materia_kazuhiro.pngKazuhiro Kosuge é especialista em engenharia mecânica e professor do Departamento de Bioengenharia e Robótica da Universidade de Tohoku, no Japão. Ele se dedica à área há 30 anos e veio ao Brasil para a Reunião Magna 2018, evento anual organizado pela ABC. Veja à entrevista concedida a Paulo Assada, do O Globo.

Conte algo que não sei.

O perigo que os robôs representam para algumas pessoas é coisa de ficção científica, histórias criadas por gente sem experiência profissional no campo. A inteligência artificial tem grande potencial, mas não é perfeita. Ela pode resolver apenas alguns problemas. Tarefas que envolvem julgamentos complexos, por exemplo, não podem ser feitas por robôs.

Quais os problemas éticos que emergem do uso dessa tecnologia?

Robôs com inteligência artificial sofisticada poderiam dar origem a dilemas éticos. Porém, ainda não nos deparamos com nada disso. Ainda. Construir um robô com as mesmas funções e capacidades de um humano não é algo realista. Pensando apenas no momento em que vivemos — e sendo bem realista — acredito que deveria ser proibido o uso dessa tecnologia como arma.

Existe necessidade de se pensar leis específicas para robôs?

Para aqueles que tenham finalidades bélicas, sim, será necessário criar uma legislação internacional específica. No entanto, em relação aos que podem operar em nosso cotidiano, é cedo demais para pensar em qualquer medida nesse sentido. Eles, primeiro, têm que se tornar realidade para, depois, avaliarmos. Não podemos pôr obstáculos antes mesmo que eles existam.

Em que a pesquisa que o senhor faz pode contribuir para a Humanidade?

O Japão é um país de idosos. O envelhecimento da população também deve acontecer em outras nações, inclusive no próprio Brasil. Nós, definitivamente, vamos precisar da ajuda de robôs nessas sociedades do futuro. Atualmente, estamos focando apenas na utilização dessa tecnologia voltada para o setor industrial. Mas o nosso dia a dia pode vir a contar com robôs. Eles podem possibilitar que as pessoas aproveitem melhor a vida. Um idoso, por exemplo, não vai precisar de um cuidador o tempo todo a seu lado. Isso é algo que pretendo fazer: criar um robô que possibilite viver a vida de forma independente o máximo que puder.

Mas a contrapartida dessa proliferação de autômatos não pode ser o aumento do desemprego?

Pensando no curto prazo, isso poderia, sim, acontecer. Mas, se as empresas e os governos não passarem a usar robôs, eles não conseguirão sobreviver. Eventualmente, perderíamos nossos trabalhos de qualquer forma, ou teríamos que pagar impostos cada vez maiores. É necessário encontrar a melhor maneira de usar inteligência artificial a nosso favor. Acredito que vamos conseguir solucionar essas questões.

Quais lições o senhor aprendeu ao pesquisar tanto tempo esse assunto?

Para trabalharmos a interação entre humanos e robôs, precisamos entender, primeiro, as interações de humanos com outros humanos. Portanto, para desenvolvermos esse tipo de trabalho é preciso entender melhor a nós mesmos.

Quais as dificuldades no desenvolvimento de tecnologias baseadas na interação humanos-robôs?

Temos ainda muitos desafios. Em relação à interação física, precisamos desenvolver robôs com uma pele que seja próxima à nossa e movimentos igualmente similares aos dos humanos. Há também a necessidade de que seja desenvolvido um modelo de inteligência artificial dotado de sistema sensitivo amplo. Nós mesmos temos diversas reações que não precisam de qualquer ato consciente para ocorrerem.