Na segunda atividade para a divulgação científica realizada durante o 4º Encontro Nacional de Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), os cientistas foram convidados a pensar como designers e agir como artistas. Sob a orientação da comunicóloga Paula Schuabb e da atriz e diretora teatral Leticia Guimarães, os pesquisadores puderam refletir sobre sua ciência a partir da arte no evento sediado em Fortaleza, Ceará, no dia 25 de junho.
Na parte da manhã, Guimarães deu início a sua palestra alertando que trazia uma mensagem de outro planeta: o teatro. No Museu da Vida, da Fiocruz, ela trabalha na popularização da ciência por meio de uma linguagem teatral não-didática e compartilhou sua experiência com os cientistas presentes, para que eles adquirissem um novo olhar sobre comunicação, divulgação e popularização da ciência.
Não há mais espaço para o preconceito com a arte. E, citando Milton Nascimento na canção “Nos bailes da vida”, a atriz defendeu que tal como os artistas, todo cientista tem de ir aonde o povo está. “Respeitem os artistas, trabalhem com os artistas, porque se de fato buscam comunicar a ciência de vocês, é com a arte que vão alcançar os melhores resultados”, declarou a atriz.
Logo em seguida, a mestre em teoria e crítica do design Paula Schuabb fez uma apresentação sobre narrativas visuais. Ela explicou que uma pesquisa realizada pela Microsoft, em 2015, identificou que enquanto o tempo médio de atenção de um peixinho dourado é de 9 segundos, o da maioria das pessoas é de 8 segundos. “Ou seja, nós temos em média 8 segundos para conquistar o interesse das pessoas. E, nesse cenário, recursos visuais podem e costumam fazer a diferença, quando o desafio é atrair e manter a atenção do público”.
Schuabb constatou que é preciso dedicar tempo à elaboração de uma apresentação, para que as pessoas compreendam o tema da maneira como o autor precisa que elas compreendam. Nesse sentido, as imagens podem ser uma ótima ferramenta, pois contam histórias e são ricas em informação, mas, em todos os casos, devem ter um objetivo claro para estar ali.
A informação deve ser passada da forma mais simples possível para que os aspectos mais importantes sejam lidos e entendidos: menos é mais. Para conseguir isso, a designer recomendou o uso de elementos gráficos como setas, círculos e o uso de cores para ressaltar a informação chave. “Da mesma forma, elementos que não têm uma função clara ou que possam desviar o foco devem ser evitados”, alertou. Veja o resumo da apresentação disponibilizado pela palestrante.
As afiliadas durante a atividade de encenação realizada por Guimarães e Schuabb
Schuabb ponderou que nem todos têm que ser designers, mas todos podem aprender a pensar como um. “O pensamento visual pode mudar a maneira como as pessoas vão assimilar não apenas apresentações de pesquisas científicas, mas projetos, aulas e documentos”, explicou.
Para seguir nesse caminho, Schuabb ressaltou que existe muito material disponível na internet, como tutoriais, dicas de design, bancos de imagens gratuitos, aplicativos e templates que podem servir de base para as apresentações. Aqui ela apresenta sugestões, além de destacar dicas de sua palestra.
“O importante é insistir, pois é na tentativa e erro que conseguimos exercitar soluções, até encontrar aquelas que melhor se adequem às nossas necessidades”, concluiu a comunicóloga.
Na parte da tarde, as palestrantes desafiaram os cientistas a explicarem uma pesquisa científica por meio de uma rápida encenação. Divididos em grupos, para cada um foi sorteado um gênero, como comédia, drama ou terror, e um público alvo, como crianças, adolescentes de periferia ou idosos. Eles ainda contaram com uma tela para projetar um cenário e materiais de papelaria para ajudar na indumentária.
Com esses recursos nas mãos, os afiliados superaram a timidez, as barreiras de linguagem e o rigor científico e deixaram que ficasse por conta da criatividade a tarefa de explicar a ciência que fazem todos os dias. Um sucesso de comunicação científica e de socialização entre os participantes.
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