“Diversidade biológica e democracia têm muito em comum. Ambas supõem que o equilíbrio depende da convivência entre diferentes, que se complementam”, comenta a Acadêmica Vanderlan Bolzani, professora titular do IQAr-Unesp, vice-presidente da SBPC e Aciesp

Diversidade é a base do equilíbrio da vida no planeta terra.  O processo evolutivo se deu com uma fantástica explosão de organismos distintos, desde os mais singelos até a complexidade humana, constituindo-se hoje, o que se denomina biodiversidade terrestre. Todos os organismos, sejam animais, plantas, insetos, microrganismos, possuem papéis importantes para o equilíbrio dessa diversidade que chamamos de natureza. A função de cada espécie é primordial para a existência e equilíbrio das outras no contexto de ecossistema, ambiente, espaço e de universo. Quando o equilíbrio natural da vida na terra é ameaçado, ou sofre alteração provocada pelas espécies que o compõem, a sobrevivência deste conjunto de vida fica ameaçada. Interrompido pelo rearranjo inteligente natural, todos ficam prejudicados, sendo a espécie humana também afetada. Desta forma, todos os animais possuem papéis importantes para o equilíbrio da natureza que se formou ao longo de milhões de anos, resultando numa explosão de milhares de vidas tão distintas de formas, de tamanhos, de cores, de complexidade e de especificidade. Entender a diversidade da vida é condição essencial para a harmonia humana e para o que almejamos enquanto humanos. Neste processo dinâmico e fantástico, nós brasileiros, que habitamos um país continental, singular pela sua enorme diversidade, temos uma grande missão – a de manutenção dessa diversidade local e do planeta de forma harmônica. Sem esquecer que o desequilíbrio imposto, implacavelmente se rebela e nos desagrega levando a um custo enorme. E aqui chegamos onde acredito, a analogia diversidade/democracia é bastante íntima. É possível encontrar na democracia, a forma mais racional e sofisticada de convivência que o homem construiu ao longo de sua evolução – explosão de diversidade em equilíbrio harmônico.

Neste momento decisivo para o país e seu equilíbrio, dentro do preceito maior da essência da vida na terra, fica uma reflexão para todos os brasileiros que têm noção do equilíbrio de tal diversidade: não podemos pactuar com o autoritarismo e as tendências fascistas que surgem como fantasma em todo o mundo e nos ameaçam neste momento. Foi com o envolvimento de muitos políticos, intelectuais, inúmeros grupos sociais, empresários, trabalhadores, estudantes, entre outros, que construímos a nossa democracia. Achando que era robusta e consolidada, nem percebemos que os tentáculos do conservadorismo que assola o mundo também se erguem aqui, dentro dos mais diversos seguimentos sociais. Brasileiros, deixamos de ser um país cujas manchetes no mundo nos deixavam deveras chateados e passamos a ser um país respeitado por surgir como a 8a economia do mundo. Pelas fontes renováveis de energia, pelos avanços científicos em várias áreas que nos projetam no mundo desenvolvido, onde somos a toda hora convidados para nos manifestar sobre nossa educação e os avanços alcançados pela ciência, tecnologia e inovação. Se temos hoje um avanço tecnológico fundado no conhecimento científico e tecnológico que são as armas mais preciosas alcançados pelo homem moderno, isto se deveu ao compromisso do estado com a educação, ciência e tecnologia. Este tripé está intimamente relacionado aos ganhos na economia e melhoria da qualidade de vida de grande contingente de nossa sociedade, ainda tão imperfeita. E tudo isto teve uma substancial mudança com a base democrática construída após os anos difíceis da ditadura militar.

Diversidade biológica e democracia, por essa ótica, têm muito em comum. Ambas supõem que o equilíbrio depende da convivência entre diferentes, que se complementam. Com este texto tentei mostrar como o modelo natural de evolução da vida na terra é importante e inspirador para toda a sociedade brasileira.

Sobre autora:

Vanderlan Bolzani é professora titular do IQAr-Unesp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e vice-presidente da SBPC e da Aciesp.