipe Pereira é um dos novos membros afiliados da ABC para o período de 2019 a 2023.
Formulando a química de novos materiais e novas aplicações
Pierre Fechine é um dos novos membros afiliados da ABC para o período de 2019 a 2023, e pesquisa a síntese, caracterização e uso de novos materiais na UFC.
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