A Academia Brasileira de Ciências (ABC) empossou 18 novos membros titulares e três membros correspondentes na noite de 15 de maio, na Escola Naval, no Rio de Janeiro. A cerimônia foi realizada em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que concedeu títulos a pesquisadores eméritos e menções especiais de agradecimentos, além de entregar o do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, Edição 2019, a mais importante honraria da área no país. O evento contou com o apoio da Marinha do Brasil, da Fundação Conrado Wessel (FCW) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).
A mesa da cerimônia foi composta pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira; o presidente do CNPq, João Luiz Filgueiras de Azevedo; o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o ministro em exercício do MCTIC, Julio Francisco Semeghini Neto; o comandante da Marinha do Brasil, Almirante Ilques Barbosa Junior; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), General Waldemar Barroso Magno Neto; o presidente do conselho curador da Fundação Conrado Wessel, Jorge Marcio Arantes Cardoso; o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela.
O presidente do CNPq e o ministro em exercício Julio Semeghini entregaram as premiações do Conselho. As menções de agradecimento foram outorgadas a Leide Takahashi, em nome da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; ao ex-ministro de CTIC, Gilberto Kassab; ao ex-ministro de CT&I, Marco Antonio Raupp; e à pesquisadora da Fiocruz, Maria Cecilia de Souza Minayo.
Os agraciados com títulos de pesquisador emérito foram Carlos Alberto Lombardi Filgueiras (UFMG); David Sergio Kupfer (UFRJ); Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera (UFRJ); o Acadêmico Elisaldo Luiz de Araújo Carlini (Unifesp); José de Souza Martins (USP); Marcos Pinotti Barbosa (UFMG, in memoriam), representado pelo filho; Maria Irene Baggio de Moraes Fernandes (Embrapa), representada pelo filho; Nelson Pereira dos Santos (in memoriam), representado pela esposa; Nilza Eigenheer Bertoni (UnB); e o Acadêmico Rogério Meneghini (Fap-Unifesp), impossibilitado de comparecer ao evento.
Ciência alavanca conhecimento que tenha relevância social
A entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, que em 2019 contemplou a área de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias, foi feita ao Acadêmico Vanderlei Salvador Bagnato, professor titular do Instituto de Física da USP-São Carlos. Doutor em física pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Bagnato deu contribuições relevantes em duas áreas de pesquisa. Em física atômica de átomos frios, ajudou no entendimento das colisões atômicas frias, fato que proporcionou um enorme avanço para obtenção dos condensados de Bose-Einstein. Em biofotônica, desenvolveu técnicas para tratamento de câncer e controle microbiológico, utilizando ação fotodinâmica.
Sempre atento à transformação de conhecimento em aplicações práticas, Bagnato coordenou a Agência USP de Inovação por quase oito anos. Promoveu diversas atividades de difusão, inclusive um canal de TV, no ar 24h por dia, proporcionando valorização da ciência e melhoria do ensino. Lançou o primeiro curso on line gratuito de física do Brasil, tendo, atualmente, centenas de milhares de seguidores na internet. Em inovação, ajudou a desenvolver mais de 50 produtos e a iniciar um parque empresarial de óptica em São Carlos, com mais de 40 empresas.
Bagnato orientou mais de 110 alunos de pós-graduação, publicou mais de 500 artigos científicos e tem mais de 60 patentes registradas. É membro da Academia Brasileira de Ciências, da National Academy of Science (EUA), da Academia Mundial de Ciências (TWAS) e da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano. Recebeu diversos prêmios e honrarias nacionais e internacionais, incluindo o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, o Prêmio da IPA, entre outros. É pesquisador emérito do CNPq.
O Acadêmico agradeceu o prêmio aos seus patrocinadores e destacou o papel das instituições e agências de fomento públicas para o desenvolvimento de suas pesquisas. Em seu discurso, ressaltou que se muitos pesquisadores têm razão para deixar o pais, este não era o caso dele. Afirmou que a pesquisa brasileira é melhor hoje do que era a dez anos atrás, e apostou que será ainda melhor daqui a dez anos. “A ciência alavanca o conhecimento que tenha relevância social”, apontou. “As empresas associadas ao nosso programa de inovação acreditam na ciência como motor do desenvolvimento.”
O prêmio é uma parceria entre o MCTIC, CNPq, FCW a Marinha do Brasil. Ao agraciado são concedidos diploma e medalha do CNPq e MCTIC; premiação em espécie concedida pela FCW; visita ao Centro Tecnológico da Marinha, em São Paulo, para conhecer o Programa Nuclear e uma viagem à Antártica, oferecida pela Marinha do Brasil.
“Não podemos fugir dos investimentos em C&T”
O presidente do CNPq, João Luiz Filgueiras de Azevedo, destacou em sua fala que o mundo tem passado por mudanças, como a das novas tecnologias digitais, que tem afetado todas as áreas do conhecimento. “Se há uma certeza é que esse ritmo só vai aumentar”, apontou.
Para ter protagonismo e manter sua soberania nesse contexto, de acordo com Azevedo, a capacidade do país de gerar conhecimento inovador é fundamental. “Para passar da exportação de commodities para produtos de alto valor agregado, será requerido esforço concentrado em estimular nossos jovens a buscar carreiras em ciência e tecnologia”, ressaltou. “O orçamento passa por restrições, mas não podemos fugir dos investimentos em C&T. Nossa comunidade científica é pujante e temos que mantê-la assim, com foco em gerar inovação.
Soberania pela ciência
O Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior apresentou alguns aspectos da carreira do Almirante Álvaro Alberto e sua contribuição para o engrandecimento da pesquisa científica.
Neto de farmacêutico e filho de médico, o jovem Álvaro Alberto estudou na Escola Naval. Durante mais de 30 anos foi professor, sem abrir mão da pesquisa, especialmente na área de explosivos e na ainda embrionária área da energia nuclear. Foi um dos idealizadores do CNPq e seu primeiro presidente, assim como presidente da ABC em dois mandatos: 1935 a 1937 e 1949 a 1951. Atuou também como representante brasileiro na Comissão de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas (ONU). Especialmente, Ilques ressaltou a atuação pioneira e visionária de Álvaro Alberto no uso pacífico da energia nuclear, que derivou no desenvolvimento estratégico do Programa Nuclear da Marinha. “Por isso, temos hoje o domínio da tecnologia, desde o ciclo de enriquecimento do urânio até a construção de plantas nucleares para a propulsão naval”, salientou.
Ele relatou que foi secretário de C&T na Marinha por dois anos e que nesse período teve a honra de ter “aulas particulares” sobre política de ciência e tecnologia com o ex-presidente da ABC Jacob Palis e a atual vice-presidente da ABC, Helena Nader – “guerreira da ciência”, em suas palavras –, que na época era presidente da SBPC. Seu naipe de “mestres” incluía, ainda, outros Acadêmicos: Luiz Davidovich, Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho e Glaucius Oliva. “O Brasil precisa superar os problemas da educação, da ciência e da tecnologia, por questão de sobrevivência e de manutenção soberania nacional. A linha de frente da defesa do país são os professores e os cientistas.”
Diplomação e posse dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências
A cerimônia foi iniciada com um vídeo de animação sobre o Almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva, da série Ciência Gera Desenvolvimento, um projeto da ABC criado em 2017.
Em seguida, a Acadêmica Maria Domingues Vargas e o Acadêmico Paulo Eduardo Artaxo Netto apresentaram os novos Acadêmicos. Os membros titulares empossados foram:
- Helena Judith Nussenzveig Lopes (Ciências Matemáticas)
Doutora em matemática pela Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA. Obteve resultados muito respeitados em um tema difícil, a interface entre análise matemática e dinâmica dos fluidos. Sua pesquisa cobre de aspectos experimentais a modelagem e confirmação teórica de alto nível. É ativíssima em uma rede internacional na qual desenvolveu sua própria pesquisa.
- Yoshiko Wakabayashi (Ciências Matemáticas)
Doutora em matemática aplicada pelo Universidade de Augusburg, na Alemanha. É professor titular do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de São Paulo (USP). Atua em otimização, algoritmos e teoria dos grafos. Seus primeiros trabalhos em otimização foram pioneiros, tanto do ponto de vista técnico como pelas aplicações estudadas – problemas de agrupamento/clustering, hoje considerados de natureza fundamental.
- José Soares de Andrade Júnior (Ciências Físicas)
Doutor em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC). Deu contribuições importantes na área de criação das redes complexas do tipo Apoloniana e Onion-like e no design ótimo de redes de transporte complexas. Suas pesquisas têm permitido a observação de leis de escala em eleições, o efeito benéfico do ruído em respiradores artificiais e a robustez de redes funcionais neuronais. Atua em áreas interdisciplinares e contribuiu na investigação da topologia, inércia e reologia no escoamento em meios porosos.
- Edson Roberto Leite (Ciências Químicas)
Doutor em ciência e engenharia de materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar), onde hoje é professor do Departamento de Química. É diretor científico do Laboratório Nacional de Nanotecnologia. Trabalhou na 3M do Brasil, onde se dedicou à pesquisa e desenvolvimento de produtos eletrônicos e de telecomunicações. Sua contribuição para o entendimento dos mecanismos de crescimentos não clássicos de nanomateriais e suas pesquisas em materiais para energia lhe garantiram um nível de citações elevado.
- Maysa Furlan (Ciências Químicas)
Doutorado em química orgânica pela Universidade de São Paulo (USP). Professora titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unifesp), é pioneira nos estudos de biossíntese de produtos naturais no país, base fundamental para as pesquisas em aspectos estruturais de biologia sintética aplicada ao estudo da biodiversidade brasileira.
- Ricardo Ivan Ferreira da Trindade (Ciências da Terra)
Doutor em geofísica pela Universidade de São Paulo (USP), onde é professor titular. Desenvolve pesquisas em magnetismo de rochas, anisotropia magnética, paleomagnetismo e arqueomagnetismo, com o objetivo de compreender períodos críticos da história da Terra, como a transição Precambriano-Cambriano e crises ambientais do Fanerozóico. Foi membro afiliado da ABC entre 2008 e 2012.
- Célio Fernando Baptista Haddad (Ciências Biológicas)
Doutorado em ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é professor da pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo (USP). Atuou significativamente na conservação de anfíbios ameaçadas de extinção, coordenando as duas últimas listas vermelhas brasileiras. Prêmio Jabuti de Literatura em 2014, na área de Ciências Naturais, pela autoria do livro “Guia dos Anfíbios da Mata Atlântica: Diversidade e Biologia”.
- Geraldo Wilson Afonso Fernandes (Ciências Biológicas)
Doutor em ecologia evolutiva pela Universidade do Nordeste do Arizona, EUA. É professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde formou uma escola de pensamento, com novas hipóteses e teorias na ecologia. Desenvolve pesquisas em biodiversidade, monitoramento ambiental, serviços ecossistêmicos, herbivoria, restauração ambiental, mudanças climáticas e ecologia de comunidades. É um grande interlocutor da ciência para a sociedade.
- Manoel Odorico de Moraes (Ciências Biomédicas)
Doutor em oncologia pela Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha. Professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde criou o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos. Destaca-se na pesquisa básica e clínica, na formação de recursos humanos e na pesquisa e inovação tecnológica na área de desenvolvimento de medicamentos.
- Marcelo Torres Bozza (Ciências Biomédicas)
Doutorado em biologia celular e molecular pela Fundação Oswaldo Cruz. É professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordenou a criação da pós-graduação em Imunologia e Inflamação. Reconhecido por suas contribuições sobre os mecanismos moleculares e celulares associados ao dano tecidual e resistência a patógenos.
- Niels Olsen Saraiva Câmara (Ciências Biomédicas)
Médico, professor titular da Universidade e São Paulo (USP), onde coordena o Laboratório de Imunologia Clínica e Experimental. Trabalha nesta área e também em nefrologia. Desenvolve pesquisas em transplante renal, modelos experimentais de doenças renais agudas e crônicas, lesão de isquemia e reperfusão, células reguladoras e células-tronco em doenças renais.
- Poli Mara Spritzer (Ciências da Saúde)
Doutora em endocrinologia pela Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP-RP). É professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com formação em fisiologia e em endocrinologia, tem experiência clínica, em liderança e coordenação de projetos, bem como em gestão e avaliação acadêmica. Contribuiu para a consolidação da endocrinologia feminina no país, com enfoque clínico e translacional. Atua na produção de protocolos clínicos baseados em evidências e na formação de pesquisadores.
- Marcia Maria Auxiliadora Naschenveng Pinheiro Margis (Ciências Agrárias)
Doutora em biologia molecular das plantas pelo Universidade de Strasbourg, França. Reconhecida pelos estudos das respostas de defesa dos vegetais, com foco no papel das espécies reativas de oxigênio. Contribuiu nos mecanismos antioxidantes em arroz, nos estudos das proteínas ASR, na regulação da expressão de genes de resposta ao alumínio, que são responsáveis pela tolerância das plantas de arroz a esse metal. É presidente da Sociedade Brasileira de Genética.
- Odir Antônio Dellagostin (Ciências Biomédicas)
Doutor em biologia molecular de microorganismos pela Universidade de Surrey, na Inglaterra. É professor titular da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), onde foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Atua principalmente no desenvolvimento de vacinas recombinantes, especialmente contra leptospirose. Atualmente é diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs).
- Armando Martins Leite da Silva (Ciências da Engenharia)
Doutor em engenharia elétrica e eletrônica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra. É professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É uma referência mundial na área de avaliação de riscos em sistemas de energia elétrica, confiabilidade e simulação Monte Carlo. Tem um histórico de contribuições inéditas de cunho teórico-conceitual publicadas em periódicos internacionais. É membro da Academia Nacional de Engenharia (ANE).
- Claudia Maria Bauzer Medeiros (Ciências da Engenharia)
Doutora em ciência da computação pela Universidade de Waterloo, Canadá. É professora titular da Universidade de Campinas (Unicamp). Desenvolve pesquisas em gerenciamento de dados científicos, em particular desafios associados à heterogeneidade, volume e complexidade desses dados, para vários tipos de aplicações multidisciplinares do mundo real, em particular em biodiversidade e planejamento agroambiental. É pioneira, na América Latina, em pesquisa em e-Science. Suas atividades envolvem interdisciplinaridade em pesquisa, inovação no ensino e criação de novos cursos, assim como intensa ação relacionada a políticas públicas em ciência e tecnologia.
- Eduardo Batalha Viveiros de Castro (Ciências Sociais)
Doutor em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é professor titular. Etnólogo americanista, com experiência de pesquisa na Amazônia. Produziu sínteses teóricas que levaram a etnologia americanista ao cerne das discussões antropológicas, com importantes reverberações na filosofia e nas artes contemporâneas. Sua teoria do perspectivismo ameríndio revolucionou a compreensão das sociedades indígenas, esclarecendo os fundamentos da representação ocidental da natureza e do humano.
- Roberto Kant de Lima (Ciências Sociais)
Doutor em antropologia pela Universidade de Harvard. É coordenador do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração de Conflitos e professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Difundiu práticas de produção de conhecimento científico comprometidas com o ensino, pesquisa e inovação. Tem experiência na área de teoria antropológica, com ênfase em método comparativo, antropologia do direito e da política, antropologia da pesca, processos de administração de conflitos e produção de verdades.
Os membros correspondentes empossados foram:
- Luis Angel Caffarelli (Ciências Matemáticas)
Matemático argentino, é professor da Universidade do Texas, Austin. É internacionalmente reconhecido como um dos mais eminentes matemáticos contemporâneos. Notabilizou-se por contribuições fundamentais à teoria de equações diferenciais parciais (EDPs) e suas inúmeras aplicações. Ao longo dos últimos 40 anos, revolucionou pilares estruturais de diversos campos de pesquisa, com especial ênfase a modelos matemáticos envolvendo transições de fases ou fronteiras livres. Em 2012 recebeu o Prêmio Wolf de Matemática.
- Michael Tran Clegg (Ciências Agrárias)
Geneticista de plantas norte-americano, é professor emérito de ecologia e biologia evolutiva da Universidade da Califórnia, Irvine. Trabalhou com colegas da Academia Brasileira de Ciências nos últimos 15 anos na promoção de cooperação científica entre os Estados Unidos e países da América Latina e Caribe, atuando como secretário do Exterior da Academia Nacional de Ciências (NAS) dos EUA e como codiretor da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas).
- Ricardo Baeza-Yates (Ciências da Engenharia)
Cientista da computação chileno-catalão, é atualmente CTO da NTENT, uma empresa de busca semântica no sul da Califórnia. Também é professor em tempo parcial da Northeastern University, no campus do Vale do Silício, onde é diretor de programas de ciência de dados de pós-graduação. Sua profunda liderança no desenvolvimento da ciência, tecnologia e educação em sua área de expertise caracteriza suas realizações. É um pesquisador de destaque em mineração e ciência de dados.
Foi feito então um minuto de silêncio em memória dos Acadêmicos falecidos em 2018.
A universidade pública precisa da nossa ação já
A Acadêmica Virgínia Sampaio Teixeira Ciminelli fez a saudação aos colegas recém empossados. Ela os cumprimentou, destacando que naquela noite especial estava-se homenageando “as obras notáveis, trajetórias exemplares e contribuições relevantes às diferentes áreas de conhecimento, aqui representando o caráter multidisciplinar e indissociável das ciências.”
Destacou, porém, que o ingresso na ABC é mais do que isso: traz também uma convocação e um convite a contribuir para a discussão de grandes temas e a atuação junto aos poderes constituídos, visando dar subsídios científicos para a formulação de políticas públicas. Diante das transformações cada vez mais aceleradas do mundo, é importante refletir sobre o papel da ciência e do cientista, de acordo com Virginia.
Ela afirmou que a ciência vem sendo crescentemente cobrada sobre seu compromisso na busca de soluções para os grandes desafios da humanidade e para as questões sociais mais próximas. “Mas o nosso desafio mais premente é a defesa do nosso sistema público de ensino e de pesquisa”, alertou a engenheira. Ela destacou que a crise atual se mostra diferente das anteriores, pois “se observa um esforço orquestrado, profissional, que conjuga as ferramentas de manipulação via mídia social com disseminação ampla de inverdades e imagens que não caracterizam a vida universitária, visando denegrir e enfraquecer as instituições públicas. A universidade pública precisa da nossa ação já.”
O Brasil precisa de liberdade real de pensamento
Em nome dos recém-empossados, falou o Acadêmico Eduardo Batalha Viveiros de Castro. Ele iniciou dizendo que, como antropólogo, aprendeu que falar em nome dos outros é sempre difícil e perigoso, pois acaba-se inevitavelmente falando em seu próprio nome. “Mas devo falar, chamar a atenção para o que está acontecendo agora, neste dia de hoje, nas ruas de centenas de cidades grandes, médias e pequenas pelo Brasil afora. Pois o que está acontecendo tem uma relação imediata com as condições de exercício de nossa atividade como educadores, cientistas e pesquisadores, e com a própria razão de ser da Academia Brasileira de Ciências.”
Ele referia-se às manifestações populares marcadas para aquele dia, 15 de maio, “contra o desmonte das políticas públicas para a educação, a ciência e a cultura de nosso país. Vamos assistindo, entre bastante perplexos, gravemente preocupados e veementemente indignados, a um ataque sem precedentes ao sistema educacional público brasileiro.”
Castro conclamou a ABC ao combate a essa situação, ao que chamou de “desprezo arrogante pelo conhecimento, pelo saber, pela formação de uma consciência crítica informada, pelo exercício de uma liberdade real de pensamento.”
O Brasil precisa de uma agenda nacional de desenvolvimento
O presidente da ABC, Luiz Davidovich, fez então sua colocação. Ressaltou logo de início que dos 18 novos membros empossados, 17 eram de universidades públicas e um da PUC-Rio. “Isso confirma a excelência da PUC-Rio. Confirma-se também a excelência, a força e a garra da universidade pública brasileira, grande patrimônio nacional.”
Davidovich chamou atenção para o processo de desindustrialização por que o país passou nos últimos 20 anos, embora tenha um potencial riquíssimo para crescer e se destacar economicamente no mundo. “Uma política econômica não se resume a uma planilha de receitas e gastos — ela deve estar articulada com uma agenda de desenvolvimento, que promova a ciência e dê ênfase às tecnologias”. Acrescentou que essa agenda deve envolver um projeto mobilizador multifacetado, que contemple a educação de qualidade em todos os níveis e uma reestruturação do perfil industrial do país.
Segundo o físico, o país tem os instrumentos importantes para estruturar essa agenda de desenvolvimento. “Cientistas que somos, estamos dispostos a colaborar com essa agenda, sem abandonar nossa paixão pelo conhecimento. A história da humanidade mostra que essa paixão, devido a uma sutil peculiaridade da evolução da espécie humana, serve à humanidade, está na origem de grandes revoluções científicas, que modificam nosso cotidiano, nossos hábitos e costumes”, apontou.
O presidente da ABC afirmou que esse é o caminho para um futuro próspero, que aumente a qualidade de vida da população brasileira. O caminho para um país menos desigual, “que permita evitar o desperdício de cérebros e incorporar sua população em uma sociedade 4.0, uma sociedade ilustrada, inclusiva, democrática e produtiva. Essa é a visão que norteia nossos passos.”
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