O evento Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados 2018-2022 da ABC Região Norte foi realizado no dia 28 de setembro, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Os diplomados foram a biomédica do Instituto Evandro Chagas (IEC), Daniele Barbosa de Almeida Medeiros; a bióloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Juliana Schietti de Almeida; o biólogo do Instituto de Tecnologia Vale (ITV), Rodolfo Jaffé Ribbi e o bioinformata da UFPA Rommel Thiago Jucá Ramos.
A mesa de abertura foi composta pelo vice-presidente da ABC Regional Norte, Roberto Dall’Agnol; o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFPA, Rômulo Angélica; e o assessor técnico da ABC Marcos Cortesão, representando o presidente da ABC, Luiz Davidovich, impedido de comparecer.
Dall’Agnol saudou os novos membros afiliados e apresentou os Acadêmicos convidados a proferir palestras especiais, Christopher Wood, novo membro correspondente eleito em 2018, e Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que foi membro correspondente da ABC entre 1994 e 2018, quando tornou-se membro titular.
Ele iniciou a sessão homenageando o recém falecido Acadêmico Horácio Schneider e lamentando profundamente essa grande perda para a UFPA e para a ciência brasileira. Dirigindo-se aos novos membros, destacou que eles têm tido papel importante na dinamização da Academia desde que a categoria foi criada em 2007, para jovens pesquisadores de excelência, com menos de 40 anos, que ficam afiliados à Academia por cinco anos. “Foi uma iniciativa muito bem-sucedida do presidente anterior, Jacob Palis, que recruta jovens de excelência em todas as regiões do Brasil para integrar essa ‘elite’ intelectual que é o corpo de membros da ABC. Sejam bem-vindos, vocês são o futuro da ciência no país.”
O pró-reitor Rômulo Angélica manifestou sua alegria em receber evento tão importante na UFPA, reiterando os cumprimentos e as boas vindas aos membros afiliados eleitos para o período de 2018 a 2022. Ressaltou que o contraponto a essa alegria foi a lamentável perda do grande pesquisador da Amazônia e Acadêmico Horácio Schneider, que ocupou cargos de reitor, pró-reitor e diversos outros na UFPA. “Ele teve uma carreira brilhante. Era admirável seu compromisso com a Amazônia e com a ciência brasileira. Criou o campus da UFPA em Bragança e criou o primeiro programa de pós-graduação da Universidade no interior do estado. Deixou um grande legado e estará sempre conosco.”
Seguiram-se as palestras especiais.
Lições em fisiologia, toxicologia e mentoria na Amazônia
Christopher Wood é professor e pesquisador da University of British Columbia, em Vancouver, e na McMaster University, em Hamilton, ambas no Canadá. Tem colaborações na University of Miami e no Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), com o Acadêmico Adalberto Val, na área de ictiologia, estudando os peixes da Amazônia.
Ele ressalta que o rio Negro concentra 8% das espécies de peixes de água doce do mundo. Wood estuda, especificamente, a respiração do jeju e da traíra, que tem sistemas diferentes. Seu interesse é nos motivos pelos quais os peixes de água doce da Amazônia sobrevivem em águas com pH tão baixo que mataria qualquer espécie do hemisfério Norte.
Segundo o Acadêmico, pesquisas indicam que o carbono orgânico dissolvido na água protege os zebrafish e outros peixes dos distúrbios ionoregulatórios causados pela exposição a pH baixo. O mesmo mecanismo os protege do efeito tóxico de metais.
Nas áreas de fisiologia básica de peixes e toxicologia aquática com metais, amônia e mudanças globais, assim como manejo e regulações ambientais, Wood já orientou até agora 42 mestrados, 28 doutorados e 54 pós-doutorados.
Ele considera a formação de recursos humanos um dos aspectos mais interessante da carreira de pesquisador. “É onde a postura do orientador faz a diferença”, ressaltou.
Wood listou alguns itens fundamentais que, a seu ver, caracterizam uma boa mentoria. Salientou a importância de estimular os alunos através do encorajamento e não de críticas; encorajá-los a terem suas próprias ideias e trabalhar com independência; lidar bem com os erros dos estudantes; manter reuniões regulares no laboratório; encorajar colaborações e networking; incentivar os alunos a participarem de congressos, a fazer saídas de campo e visitar outros laboratórios; compartilhar suas boas ideias; ler e corrigir textos em tempo razoável; ajudar os alunos a escrever, se necessário; avisar os alunos de boas oportunidades, como bolsas de estudos, empregos e colaborações; e continuar se preocupando com os interesses de seus alunos mesmo depois que eles saíram do laboratório, dando cartas de referência, avisando sobre editais, indicando para prêmios.
Mudanças climáticas e mudanças do uso da terra na Amazônia brasileira
Philip Fearnside coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Serviços Ambientais da Amazônia (Servamb). Sua pesquisa gira em torno dos riscos, valores e conservação da biodiversidade nas florestas Amazônicas brasileiras, e sobre a manutenção florestal amazônica como fonte de serviços ambientais. Ele mantém uma coluna de divulgação científica no site Amazônia Real.
Fearnside comentou sobre o negacionismo, ou seja, a atitude de recusar a existência das mudanças climáticas e seus efeitos, que leva um líder como Trump, por exemplo, a tirar os EUA do Acordo de Paris e leva os ruralistas brasileiros pelo mesmo caminho.
No Brasil, segundo o palestrante, em 2015 o então ministro da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável Mangabeira Unger demitiu os membros do quadro técnico da pasta, nove meses antes da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) de Paris. Ertam eles Sergio Margulis e Natalie Unterstell, que coordenavam o maior estudo já feito no país sobre adaptação a mudanças climáticas. Batizado de “Brasil 2040”, o trabalho tinha como objetivo embasar políticas públicas de adaptação nos setores de energia, infraestrutura, agricultura e recursos hídricos. “Em torno de dez grupos de pesquisa do país trabalhavam nele. A análise deveria ficar pronta ainda em 2015 e traria más notícias sobre o impacto das mudanças climáticas na expansão do parque hidrelétrico brasileiro”, destacou Fearnside. ]Acentuando o quadro negativo, diversas ameaças ao licenciamento ambiental vêm se repetindo, como a PLS 654/2015 e a Lei 13.334/2016, de acordo com o palestrante, assim como ameaças às terras em reservas indígenas.
O Acadêmico apresentou diversas imagens de desmatamento, queimadas e incêndios na floresta em função da seca. “Este é um fenômeno climático que tende a se acentuar nas próximas décadas, devido ao aquecimento global, caso as emissões de gases estufa continuem sem limitações”, alertou Fearnside. O pesquisador destacou que a destruição da floresta está intimamente ligada ao aumento das plantações de soja e da valorização do boi gordo. “E também da instalação de usinas hidrelétricas, que causam fortes impactos, extremamente prejudiciais ao ambiente”, observou.
Após as palestras especiais, vieram as palestras dos novos membros que apresentaram suas pesquisas e procedeu-se a cerimônia de diplomação. Veja a galeria de fotos:
.O evento foi concluído com uma mesa-redonda sobre Mulheres na Ciência, com a participação das afiliadas da ABC Fernanda de Pinho Werneck (INPA) e Joyce Kelly do Rosário da Silva (UFPA), assim como da ex-afiliada da ABC Ândrea Kely Campos Ribeiro dos Santos (UFPA) e da pesquisadora do ITV Vera Lúcia Imperatriz da Fonseca (em breve aqui no site).
Conheça os novos membros afiliados da ABC da Região Norte nas matérias abaixo.
Aceitando os desafios de descobrir o novo
Formada em biomedicina e atuando no Instituto Evandro Chagas, a nova afiliada da ABC Daniele Barbosa se dedica ao estudo da arbovirologia na saúde pública.
Pesquisando em harmonia com a natureza
Eleita membro afiliada da ABC Norte para o período de 2018 a 2022, a bióloga Juliana Schietti, do INPA, pesquisa as relações das plantas com o ambiente e os seres humanos.
Pesquisando a genética das paisagens do mundo
Novo afiliado da Regional Norte da ABC, o biólogo do ITV Rodolfo Jaffé mistura genética de populações e ecologia da paisagem em seu trabalho de pesquisa.
Transformando a biologia em dados computacionais
Novo membro afiliado da ABC, o engenheiro da computação da UFPA Rommel Ramos combina dados biológicos e ferramentas computacionais em seu trabalho como pesquisador.