Afiliada da ABC, Fernanda Werneck (à esquerda), participa na Sessão “Jovens Mulheres do BRICS no Diálogo Científico”

Entre 24 e 29 de junho de 2018, em Durban, África do Sul, foi realizado o 3° Fórum de Jovens Cientistas do BRICS (3rd BRICS Young Scientist Forum, em inglês). O evento, que acontece anualmente, promove o intercâmbio de ideias e a conexão entre cientistas jovens dos países membros – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul –, a fim de buscar soluções para desafios sociais comuns por meio da pesquisa e inovação.

A delegação brasileira foi composta por nove cientistas, dos quais sete foram selecionados pela ABC. Foram eles: Adriano Veloso (UFMG), Fernanda Werneck (Inpa), Frederico Kronemberger (UFRJ), João Paulo Bassin (UFRJ), Leonardo Fontes (UERJ), Rafael Mendonça Duarte (Unesp) e Simony Moura (UFPE).

No dia 25 de junho, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa) e representante do grupo brasileiro, Fernanda de Pinho Werneck, que também é Membro Afiliado da ABC, fez um discurso de boas-vindas e de apresentação da delegação.

No mesmo dia, Fernanda também atuou como debatedora principal na Sessão “Jovens Mulheres do BRICS no Diálogo Científico”. Na ocasião, foi debatido o viés de gênero no mundo da ciência, tendo sido destacada a importância da promoção e valorização da presença da mulher no espaço científico dos países do BRICS. “A sessão contou com participação ampla dos delegados de todos os países, homens e mulheres, o que contribuiu para o debate ser rico e completo”, declarou Werneck. Após o fim da sessão, os participantes se comprometeram a redigir um artigo sobre a trajetória e os desafios da carreira científica para mulheres dos países membros.

Ainda no dia 25, aconteceu o Prêmio Jovem Inovador do BRICS, que contou com dez concorrentes, sendo dois pesquisadores de cada país. Simony Cesar Ramos, selecionada em um processo conduzido pela ABC e pela Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), apresentou o Aplicativo Nina, uma tecnologia que rastreia casos de assédio na mobilidade urbana. “Depois que fiz a apresentação, muitos pesquisadores vieram até mim para saber mais informações sobre a tecnologia Nina e planos de expansão”, disse Simony, que é estudante de Comunicação Social (Propaganda e Marketing) na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Sigo em comunicação paralela com uma pesquisadora russa e outra indiana para a possibilidade de um eventual trabalho usando o Nina. E com dois pesquisadores sul-africanos com troca de estudos sobre a violência contra a comunidade LGBT+ em espaços públicos”, completou. O grande ganhador foi o outro concorrente brasileiro, Raphael Machado Pizzi, que apresentou o Projeto Agrosmart e recebeu o prêmio no valor de 25 mil dólares.

No dia 26 de junho, ocorreram três sessões temáticas paralelas com participação dos cientistas brasileiros. Frederico Kronemberger, professor do programa de Engenharia Química da Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), integrou a sessão sobre Energia, que foi intitulada “Imperativos Energéticos do Presente e do Futuro das Economias BRICS”. Nela, Kronemberger apresentou o que considerou ser essencial com relação aos estudos relacionados à energia no Brasil, focando nas áreas das energias limpas e renováveis, como a eólica e o etanol. “Precisamos de maiores investimentos em pesquisa avançada para que as pesquisas não se restrinjam à publicação de artigos científicos, mas que resultem, também, em tecnologia utilizada em larga escala”, disse o pesquisador.

Na sessão sobre Água, chamada “Gestão Estratégica e Conservação de Recursos Hídricos do BRICS no Contexto das Mudanças Climáticas Globais”, participaram João Paulo Bassin, professor do Programa de Engenharia Química da Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), e Rafael Mendonça Duarte, professor do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Os dois cientistas apresentaram um panorama geral dos recursos hídricos no Brasil, abordando temas como os desafios da área, a importância de programas de monitoramento e manejo e como as mudanças climáticas alteram espacial e temporalmente a disponibilidade e distribuição desses recursos nas diferentes regiões do país. Por fim, os representantes dos países do BRICS escreveram um documento capaz de passar aos tomadores de decisão e ao público geral a percepção dos jovens cientistas acerca do tema.

Na sessão sobre Ciências Sociais, intitulada “Impactos e Desafios das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação na Identidade e nas Escolhas Socioculturais da Juventude”, que teve como conferencista principal Leonardo Fontes, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Para iniciar o debate, Fontes apresentou como as tecnologias de comunicação e informação têm impactado as dinâmicas sociais e culturais. “A maior parte das perguntas girou em torno da regulação da internet no Brasil. Ressaltei a importância do Marco Civil da Internet, aprovado no Brasil após amplo debate e consulta pública, e falei sobre a ausência de políticas de censura ou controle do conteúdo na rede”, relatou Fontes. Adriano Veloso, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-Membro Afiliado da ABC, também participaria desta sessão, mas não pôde estar presente ao Fórum em decorrência de imprevistos na logística.

No dia 27, a sessão chamada “Seminário sobre Diplomacia Científica, Assessoramento e Comunicação” também contou com a participação de Leonardo Fontes como um dos debatedores. Em sua apresentação, Fontes fez um balanço crítico do Programa Ciência Sem Fronteiras, apontando três questões principais que deveriam ser reavaliadas caso venha a ser retomado: alta concentração de bolsas para o nível de graduação, ausência de bolsas para as áreas de ciências humanas, e o baixo número de estudantes que realizaram intercâmbio em países que são parte do BRICS. “A busca de intercâmbios e cooperações internacionais com países dos BRICS pode contribuir para a elaboração de pesquisas científicas focadas em problemas e questões comuns aos países do grupo”, acredita o pesquisador. “A cooperação científica em áreas estratégicas, com linhas específicas de financiamento para essa cooperação, pode ampliar a troca de experiências e facilitar o encontro de soluções comuns entre os países”, completou.

Já no dia 29, Rafael Duarte representou a delegação brasileira no encerramento do Fórum. Ele destacou que esta foi uma experiência única para os jovens cientistas brasileiros presentes e agradeceu a hospitalidade e o empenho dos sul-africanos. Em 2019, o Brasil receberá as atividades dos BRICS e se tornará responsável por conduzir discussões acerca do novo plano de trabalho para 2019-2023, por renovar o Memorando de Entendimento e por organizar e sediar o 4° Fórum de Jovens Cientistas e também a 7° Reunião de Ministros de CT&I dos BRICS.